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O desperdício no país da fartura


Amado de Olveira Filho

            Que o agronegócio é o negócio do Brasil todo mundo sabe, que temos capacidade instalada para produzir o alimento que as nações precisam todo mundo também sabe, que geramos empregos, renda, divisas é outra verdade. Porém, temos uma marca que mancha e que vem diminuindo o brilho deste sucesso – O Brasil apresenta altíssimos níveis de perda e desperdício de alimentos, ao longo das cadeias produtivas.

            Os dados sobre o desperdício global de alimentos no Brasil, entretanto, dificultam a compreensão deste grave problema, considerando que as pesquisas são pontuais e específicas e terminam por gerar divergências nos números. Estas divergências devem ser creditadas às diferentes metodologias utilizadas e áreas pesquisadas. Recentemente uma delas realizada pelo Instituto Ethos discute em profundidade este problema.

            Segundo  a pesquisa, no ano de 2000,  as perdas de arroz, feijão, milho, soja e trigo, portanto, produtos de consumo interno e commodities exportáveis, num cenário "conservador" alcançaram um total de perdas estimado em 11,3 milhões de toneladas de grãos. Já num cenário "crítico" a quantidade perdida se situou em 15,8 milhões de toneladas, o que representa, em relação à produção total desses grãos, volumes situados entre 14,8% e 20,7% da produção brasileira. Logo, se trabalharmos com a média dos dois cenários para uma produção estimada em 121 milhões de toneladas na safra a ser colhida em 2007 terá uma perda total de aproximadamente 21 milhões de toneladas.

            Apenas com as perdas estimadas no ano de 2000, o total de calorias perdidas com o desperdício de grãos seria suficiente para alimentar 51,2 milhões pessoas no cenário conservador, ou 71,3 milhões de pessoas  no cenário crítico. Os valores financeiros perdidos pelos produtores rurais e armazenadores chegaram a um montante de US$ 1,7 bilhão e 2,4 bilhões, cifras que se elevam para US$ 6,8 bilhões e US$ 9,6 bilhões nas fases de pré-processamento e processamento.

            As perdas estão em toda a extensão da cadeia do agronegócio. No caso do segmento transporte as perdas são visíveis, as margens de nossas rodovias a cada safra agrícola, ficam forradas de soja, milho e caroço de algodão, gerando inclusive, sérios problemas de sanidade considerando que, parte deste desperdício chega a germinar, ficando suscetível a toda ordem de doenças, especialmente o algodão pela sua característica cultural.

            Já na lavoura, também verificamos perdas exageradas. Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), no ano de 2004 a média de grãos deixados nas lavouras de soja no país, por problemas de gestão dos produtores, chegaram  a 2 sacas ou 120 quilos por hectare, quando o máximo aceitável é de 45 quilos (0,75 saca) por hectare.

            Esta é uma realidade que precisa ser discutida com toda a sociedade envolvida e precisa contar com a participação dos governos, não podemos aceitar chegar ao impressionante número de que jogamos fora mais alimentos do que consumimos. Isto tudo num país de famintos que dependem de programas como o Fome Zero!

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