CI

O Brasil atual no Mercosul: algumas explicações



Argemiro Luís Brum
Não é de hoje que os brasileiros preocupados com o desenvolvimento do país estranham as diferentes posições “facilitadoras”, para dizer o mínimo, que os governos do Brasil vêm adotando, nestes últimos 10 anos, em relação aos seus parceiros do Mercosul. Além dos casos de nacionalização de empresas brasileiras, inclusive a Petrobrás, na Bolívia, temos as constantes barreiras comerciais da Argentina, rompendo os acordos de livre-comércio estabelecidos no seio do bloco, com enormes prejuízos econômicos e na geração de empregos, em especial no Rio Grande do Sul.


Temos igualmente o posicionamento ameno em relação as diatribes do presidente Chavez da Venezuela, e as amáveis “entregas” de bondades até pouco tempo junto ao ex-presidente Lugo do Paraguai (o caso de Itaipu é emblemático nesse sentido). Sem falar nas aproximações perigosas com países que não cultivam exatamente a democracia, caso do Irã e outras nações do Oriente Médio. Aqui na América do Sul em particular, o ex-ministro das Relações Exteriores do Brasil, Luiz Felipe Lampréia, em recente debate televisivo no Brasil, assinalou muito bem o porquê de isso tudo estar acontecendo, a ponto da ideologia partidária se sobrepor aos interesses nacionais do povo brasileiro, prejudicando as relações comerciais do país em favor dos outros países vizinhos.

A questão toda começou em julho de 1990 quando se realizou o Fórum de São Paulo, por iniciativa do Partido dos Trabalhadores, do Brasil. Na oportunidade, as chamadas esquerdas mais radicais estabeleceram uma estratégia de conquistar o poder nas diferentes nações sul-americanas visando conter o avanço do neoliberalismo e sua proposta de livre-comércio, que avançava mundo afora.

O Brasil atual no Mercosul: algumas explicações (II)

Hoje, o Fórum conta com 60 partidos de esquerda da América Latina e do Caribe e, desde este último 04 de julho, realiza sua 18ª reunião, desta feita na Venezuela. Nesse contexto, após ter conquistado democraticamente o poder no Brasil, o PT, em administrando a maior economia regional e uma das maiores do mundo na atualidade, se posicionou como líder do movimento. A presença de Marco Aurélio Garcia como assessor direto para assuntos internacionais junto à presidência da República não é por acaso.


Assim, na medida em que os ditos governos de “esquerda” vão afundando economicamente suas nações, pela via do populismo desenfreado, como se vê na Argentina, Bolívia, Venezuela e Paraguai, o Brasil sai em socorro de seus pares, mesmo ao risco de comprometer, como tem seguidamente feito, os interesses nacionais. A recente “rasteira” dada sobre o novo governo paraguaio, eliminando-o da última rodada do Mercosul, realizada em Mendoza (Argentina), onde até pôster de Hugo Chavez foi exaltado e largamente aplaudido pela maioria dos presentes, inclusive pela nossa presidente Dilma (apenas o presidente Mujica, do Uruguai, não aplaudiu), e colocando intempestivamente a Venezuela no bloco a partir de 31/07/2012, é lapidar. O Paraguai tem se posicionado, inclusive durante a presidência de Lugo, por razões econômicas em especial, contra o ingresso da Venezuela no Mercosul.

O Uruguai também era contra a entrada, em especial nesse momento, diante da ausência do Paraguai na reunião (isso explica porque Mujica não aplaudiu a exaltação do pôster de Chavez, no contexto do momento demagógico da reunião realizada na Argentina).

O Brasil atual no Mercosul: algumas explicações (III)

Dito de outra forma, a estratégia de poder estabelecida lá em 1990 começa a fazer água na maioria dos países por absoluta incompetência gerencial dos governantes que assumiram o poder na esteira desse processo. Diante disso, o Brasil tem procurado defender a qualquer custo a sobrevivência do projeto, apoiando, na medida do possível, seus parceiros políticos, mesmo a um custo estrutural significativo aos seus cidadãos, onde se inclui o quase aniquilamento do Mercosul como bloco econômico forte para fazer frente ao novo mundo globalizado que se instalou a partir de meados dos anos de 1980.


A reação contra a proposta da ALCA, no início dos anos 2000, sem um debate técnico de fundo, pode ser colocada igualmente nessa linha. Se o neoliberalismo na sua essência pura, que procura deixar tudo nas mãos do mercado, já provou sua ineficiência no que diz respeito à geração de um real desenvolvimento aos cidadãos, muito menos estratégias ideológicas de poder que assistimos na América do Sul nesses últimos 20 anos em particular e, aqui sintetizadas, são o caminho. Pelo contrário, essas últimas somente conseguiram sobreviver economicamente quando souberam se aproveitar dos benefícios dos planos econômicos postos em prática por seus sucessores, até então acusados interesseiramente de neoliberais. O Brasil desses últimos 10 anos, aliás, é o caso mais emblemático nesse sentido.

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.