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O avestruz na gestão empresarial - Autopoiese e outras semelhanças


Eleri Hamer

O avestruz é uma ave que tem alguns hábitos bem interessantes. Embora seja pura lenda, um desses hábitos atribuídos a ela é o fato de que cada vez que percebe algum perigo, se esconde, colocando a cabeça num buraco, esperando que a situação melhore para retomar o seu rumo.

Não é somente esta semelhança, há muitas outras, inclusive virtudes, mas no ambiente empresarial alguns empresários tem a péssima rotina de também em momentos de incerteza ou dificuldade, se esquivarem. Ao invés de reagir à esses momentos com melhores práticas de gestão acabam esperando que o acaso resolva a situação.

Na gestão dos negócios é comum enfrentarmos altos e baixos de rentabilidade, momentos de escassez e de fartura. Nos momentos de fartura o gerenciamento profissionalizado normalmente é relegado a um segundo plano, dando ênfase ao feeling. E quando os momentos são de intempéries, alguns fogem da verdade imprópria, evitando ao máximo buscar ajuda ou procurando culpados, ao invés de enfrentar a situação de frente.

Na minha prática de consultoria e treinamento executivo já encontrei diversos comportamentos que colaboram com essa metáfora. Eles obviamente se intensificam em momentos de dificuldade financeira ou até econômica.

Os depoimentos são diversos e mostram as diferentes maneiras de enfrentar as mesmas situações: "não quero nem ver, é melhor não saber o rombo...", "a culpa é do...estava indo tão bem...", "...estou em apuros, e não sei quando vou sair", "estou em apuros, mas vou sair em...", ,se eu não tivesse ido com tanta sede ao pote estaria bem (esse é raro)...", "...quase entrei em apuros. Ainda bem que me preveni..." E tem uma clássica: "se me emprestassem mais dinheiro...".

Maturana e Varela, dois biólogos chilenos que desenvolveram a tese da autopoiese nos brindaram com uma interpretação interessante de como os empresários e as empresas copiam ou se adaptam imitando os animais.

Os animais, inclusive os humanos, têm uma espécie de monitor cerebral que faz a checagem de como os nossos sentidos e funções (audição, tato, visão, paladar, cheiro, sistemas respiratório, hormonal, imunológico, dentre outros) estão desempenhando as suas funções.

É sabido que no momento em que num deles ocorre uma disfunção (na visão por exemplo), o organismo se adapta rapidamente, dando, digamos assim, poderes adicionais para algum dos demais, com o propósito de compensar a falta daquele.

Isso permite por exemplo, que mesmo sem enxergar um animal possui capacidades de interpretar com relativa coerência o que ocorre ao seu redor, pois os demais sentidos tendem a se desenvolver com maior intensidade, dando maior capacidade para a audição, o tato e até mesmo o paladar e o cheiro, o sistema respiratório aumenta a sua atividade, sempre na ânsia de melhorar o estado do corpo inteiro.

A autopoiese propõe que as organizações empresariais se assemelham com os animais no comportamento corporativo. Ou seja, as empresas também possuem em sua estrutura de funcionamento várias áreas ou departamentos. Cada um deles é responsável por parte do que ocorre na organização e ao final contribuem para que a empresa como um todo, tenha um bom desempenho.

É importante analisar como as empresas estão organizadas e de como ocorre a relação entre as pessoas e suas diferentes funções. Por exemplo, muitas vezes temos a impressão de que uma determinada pessoa é praticamente insubstituível na sua função. Isso é um importante alerta de que alguma coisa na gestão dessa empresa não anda lá muito bem. Sinal de que os conhecimentos e as necessidades daquele setor são conhecidos somente por uma pessoa e na possível ausência desta, os demais departamentos da organização terão sérias dificuldades para supri-la. Em suma, o conhecimento é individual e não organizacional.

Práticas de socialização do conhecimento como troca de informações físicas e virtuais, reuniões e até rodízio de funções, dentre muitos outros, são muito importantes para que tornemos a organização autopiética e não tenhamos medo de enfrentar as situações adversas. Pelo contrário, estejamos preparados quando elas surgirem para não tomar o impulso de imitar o avestruz também.

Grandes percepções e uma boa semana à todos.

Eleri Hamer é Mestre em Agronegócios, Professor de Graduação e Pós-Graduação do CESUR, desenvolve Palestras, Educação Executiva e Consultorias em Gestão Empresarial e Agronegócio. Home-page: www.elerihamer.com.br E-mail: [email protected]

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