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O agronegócio na próxima década – Urbanização, Renda e Consumo de Alimentos


Eleri Hamer

Dentre os aspectos relevantes dos documentos mencionados no artigo anterior a serem discutidos neste artigo e que influenciarão significativamente o desenho do agronegócio mundial, de nosso país e região, estão o crescimento e a distribuição populacional, a urbanização, renda e consumo de alimentos. Outros aspectos serão abordados nos artigos subseqüentes.

Particularmente no caso brasileiro, segundo dados da SECEX e MAPA, a balança comercial do país alcançou um superávit de US$ 46 bilhões e somente o agronegócio estabeleceu um superávit acima de US$ 42 bilhões em 2006, o que representa mais de 90% do todo. Neste sentido somente, já é suficientemente importante que possamos reconhecer e antecipar ações principalmente sobre a realidade projetada da demanda.

Dessa maneira a projeção da relação entre a população rural e urbana tende a ser extremamente importante. Atualmente a população mundial está em cerca de 6,6 bilhões e a taxa de crescimento vem caindo desde o início da década de 60, embora o crescimento populacional absoluto não tenha precedentes na história da humanidade. Dessa população, 50% são urbanas e 50% são rurais. Para 2030 a expectativa da ONU é que tenhamos algo em torno de 8 bilhões de habitantes e desse total cerca de 60% estarão residindo na zona urbana.

O incremento populacional nos próximos 24 anos está em torno de 1,5 bilhões de pessoas e somado ao fato da urbanização acelerada, notadamente nos países em desenvolvimento, reforça o crescimento da demanda por alimentos.

Outro fator relevante relacionado a esse aspecto está não somente no fato de que os países com crescimento populacional acima da média mundial (0,4) estão reunidos principalmente nos países da África, parte da Ásia, ou na Índia, mas em função de que nos países em desenvolvimento, como no nosso caso, este crescimento se dá principalmente nas classes de baixíssima renda.

Como exemplo, em 1990 os países sub-saarianos representavam 231 milhões de habitantes e no final de 2001 já eram 318 milhões. Vale lembrar que curiosamente naquela região as pessoas vivem com menos de 1 dólar por dia. Para um exemplo caseiro, no Brasil, 73% dos nascimentos acontecem nas classes D e E, embora ainda muitas religiões sejam contra o controle da natalidade e os métodos anticoncepcionais.

Em relação ao crescimento da participação da população urbana na população total, deve-se destacar que este processo será mais intenso na Ásia e África (Aproximadamente 12% da população migrarão para as cidades até 2030). Somente China e Índia juntas possuem 2,5 bilhões de habitantes do total atual, o que significa dizer que a demanda é crescente por aquelas bandas.s

Quanto a renda e renda per capita das regiões do globo, a FAO estabelece uma projeção até 2050. Neste sentido percebe-se uma distinção que vai de 2006 até 2030 e de 2030 até 2050. Na primeira fase, a renda per capita é crescente principalmente nos países ex-comunistas e de parte da Ásia. Cresce moderadamente nos países Africanos abaixo do Saara, nos Árabes e nos da América Latina. Na segunda fase, a renda per capita dos ex-comunistas cai assim como do leste e sul da Ásia. Neste mesmo período, continuam com crescimento moderado os países Árabes, da América Latina e da África Sub-saariana.

Soma-se a estes argumentos a análise da evolução do consumo per capita de alimentos no mundo. Neste quesito, os dados da FAO não chegam a apontar uma diferença significativa nos períodos conforme ocorreu na renda. Percebe-se que novamente as principais evoluções encontram-se na África Sub-saariana e parte da Ásia (principalmente o sul), seguido dos países da América Latina, Árabes e Ex-comunistas (principalmente leste europeu e as 11 repúblicas que compõem a Comunidade Econômica Independente–CEI).

Neste sentido, a princípio, os países Árabes, da África sub-saariana, da América Latina e Sul da Ásia são demandantes crescentes da produção brasileira do agronegócio, tanto pelo crescimento populacional e pela migração rural-urbana, assim como o crescimento da renda per capita. Obviamente que os EUA e UE também são importantes demandantes, considerando, porém que as projeções do percentual de crescimento da população, da renda per capita e da urbanização são pequenas.

As questões para os próximos artigos estão na discussão dos padrões de consumo nesses países, onde e em que condições produzir, e por fim, as perspectivas para as principais atividades.

Eleri Hamer é Mestre em Agronegócios, Professor de Graduação e Pós-Graduação do CESUR, e desenvolve palestras, treinamentos e consultorias em Gestão Empresarial e Agronegócio. Home-page: www.elerihamer.com.br E-mail: [email protected]

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