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O agronegócio na próxima década – Padrões de consumo e onde produzir


Eleri Hamer

Existem perspectivas sensíveis da UE e EUA manterem e obviamente até ampliarem as suas importâncias em relação ao agronegócio brasileiro na próxima década. É verdade também que os países Árabes, os da África sub-saariana, da América Latina (inclusive o mercado interno brasileiro que deverá se expandir) e o Sul da Ásia deverão ser demandantes crescentes motivados, sobretudo, pelo aumento populacional e da renda per capita nestes países.

Ainda dois aspectos são importantes balizadores do agronegócio na próxima década: (i) os padrões de consumo desses países demandantes e (ii) as características e aptidões dos locais de produção e que ditarão, por sua vez, as respectivas ofertas.

Do ponto de vista dos padrões de consumo dos alimentos no cenário mundial há de se ponderar que o comportamento dos consumidores é bastante distinto nos países, principalmente em função da sua renda. Desse modo é importante que se estratifiquem os países por suas condições sócio-econômicas e a divisão de desenvolvidos e em desenvolvimento parece atender de certo modo essa condição para análise.

Os países desenvolvidos representados essencialmente por EUA, Japão, os principais da UE e Canadá tendem a reduzir o consumo de produtos primários de baixa industrialização e acentuar o consumo de produtos com alto valor agregado, através de desdobramentos e re-elaboração de produtos, focando em conveniência e praticidade.  Cresce neste grupo a preocupação com as boas práticas de produção, certificações e questões ligadas a segurança do alimento.

Fatos desta natureza tendem a revelar o não aumento da quantidade consumida per capita uma vez que as necessidades fisiológicas de alimentação daquela população já são atendidas em alta medida. Por outro lado, é perceptível uma elevação do grau de exigência para com os países que pretendem exportar para lá, justamente por este avanço no padrão de consumo.

Segundo os dados da FAO, os países em desenvolvimento por sua vez, puxados pelos do sul da Ásia, da África sub-saariana e da América Latina tendem a aumentar consideravelmente o consumo per capita de alimentos até 2050 (entre 2030 e 2050 os países da AL apresentam um decréscimo). Em síntese, exceto os países desenvolvidos, todos revelam uma ampla tendência de aumentar o seu dispêndio com alimentos e por sua vez, a demanda.

No contexto geral, deverá haver uma redução do consumo de grãos, amidos e vegetais e um aumento no consumo de carnes, lácteos, doces e frutas. Especificamente, as projeções apontam demanda per capita crescente do açúcar, oleaginosas e seus derivados (em função do óleo), as carnes de um modo geral e leite e derivados. Nas projeções de carnes e lácteos percebem-se um crescimento extraordinário no consumo per capita, ambos acima de 0,5% ao ano até 2050.

Em relação às características e locais de produção, o segundo balizador, temos que considerar antes de tudo a crescente preocupação com a degradação ambiental e a comprovada repercussão do aquecimento global. Neste ponto soma um reflexo importante: o uso de combustíveis renováveis, os biocombustíveis, vindos, sobretudo da agricultura comercial (tanto familiar como patronal).

Neste contexto de aumento da apreensão com a escassez de recursos naturais, o Brasil é talvez o único país que (se for competente para sustentar) reúna um conjunto de condições para atender tais demandas: possui áreas degradadas e marginais capazes de serem inseridas nos processos de produção, clima apropriado para a maioria das culturas e criações, aliado a um know how tecnológico de dar inveja ao Tio Sam e a boa parte da Europa.

Falta-nos uma única estrutura de governança da política agrícola, já que temos ministério da agricultura e também o do desenvolvimento agrário, dentre outras secretarias especiais com status de ministério; um alinhamento entre os interesses dos diferentes ministérios; mais profissionalismo através da melhoria na compreensão dos cenários e na gestão das suas propriedades, por parte dos produtores; estratégias públicas e privadas agressivas na abertura de mercados; e por fim, investimentos pesados em infra-estrutura logística, defesa agropecuária e biotecnologia.

No próximo ensaio, o último artigo da série: as perspectivas brasileiras para as principais atividades.

Boa semana para nós.

Eleri Hamer é Mestre em Agronegócios, Professor de Graduação e Pós-Graduação do CESUR, e desenvolve palestras, treinamentos e consultorias em Gestão Empresarial e Agronegócio. Home-page: www.elerihamer.com.br E-mail: [email protected]

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