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NOVOS PARADOXOS DO AGRONEGÓCIO


Mario Hamilton Villela

Em artigos anteriores, reiteradas vezes, comentei sobre os paradoxos existentes na realidade rural brasileira. Hoje, retomo a este assunto, tecendo novas reflexões sobre alguns pontos desse tema.

Primeiro, vamos às boas notícias. A Organização Internacional de Epizootias - OIE, que regula a sanidade dos produtos animais comercializados no Exterior, aprovou, por fim, em reunião inédita, a primeira vez fora de sua sede e no Brasil, o reconhecimento do reenquadramento do Rio Grande do Sul com a certificação de zona livre de febre aftosa com vacinação. Assim, com essa nova situação, as nossas vendas externas de carne especialmente, bovina terão um novo e extraordinário alento. E a nossa balança comercial, ora bastante desequilibrada neste item, terá a chance de ser reativada.

Por outro lado, a ovinocultura, conforme analisei em outro texto, com as perspectivas da melhoria do mercado para a lã e carne, toma, também, novos e interessantes rumos. A sua recuperação, como já abordei é visível e bastante alentadora. Isso é constatado em todos os últimos remates realizados nas mais diferentes regiões ovelheiras do Estado; com boas e até surpreendentes vendas e faturamentos estimulantes.

A bovinocultura leiteira, embora lentamente, vem respondendo de uma forma favorável.

Os aspectos explicitados acima, acenam para um cenário de futuras e boas perspectivas, num prazo, relativamente, curto para a pecuária nacional.

Agora, dentro do mesmo contesto rural, no segmento denominado de lavoura, que este ano atingiu, segundo as últimas estatísticas, uma produção fantástica de 108,5 milhões de toneladas de grãos, paradoxalmente, para alguns cultivos, as expectativas não são as mais promissoras. À exceção do complexo soja e seus derivados, que é capitaneado pelo mercado internacional e cujos produtos são, marcantemente importados, e com os preços favorecidos pela alta do dólar.

O milho, por exemplo, cujos preços, pelas mesmas razões acima, tiveram reajustes de quase 100%, num período, relativamente, muito curto, com alta e vertiginosa procura no mercado internacional, começa a faltar no mercado interno e trazer muitas dificuldades para o segmento da avicultura e suinocultura.

Se falarmos em trigo, a situação de dependência externa é catastrófica. Além disso, esta situação tem passagem até hilariante ou, talvez, milagrosa. Refiro-me às nossas exportações de trigo advindas do Uruguai, que de acordo com registros, não muito distantes, dos do ano de 1996 o Brasil importou daquele País 1,1 milhão de toneladas de grãos e, pelos dados e estatísticas da própria FAO, a produção total de trigo, no Uruguai, no mencionado ano, foi, pasmem, de 600 mil toneladas.

Apesar das dificuldades no cultivo desse cereal no País, transações anômalas e estranhas, como essa, conduzem a agricultura ao desestímulo e trazem grandes prejuízos aos produtores rurais brasileiros.

É bom lembrar aqui que o nosso inesquecível Assis Brasil, em sua primorosa obra “Cultura dos Campos”, há cento e quatro anos, já se insurgia contra a importação de alimentos que poderiam ser produzidos aqui.

Tudo isso demonstra os grandes paradoxos da realidade rural brasileira. Além, obviamente, de atestar de uma forma bastante clara, com muita evidência, ainda, apesar dos esforços que se vêm fazendo, a inexistência de uma Política Agrícola, séria, duradoura e técnica.

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