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Nova desvalorização do Real



Argemiro Luís Brum

A moeda brasileira, nas últimas duas semanas, passou a apresentar uma rápida desvalorização, tendo chegado ao início da manhã do dia 29/05 a R$ 2,077 por dólar. Esse valor não era visto desde meados de dezembro do ano passado. Na ocasião, o movimento de valorização do Real, que chegou a bater em R$ 1,95 em meados de fevereiro e em parte da primeira quinzena de março, foi motivado pela forte presença do Banco Central brasileiro no mercado cambial, vendendo dólares em busca de uma revalorização da moeda nacional a fim de conter o processo inflacionário que já estava avançando no Brasil. Um Real mais forte torna os produtos importados mais baratos, ajudando a conter os preços internos, já que importamos de tudo (desde palito de dentes até gasolina e óleo diesel). Mas a economia brasileira, na virada do ano, passou a ser motivo de preocupação no cenário internacional. O mercado está em dúvidas quanto à capacidade do atual governo em controlar a estabilidade, acusando-o inclusive de maquiar dados econômicos, a começar pela inflação. Assim, alguns fatos estariam na origem desta desvalorização do Real, que já alcança um nível indesejado. O primeiro se encontra no movimento do capital internacional. Em dúvida quanto à condução da economia nacional, os investidores internacionais, especialmente o capital especulativo, saem do Brasil em maior quantidade do que entram. Isso ajuda a explicar igualmente a constante fraqueza da Bovespa nos últimos tempos. Outro fato é que o governo brasileiro, considerando um câmbio aceitável ao nível de R$ 2,00, interrompeu a venda de dólares, porém, não parou de colocar em prática uma política que busca o crescimento da economia a qualquer custo, sem termos as condições estruturais para isso. Enfim, a economia dos EUA começa a se recuperar, mesmo que lentamente, e o governo local ameaça cortar os estímulos à mesma. O Banco Central estadunidense, que coloca mensalmente US$ 85 bilhões em circulação, através da compra de títulos do Tesouro, para irrigar a sua combalida economia, ameaça interromper tal compra. Ora, parte deste dinheiro mensal era deslocada para fora do país, em busca de ganhos fáceis, sendo o Brasil um dos seus pontos de ancoragem, mesmo com a redução dos juros até março passado. Isso explica porque o dólar se valorizou também perante outras moedas do mundo, inclusive o euro. Para o governo brasileiro, o patamar ideal de flutuação do Real seria entre R$ 1,95 e R$ 2,05. Nesse contexto, é provável que a retomada da elevação dos juros no Brasil corrija, em parte, o câmbio até o final do ano, pois tende a atrair mais dólares. Além disso, no curtíssimo prazo, se a desvalorização do Real continuar, o Banco Central brasileiro deverá entrar no mercado novamente vendendo dólares, usando as reservas cambiais nacionais que somam US$ 375,2 bilhões.

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