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Necessidade estrutural da economia



Argemiro Luís Brum
O pífio resultado de nosso PIB (mais um) no primeiro semestre de 2012, quando registrou apenas 0,6% de crescimento e potencializando, para todo ano, um percentual de tão somente 1,5% a 1,7%, após o péssimo 2,7% de 2011, nos confirma o óbvio. Medidas paliativas de consumo interno, sem fortes investimentos em infraestrutura, além de reformas profundas no aparelho estatal e nas instituições nacionais, acabam não se sustentando no médio prazo. Assim, após o impacto positivo ocorrido em 2010, quando o forte impulso no consumo interno, até então reprimido, graças a reduções de juros, de impostos e geração de subsídios diversos elevou o PIB nacional para 7,5%, voltamos a estaca zero. Dito de outra maneira, não conseguimos gerar um crescimento econômico sustentável e aceitável para os padrões nacionais. E a repetição da receita em 2011/12 se mostrou ineficiente, pois não temos infraestrutura que absorva um aumento importante da demanda nacional. Sem falar no fato de que, além de não conseguirmos manter um crescimento econômico satisfatório, deixamos a maioria das famílias endividadas e inadimplentes. Ou seja, em termos estruturais a emenda foi pior do que o soneto. Assim, chegamos à metade de 2012 com um crescimento de 59,8% no endividamento das famílias brasileiras, sendo que 21,3% estão com inadimplência. Mesmo que esses percentuais tenham diminuído um pouco em relação ao mesmo período do ano anterior, a situação é grave. Especialmente por dois motivos: 1) o cartão de crédito, instrumento que aplica um juro anual acima de 300%, vem sendo usado por 73,2% das famílias como o principal elemento para prorrogar pagamentos; 2) o governo continua insistindo em estimular a população para que consuma bens duráveis, visando apoiar setorialmente a indústria, impactando fortemente o orçamento familiar, o qual está longe de suportar tal carga porque nossa população não é dada a fazer poupança. E isso que a bolha imobiliária ainda não estourou (prevê-se que o problema surja com mais intensidade após a Copa do Mundo de 2014, embora já esteja sobrando imóveis nos grandes centros urbanos nacionais).
Necessidade estrutural da economia (II)
Nesse contexto, fica evidente o que já se sabia, embora muitos não consigam ou não querem compreendê-lo. Em primeiro lugar, em um mundo sempre mais globalizado e interdependente, precisamos decididamente que as principais economias do mundo reajam. Isso puxaria nosso comércio externo, a entrada de capitais produtivos (e não apenas especulativos) e a nossa própria reação. Infelizmente, no contexto da crise de 2007/08, ainda não se vislumbra tal reação para o próximo ano. Em segundo lugar, temos sim um mercado interno enorme, porém, não temos poupança e investimentos estruturais suficientes para dele usufruir. Isto é, sem reformas estruturais no funcionamento do Estado e da economia em geral, o PIB brasileiro consegue apenas fazer “o voo da galinha”: decola em curto espaço e logo vai ao chão. Os números do PIB nacional, em especial nestes últimos cinco anos, comprovam isso. Enquanto o Estado brasileiro continuar perdulário, ineficiente, burocrático e corrupto não sairemos desta situação, comprometendo a geração de nossos filhos e netos. Ao mesmo tempo, estamos jogando fora a estabilidade econômica iniciada em 1994 e que começa a perder força por não encontrar o suporte necessário nas medidas estruturais que não somos capazes de realizar.

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