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Mundo e Europa continuam em convulsão



Argemiro Luís Brum
Como o previsto, a economia mundial continua em crise, não tendo conseguido sair do problema desde o seu início, em 2007/08. E, como o dito ainda naquela oportunidade, a crise não é de fácil solução, é estrutural e deverá durar muito tempo. Passados praticamente cinco anos da mesma o horizonte de solução continua distante. Enquanto os EUA patinam, a Europa continua afundando (agora além da Grécia, a situação piorou consideravelmente nas já esperadas Espanha e Itália, com a novidade de que a Holanda acusou fragilidades econômicas importantes), o Japão está longe de decolar e a China freia fortemente sua economia, projetando um crescimento de “apenas” 7,5% para 2012, após anos acima de 10%.


No Brasil, a freada econômica continua (após os 2,7% do ano passado, o mercado, contrariando o otimismo oficial, espera um PIB de apenas 3% para este ano), apesar dos esforços governamentais em aumentar o consumo interno via crédito facilitado e “intervenção” nos juros, além de redução de impostos junto a alguns setores. Os efeitos disso tudo já são evidentes: o desemprego começa a aumentar, tendo ultrapassado novamente os 5% em março para o conjunto do país; a Bovespa despencou, tendo perdido quase 10.000 pontos em menos de dois meses; as empresas vendem menos, salvo alguns setores que estão sendo privilegiados pelas políticas públicas; e a inadimplência aumenta (o endividamento das famílias gaúchas, em março, subiu para 65%, contra 55% em fevereiro).

E, para piorar, naquelas regiões onde houve frustração na safra de verão, como o Rio Grande do Sul, o quadro será ainda mais difícil, particularmente no segundo semestre. A máxima econômica continua presente: em economia não há almoço grátis. Portanto, o aperto de cintos continua sendo a regra e todo o cuidado é pouco nesse ano quanto aos gastos. É melhor apertar agora e em curto prazo, do que comprometer a economia toda no longo prazo, hipotecando o futuro. Quem pouca no presente tem o que gastar no futuro, tirando proveito inclusive das crises.

Mexer nas regras da poupança ou não reduzir mais o juro

O governo se encontra numa encruzilhada. Necessitando baixar ao máximo a Selic, para estimular o consumo interno, diante da paralisação da economia, o mesmo se depara com a fuga de capitais junto aos fundos de investimento. Essa fuga, a partir de um juro básico a 8,75% ao ano, tende a aumentar em favor da poupança, pois seus rendimentos e condições ficam mais interessantes.

Ora, como alertamos no comentário passado, os fundos de investimento são fundamentais para a rolagem da dívida pública, a qual está ao redor de US$ 1,0 trilhão e crescendo (sem reformas na estrutura econômica e do Estado não há solução para isso). Não podendo rolar a dívida pública, o Estado fica inadimplente (algo semelhante ao que os EUA enfrentaram em julho/agosto de 2011). Nesse sentido, como as reformas não acontecem, e aumentar os rendimentos dos fundos significa elevar juros, o governo está propenso a mexer nos rendimentos da poupança. A presidente da República, nesta semana, voltou a deixar entender que esse será o caminho.


Assim, em se concretizando tal ação, a taxa Selic, na reunião do Copom do final de maio, poderá baixar mais um pouco, devendo alcançar entre 8,75% e 8,5% ao ano. Depois disso os espaços para manobras, desse tipo, praticamente desaparecem e nosso juro básico deverá estacionar nesses níveis pelo resto do ano. A questão é ver até onde poderão ir, e por quanto tempo, os juros de mercado, que é o que realmente conta para a sociedade.

Confirmado um aumento menor no salário mínimo

A continuidade da crise mundial e seus constantes respingos na economia nacional, estão levando a uma reacomodação do setor creditício brasileiro e da disponibilidade de crédito ao consumidor em geral. Após a política quase irresponsável de inundar o mercado nacional de dinheiro, com o convite ao gasto generalizado, usado no final de 2009 e durante todo o ano de 2010, o governo, mesmo mantendo um crédito ainda farto, e particularmente o mercado financeiro, se deram conta de que um processo mais restritivo de crédito necessariamente deve ser tomado. E isso vem ocorrendo em 2012, embora ainda com problemas.

Dito de outra maneira, apesar da propaganda e do esforço em baixar juros, o crédito agora está mais seletivo, um pouco mais difícil de ser obtido. Não era sem tempo, embora a bolha da inadimplência já tenha sido criada. Vem se somar a isso, no horizonte de 2013, aquilo que alertamos ainda no início de janeiro passado. Se em 2012 o mercado se beneficiaria de uma entrada de recursos importante, graças ao aumento de mais de 14% no salário mínimo, para 2013, a tendência indicava um aumento bem menor nesse salário.

E isso se confirma agora! O projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias, divulgado dias atrás pelo Ministério do Planejamento, aponta para um salário mínimo, a partir do próximo ano, em R$ 667,75. Isso equivale a um aumento anual de 7,3%, ou seja, metade do aumento deste ano (pela fórmula de cálculo, o óbvio: o PIB de dois anos antes tendo sido de apenas 2,7%, o governo espera que a inflação em 2012 fique em 4,6%, pois o reajuste do salário mínimo é a soma destes dois indicadores).


O que pode mudar nesse ponto é que a inflação provavelmente venha a ser maior, ficando entre 5% e 5,5% na melhor das hipóteses. Assim, o reajuste do salário poderia passar para algo entre 7,7% e 8,2%, desde que mantida a fórmula de cálculo que vem sendo aplicada há alguns anos.

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