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Máquinas que fazem tudo.



Cláudio Boriola

O final do século XVIII trouxe transformações importantes para a sociedade, em todo o mundo. As revoluções Francesa e Industrial, motivadas pela burguesia, mudaram completamente a forma de pensar e agir da humanidade. A primeira colocou todos em pé de igualdade (liberdade e fraternidade também, mesmo que somente no discurso). Já a segunda, instituiu o capitalismo no mundo e colocaram todos, inclusive mulheres e crianças, para trabalhar nas fábricas, com aqueles maquinários enormes e sem segurança. É difícil saber quais nos afeta mais nos dias de hoje, mas para a classe trabalhadora, podemos arriscar que é a Revolução Industrial.

A ABVA, Associação Brasileira de Vendas Automáticas comemora os números de faturamento do seu setor, o de vendas feitas por máquinas. Se em 2005 as maquininhas geraram, somente no Brasil, R$ 320 milhões, a expectativa é que elas consigam alcançar a marca de R$ 335 milhões neste ano de 2006. A marca mundial desse ramo de negócios alcança os US$ 250 bilhões.

Você deve estar se perguntando: "Mas o que a ABVA tem a ver com a Revolução Industrial, distante tantos anos uma da outra?". A ABVA defende um setor que seria o sonho do industrial daquela época. Máquinas que, sem ajuda humana nenhuma durante a sua operação, conseguem escoar produtos dos mais diversos tipos, como café (o bloco líder, com 76%) e bebidas geladas (o segundo colocado, com 20%), além de salgadinhos, livros, DVDs e até sandálias.

Aquele discurso que deixa as máquinas como vilãs na história do desemprego já deixaram as rodas de conversa de países desenvolvidos há tempos. Lá, houve uma preocupação em capacitar trabalhadores para atuarem nesse mercado, que necessita de um bom grau de estudo e conhecimento por parte, principalmente, das pessoas que desenvolvem as máquinas.

Já aqui, com uma população que muitas vezes não consegue vaga em um curso público/gratuito e não tem dinheiro para pagar os cursos particulares, o aumento do mercado das "máquinas que vendem sozinhas" pode gerar desemprego sim. Todas as 45 mil máquinas instaladas em território nacional são importadas e, por isso, temos um índice tão baixo de empregos diretos: um emprego para cada onze máquinas, somando cerca de cinco mil brasileiros. Um número desprezível dentro do universo da nossa população.

Ainda por essa falta de investimento em pessoal capacitado, o Brasil está muito distante dos outros mercados, que já dominam a tecnologia. Para se ter uma idéia, nosso país tem aproximadamente 4.150 máquinas por habitante. Na Alemanha, temos 401 máquinas por habitante, enquanto nos Estados Unidos este número cai para 90 e, no Japão, para 48.  A média de crescimento deste mercado no Brasil é de 10%.

Esse setor é só um exemplo para mostrar como o Brasil é carente de investimentos sérios na educação. Um país que tem uma população capacitada cresce empurrado pelo conhecimento e pela criatividade do seu povo e isso vai gerar um ciclo que beneficiará a todos. Economicamente falando, uma população mais informada é uma população menos endividada, o que a livra das preocupações diárias que muitas pessoas que conhecemos têm.

Enquanto esse ideal não penetra na cabeça dos nossos políticos, vamos convivendo com tecnologias importadas. Quem sabe, daqui a alguns bons anos, depois de implantadas as reformas educacionais emergentes das quais precisamos, não ganhamos o nosso primeiro Nobel científico.

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