CI

Mais um pacote



Argemiro Luís Brum
Diante da piora nos indicativos sobre o crescimento econômico brasileiro neste ano de 2012 (o mercado aponta, agora, a possibilidade de um PIB entre 1,9% e 2,5%) o governo muda a estratégia. Confirmando o que já se sabia, o governo percebeu agora que insistir com o consumo interno, via apoio ao crédito, baixa de juros e redução de impostos, não está mais alavancando a economia.


Simplesmente porque, como também já se sabia, a população está endividada e com uma inadimplência crescente. Nesse sentido, insistir com tal estratégia é aumentar um problema que já está posto para o futuro: o endividamento, em momento de desemprego e freada da economia, cria novos mecanismos de freio para diante, nesse caso oriundos do próprio mercado interno.

Assim, o governo lança mais um pacote, na lógica do imediatismo de sempre, destinado agora ao próprio consumo do governo federal. Serão R$ 8,4 bilhões que ele se autodisponibiliza para gastar na compra de veículos escolares, ambulâncias, armamentos, retroescavadeiras, trens(?), caminhões, móveis para sala de aula etc.

Ora, se estivéssemos diante de uma prática séria de gastos públicos poderíamos acreditar no sucesso da medida, no que diz respeito a sua segunda etapa, ou seja, que tais compras de fato irão melhorar as condições de vida da população brasileira.

Todavia, a prática federal, especialmente nestes últimos 12 anos, tem nos mostrado que existe um enorme desperdício do dinheiro público (o PAC que o diga), sem resultado nenhum positivo à população.

Mais um pacote (II)

Assim, é certo que as compras federais acontecerão, pois gastar sempre foi fácil na seara pública (entre 2000 e 2010 o total de servidores ativos da União, sem contar os militares, cresceu 21,2%, enquanto a população cresceu 12,5% no mesmo período). O problema é evitar que tais compras fiquem depositadas em algum galpão, sucateando com o tempo, sem o devido destino público a que foram compradas.


Dito de outra maneira, para tentar animar uma economia duramente atingida pela crise global, talvez tenhamos criado mais um pacote que colocará o dinheiro público pelo ralo, pois a gestão pública federal deixa a desejar.

Neste primeiro semestre de 2012, por exemplo, os três ministérios responsáveis por obras públicas de infraestrutura (Transportes, Integração Nacional e Cidades) executaram apenas 14,9% dos investimentos previstos para o ano (isso que falta ainda verificar a qualidade do que foi realizado). Em 2011, no mesmo período, o percentual chegou a 23,9%. Além disso, ainda há o fato de que tais medidas intempestivas tendem a aumentar o déficit público, que já está enorme.

Que se precisa investir em infraestrutura todo mundo sabe. A questão é como realizar isso com eficiência, rapidez e objetividade via uma máquina pública desorganizada e, infelizmente, em boa parte corrupta.

Livre comércio com a China (?)

E surge agora a notícia de que a China estaria propondo criar uma zona de livre comércio com o Mercosul. Ora, na lógica liberal todo movimento ao livre comércio é positivo. A economia internacional explica que tal modelo, em condições de igualdade econômica entre as regiões, favorece os ganhos aos consumidores e dinamiza as respectivas economias, incluindo aí ganhos em tecnologia. Assim, depois de erroneamente ter rechaçado a construção da Alca em 2004, quando os motivos ideológicos ocuparam o lugar da discussão racional, o Brasil parece se assanhar com a proposta chinesa.

A ideia não é ruim, desde que, antes, sejam equacionados os seguintes fatores: que o Mercosul resolva seus impasses internos e passe finalmente a funcionar como uma real zona de livre comércio (o que está longe a julgar pelas constantes ações da Argentina e pela recente exclusão política do Paraguai como membro do bloco); que a China abra efetivamente suas contas para que se tenha condições de verificar se os preços internacionais que pratica não são oriundos de subsídios e outros mecanismos protecionistas ou que alteram o jogo de mercado, como o mundo inteiro acusa; que se definam de forma recíproca as áreas e os produtos a serem favorecidos pelo livre comércio entre as duas regiões, com conhecimento de causa da real tarifação alfandegária que os mesmos estão recebendo na atualidade e quanto disso seria reduzido.


Isso, além de outras medidas, demonstra que há um longo caminho a ser percorrido para que a dita zona de livre comércio com a China possa de fato ser estabelecida. Caso contrário, pela conhecida prática comercial chinesa, em troca de algumas empresas brasileiras e mercosulinas ganharem na exportação para a China, a maioria perderá muito e correrá o risco de ser alijada do mercado por estarmos abrindo nosso mercado a um país que não respeita exatamente o jogo do livre comércio (“hoje, 56% dos mecanismos de proteção comercial que o Brasil adota têm como alvo justamente a China, em decorrência dos preços considerados extremamente baixos por empresários locais”, cf. ZH-27/06/2012, p.14).

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.