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IPCA surpreende



Argemiro Luís Brum
O índice oficial da inflação brasileira (IPCA), do mês de maio, surpreendeu ao ficar bem abaixo do esperado. Segundo o governo, o mesmo atingiu apenas 0,36% contra 0,64% em abril e 0,47% em maio de 2011. Com isso, o acumulado de 12 meses recuou mais uma vez, ficando agora em 4,99%. Essa boa notícia, esperando que o cálculo não tenha sido manipulado como vem fazendo a Argentina (afinal, a distância para com o IGP-M foi considerável, já que esse acusou uma inflação de 1,02% em maio), permite ao governo reduzir ainda mais a Selic. Isso, embora ainda haja a inflação de junho para considerar antes da próxima reunião do Copom, prevista para meados de julho próximo. Nesse sentido, pode-se imaginar que, talvez, a Selic acabe mesmo recuando para 8% ao ano em julho, muito embora o risco de reduzir em demasia os rendimentos da poupança. Todavia, a julgar pela postura dos poupadores brasileiros, por enquanto a queda no rendimento da poupança não os preocupa, já que a diferença ainda é muito pequena em relação ao cálculo anterior. Tanto é verdade que os depósitos líquidos na poupança, em maio, já sob a nova forma de cálculo anunciada, chegaram a R$ 6,26 bilhões, superando em 252% o que havia sido realizado de depósito em abril. Esse volume de dinheiro foi recorde para um mês de maio desde o início da série histórica, em 1995. Por outro lado, tal número permite também outra leitura: o aumento de recursos na poupança está confirmando que os brasileiros estão aprendendo a olhar a crise de forma diferente, se precavendo mais, entrando menos no “jogo” consumista oficial. Isso ajuda a explicar em boa parte porque, apesar das novas medidas de apoio ao consumo, as vendas não decolam e a economia nacional continua freada, indicando fechar o ano, por enquanto, com um PIB abaixo de 3% mais uma vez.

SALDO COMERCIAL MELHORA
Já repercutindo a forte desvalorização do Real nesses dois últimos meses, a balança comercial brasileira, em maio/12, registrou um saldo positivo de US$ 2,95 bilhões, resultado de exportações de US$ 23,21 bilhões e importações de US$ 20,26 bilhões. Mesmo assim, em termos de média diária, enquanto as exportações estacionaram, em relação a maio de 2011, as importações cresceram 2,9%, fato que levou o saldo de maio a acusar um recuo de 16,2% sobre a média diária obtida em maio/11. Ou seja, o ritmo de exportação melhorou, porém, ainda está longe do obtido no ano passado. No acumulado dos cinco primeiros meses do ano, o saldo comercial brasileiro chega agora a US$ 6,27 bilhões, contra US$ 8,53 bilhões no mesmo período do ano passado. Isso significa que o saldo comercial atual ainda está 26,5% menor do que o obtido nos primeiros cinco meses de 2011. E isso que no ano passado o Real estava muito valorizado em relação ao dólar, se comparado com a média deste ano. Dito de outra maneira, as importações, mesmo com um Real desvalorizado (ao redor de R$ 2,04 por dólar antes do feriado de 07/06), cresceram 6,4% nos primeiros cinco meses de 2012, em relação ao mesmo período do ano anterior, enquanto as exportações aumentaram apenas 3,4%. É de se esperar, em se mantendo o câmbio nos atuais níveis, que essa relação melhore em favor das exportações nos próximos meses, fato que poderá permitir um saldo final, neste ano, muito acima de US$ 10 bilhões inicialmente esperado.

ESPECULAÇÃO MUNDIAL ESTÁ NO LIMITE
As fortes baixas, interrompidas eventualmente por pequenas retomadas, nas bolsas de valores mundiais, desde o início da crise econômico-financeira em meados de 2007, colocaram os especuladores financeiros no limite. Assim, há uma ânsia altista contida nesses mercados. A qualquer boa notícia, mesmo que não confirmada ou ainda longe de ser concretizada na prática, já faz o mercado rever posições e elevar os valores financeiros no mundo todo. Foi o que aconteceu nesta semana com as notícias vindas da União Europeia. Diante da enorme crise do bloco, tendo agora a Espanha no centro do “furacão”, a Comissão Europeia anunciou um plano que tende a ser o início de um projeto que venha a unir os bancos do bloco, permitindo assim evitar futuras crises e, por tabela, solucionar as já existentes. Foi apenas um ensaio, pois ainda há muito por fazer e consolidar o projeto, porém, o mercado respondeu de forma positiva imediatamente. Na falta de luz no fim do túnel, qualquer proposta acaba sendo bem-vinda! Tanto é verdade que a Bovespa acusou um ganho acima de 3% no dia 06/06, quando do anúncio do fato, acompanhando as altas das demais bolsas mundiais. Paralelamente, o petróleo subiu de valor e as demais commodities igualmente. Por tabela, o dólar perdeu força no mercado mundial. Lições: o mundo está no limite de sua capacidade de suportar os efeitos da presente crise; a volatilidade dos mercados continuará intensa enquanto uma solução duradoura não ocorrer; os países, através de seus bancos centrais, podem construir um sistema de recuperação da combalida economia mundial, desde que se acertem nos objetivos a alcançar; o sistema financeiro especulativo precisa ser regulado, caso contrário o processo causador da atual crise retorna logo adiante.

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