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Inflação e Juros



Argemiro Luís Brum
Como era esperado (ver nossos comentários de sete meses atrás), a inflação brasileira (IPCA) voltou a subir em abril/12. O índice de 0,64% foi o mais alto dos últimos 12 meses e três vezes superior ao 0,21% obtido em março. Ainda assim, no acumulado de 12 meses (maio/11 a abril/12) a inflação recuou um pouco, ficando em 5,1%, contra 5,24% em março. Esse recuo se deveu ao fato de que a inflação de abril/11 ter sido ainda maior do que os 0,64% de abril/12. Todavia, como já alertado, o problema maior está adiante. Os meses de maio, junho, julho e agosto de 2011 registraram inflação bem menor, com respectivamente 0,47%, 0,15%, 0,16% e 0,37%. Ou seja, para que não haja aumento da inflação anual acumulada, os futuros índices dos próximos quatro meses têm que ficar abaixo dos acima citados. No trem atual da economia nacional, nos parece difícil. Assim, mesmo que muitos acreditem que não haja espaço para aumento de preços, duas condições estão reunidas para provar o contrário, como já o fizeram em abril. A primeira delas é a continuidade do esforço oficial em manter um consumo aquecido, via crédito facilitado, embora mais restritivo do que no passado recente, e baixas constantes de juros, mesmo que “à força”. Um consumo aquecido, diante de uma oferta de infraestrutura que não melhorou, tende a puxar os preços para cima. A segunda condição se encontra na rápida e não menos perigosa desvalorização do Real. Em menos de três meses, passamos de R$ 1,70 para R$ 1,96, ultrapassando o marco da paridade de poder de compra que estaria ao redor de R$ 1,90. Ora, tamanha desvalorização impacta nos preços dos importados. Assim, como importamos praticamente tudo, desde componentes para medicamentos, até gasolina e óleo diesel, passando por trigo e insumos agrícolas dos mais variados, seus preços subiram muito, elevando o custo de vida.

INFLAÇÃO E JUROS (II)
Nesse contexto, a tendência parece ser clara para os próximos meses: se o governo quiser manter a estabilização da economia e evitar uma alta sensível da inflação, terá que parar com a redução dos juros, a começar pela Selic que deverá ficar mesmo, pelo resto do ano, em 8,5% após a reunião do Copom em 30 de maio próximo, e até mesmo, dependendo do quadro, voltar a elevá-la um pouco no final do ano. Em segundo lugar, terá que segurar a desvalorização do Real nos atuais níveis e mesmo um pouco mais baixos, provavelmente vendendo um pouco de suas altas reservas cambiais, que hoje ultrapassam os US$ 370 bilhões. Nesse último ponto, é bom lembrar que a desvalorização do Real, inicialmente provocada pelo governo, via intervenções de compra por parte do Banco Central e pelo aumento de IOF sobre a entrada de capital estrangeiro especulativo, nas últimas semanas ocorre pela natural saída de dólares do país diante do recrudescimento da crise econômico-financeira mundial, tendo seu epicentro, nos últimos tempos, na Europa. E o resultado das eleições presidenciais na França e Grécia, acompanhado dos discursos dos vencedores, acabaram piorando o quadro (os mesmos propõem encaminhar soluções para a crise sem realizar medidas restritivas nos custos do Estado e na economia em geral, algo que não se sustenta).
INFLAÇÃO E JUROS (III)
Assim, posições compradas na Bovespa, por exemplo, estão sendo vendidas e os dólares saem do país, desvalorizando mais rapidamente o Real. A situação é tão evidente que no final desta semana o índice Bovespa voltou para os 59.786 pontos, algo que não era visto desde 13 de janeiro passado. Assim, depois de emplacar ganhos superiores a 20% em meados de março, no dia 10/05 os mesmos já eram de apenas 5,34% no acumulado do ano, com o resultado de 12 meses sendo uma perda de 7,48%. Em síntese, estamos assistindo nesse momento uma transição que requer muito cuidado, devendo provocar no governo preocupações, pois sua estratégia expansionista se esgota. Soma-se a isso, o forte endividamento da população, acelerado pela redução parcial dos juros, e o aumento da inadimplência. Embora ela tenha recuado momentaneamente em abril no país, no Rio Grande do Sul a mesma cresceu 5,2% no mesmo mês, tendo chegado a 20% em alguns municípios do Estado. Nesse caso específico, o desastre da seca sobre as safras de verão começa a aparecer em toda sua amplitude.

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