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Inflação dispara: algumas confirmações



Argemiro Luís Brum
Aquilo que alertávamos há meses acontece. A inflação de janeiro/13 (IPCA), que atingiu a 0,86%, é a mais alta desde abril de 2005 e a mais alta, para um mês de janeiro, desde 2003. Com isso, o acumulado anual (fev/12 a jan/13) já atinge a 6,15%, se aproximando perigosamente do teto da meta pré-estabelecida, que é 6,5% ao ano. O que se depreende de tal resultado? Em primeiro lugar, como já sabíamos, o governo baixou demais as taxas de juros, ignorando o efeito da demanda sobre os preços, por falta de infraestrutura e pela natural busca de recomposição de margens por parte dos empresários. Em segundo lugar, que a atual presidência do Banco Central, como já tínhamos igualmente alertado há dois anos, não tem independência diante do Ministério da Fazenda, sendo obrigada a aceitar os arroubos desenvolvimentistas deste último, mesmo sem termos estrutura para tanto. Em terceiro lugar, que o governo, em termos de economia, está perdido já faz algum tempo, enfrentando o problema macroeconômico com medidas apenas pontuais, as quais dão resultado de curto prazo e, logo em seguida, se esgotam, trazendo em seu bojo problemas ainda maiores. Em quarto lugar, que o governo vem sim mascarando a inflação (isso já havia ficado evidente em junho de 2012 quando os preços aceleravam desde o início do ano e o índice daquele mês veio em apenas 0,08%). Agora em janeiro, para evitar um índice acima de 1%, o governo antecipou a redução do custo da energia elétrica para os brasileiros e solicitou a muitos setores econômicos para que não reajustassem seus preços (foi o caso das tarifas de ônibus no Rio de Janeiro e São Paulo, por exemplo). A maquiagem dos preços não é direta, como na Argentina (que, aliás, afunda cada vez mais em um caos econômico conhecido), mas sim velada, via a estratégia de “administrar” reajustes importantes para “mascarar um processo inflacionário em curso”.
Inflação dispara: algumas confirmações (II)
O fato de não ter reajustado os preços dos combustíveis por longos meses é um claro exemplo. E agora, quando o fez, o represou, colocando-o num patamar inferior ao necessário. Isso significa que novos reajustes deverão vir no curto prazo se o objetivo é recuperar as finanças da Petrobrás, estatal que a política econômica oficial está enterrando. Em quinto lugar, tal comportamento inflacionário assusta, agora, o governo. O mesmo, em mais uma medida inócua, por não ser tão abrangente, depois de forçar uma desvalorização do Real no final de 2012, agora aceita uma revalorização do mesmo na tentativa de conter o aumento nos preços dos importados, algo óbvio e aqui mesmo salientado há alguns meses. Tanto é verdade que o mercado, ao perceber isso, já trouxe o câmbio para R$ 1,96 por dólar nesta quinta-feira (07/02) depois de termos trabalhado a R$ 2,10 em alguns momentos de dezembro passado. Em sexto lugar, tais ações de idas e vindas confirmam uma real incompetência oficial em tratar a economia nacional, a ponto de importantes jornais internacionais, no início deste ano, acusarem o ministro Mantega de manipular os dados econômicos do país visando dar um “jeitinho” nas contas públicas. Ora, isso caracteriza o desastre logo adiante. É preciso mudar rapidamente de postura, senão de pessoas e de responsabilidades. Além de fragilizar a economia nacional e comprometer a estabilidade econômica, em agindo desta forma o governo penaliza os mais pobres (o INPC, índice que pesquisa a inflação das famílias de renda menor, por exemplo, subiu em janeiro 0,92%, ou seja, muito acima do IPCA). Enfim, como já se sabia igualmente, o governo deverá rapidamente, se a tendência inflacionária continuar (os efeitos do aumento dos combustíveis somente aparecerão em fevereiro), de elevar os juros, revertendo mais uma medida adotada no passado recente. Assim, até o mercado já aceita, agora, de que a Selic deva aumentar novamente neste ano. Não existe mágica! Sem ajustes estruturais profundos no Estado e na economia do país, não há como avançar em políticas desenvolvimentistas duradouras, ficando o velho e duro monetarismo como solução, se não quisermos quebrar o país.

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