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Fundamentos Fisiológicos e o Manejo de Pastagens Tropicais


Newton de Lucena Costa

Para a obtenção do potencial de rendimento das pastagens torna-se importante a avaliação de sistemas de produção, onde seja explorada a capacidade de perfilhamento da planta, concomitantemente com a combinação entre a quantidade de forragem e a exigência nutricional do animal. A utilização intensiva de pastagens demanda uma nova concepção sobre os princípios básicos que direcionam o seu manejo. Apesar da importância dos fatores abióticos sobre os processos de acúmulo e senescência de forragem, a adoção de práticas de manejo que maximizem as potencialidades dos recursos naturais assume papel relevante para assegurar a produtividade, longevidade e economicidade da produção animal em pastagem.

O manejo da pastagem baseado no conceito de índice de área foliar (IAF) crítico, condição na qual 95% da radiação incidente são interceptadas pelo dossel da pastagem, fornece as ferramentas essenciais para a compreensão dos processos de acúmulo e senescência da forragem, notadamente de folhas, as quais são altamente correlacionadas com o valor nutritivo, representado pela taxa de consumo, digestibilidade e natureza dos produtos da digestão. A manutenção de um IAF muito alto na pastagem incorrerá na perda do potencial de produção que limitará a utilização de forragem, independentemente da eficiência de utilização. Semelhantemente, a taxa de consumo de forragem, bem como a eficiência de sua utilização tende a decrescer, como resultado de uma redução na densidade populacional de perfilhos e menor relação folha:colmo. Apesar da busca por maior eficiência de utilização da forragem, as perdas por senescência são inevitáveis, em função da necessidade de priorizar a produção por animal, o que torna necessária a adoção de ofertas de forragem acima da capacidade de ingestão dos animais, de modo a maximizar o efeito seletivo dos animais.

O manejo do pastejo afeta significativamente a produtividade animal. A avaliação dos fluxos de biomassa foliar em azevém anual manejado em diferentes alturas (5, 10, 15 e 20 cm), permitiu a pondera;cão de que o desempenho de borregos inteiros sofreu influência da altura do dossel, sendo os melhores ganhos, tanto individuais como por área, observados quando o pasto foi mantido com altura entre 10 e 15 cm. O aumento foi linear no ganho médio diário de cordeiros e borregas, respectivamente, com o aumento da disponibilidade de forragem do azevém. As variações no desempenho de ovinos, possivelmente estão relacionadas a variações na estrutura das plantas da gramínea, em função das diferentes intensidades de pastejo. A utilização de intensidades de desfolha mais severas provoca alterações nas características morfogênicas e estruturais do azevém, diminuindo o aproveitamento dos recursos do meio para produção de forragem.

A maior compreensão dos mecanismos que compõem o processo de seleção e consumo de forragem, representados pela taxa de ingestão (taxa, massa, profundidade e área do bocado) e o tempo de pastejo, tornou possível a imposição de práticas de manejo de pastagens, considerando-se o comportamento animal. Neste sentido, a altura da pastagem como indicador para o adequado manejo da pastagem deve, obrigatoriamente, está associada à estrutura e disposição das plantas na paisagem, a qual refletirá o grau de acessibilidade da forragem disponível aos animais. Neste sentido, os fatores que controlam o número, a  duração das refeições e o tempo da estação alimentar, em relação ao estado da pastagem, são mecanismos importantes para predizer a aquisição de nutrientes pelos animais em pastejo. No entanto, essa concepção contraria os objetivos precípuos de antigos modelos de pesquisa, em que a prioridade é comumente focada na produtividade dos sistemas, enquanto que aspectos como comportamento animal, qualidade do produto final e questões ambientais são totalmente negligenciadas. A qualidade de um ambiente pastoril adequado sob odo ponto de vista alimentar (ingestão de nutrientes) pode ser avaliada por um conjunto de respostas comportamentais: (i) em situações de elevado nível de alimentação os animais escolhem poucas estações alimentares enquanto passam bastante tempo explorando-as; (ii) o deslocamento entre as estações alimentares pode ser longo; (iii) o número de refeições é maior e a duração das refeições é menor; (iv) o intervalo entre refeições é maior; (v) menor é o tempo de pastejo.

Em síntese, pode-se concluir que a imposição de práticas de manejo baseada na altura das plantas, para a entrada e saída dos animais, pode incorrer em baixa eficiência do processo de pastejo, pois desconsidera os princípios morfológicos e fisiológicos que condicionam a produção de forragem e o seu consumo pelos animais.

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Newton de Lucena Costa (Embrapa Roraima, Boa Vista, Roraima), João Avelar Magalhães (Embrapa Meio Norte, Parnaíba, Piauí)

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