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Fixação Biológica do Nitrogênio em apoio à competitividade agrícola


Opinião Livre
* Roberto Berwanger Batista
Associações e entidades brasileiras unem forças em projetos de pesquisas para promover o conhecimento, uso e valorização da técnica de Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN) entre os agricultores do país. Essa difusão tem o objetivo de aumentar o uso do nitrogênio biológico, podendo substituir parcial ou totalmente os fertilizantes nitrogenados. O uso da FBN resulta em uma economia anual em torno de 7 bilhões de dólares ao país e vai ao encontro de um objetivo global, o de suprir o crescente aumento populacional e a necessidade cada vez maior de produção de alimentos.

No processo de fixação biológica o nitrogênio atmosférico, que se encontra em forma não utilizável pelas plantas, é transformado, por bactérias, em formas bioquímicas que atenderão às necessidades nutricionais das culturas. Em alguns casos a bactéria e a planta formam um sistema simbiótico, com beneficio mútuo para ambas. Na cultura da soja a bactéria utilizada no processo de fixação é a do gênero Rhizobium, que compreende pelo menos 30 espécies. A bactéria é adicionada ao sistema solo-planta por meio dos produtos denominados inoculantes.
O exemplo de maior impacto econômico para o país é a soja. O Brasil é o país que usa mais eficientemente a FBN, sendo que os 27 milhões de hectares do grão, cultivados no país, utilizam quase que exclusivamente esta tecnologia, com um consumo insignificante de fertilizante químico nitrogenado. O uso da fixação do nitrogênio é um dos fatores preponderantes para a competitividade da soja brasileira, pois significa uma economia para o agricultor, para o país e para o ambiente como um todo.
Na cultura do feijão, em que a técnica ainda está em processo de aprimoramento, os resultados têm apresentado rendimentos com o dobro da média nacional, o que pode gerar uma economia anual de 500 milhões de dólares.
Dentre os compromissos do Brasil para reduzir as emissões de carbono, foi criado pelo Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA, o Programa Agricultura de Baixo Carbono (ABC), que tem , como um de seus seis pilares, a meta de incrementar o uso da tecnologia de FBN em diversas culturas por todo o território nacional.
Em áreas de primeiro ano de cultivo de leguminosas, o papel da FBN é fundamental para o sucesso da cultura, devendo-se tomar todos os cuidados para uma perfeita implantação da bactéria no solo, como utilizar o dobro da dose de inoculante recomendada. Em anos de plantio sucessivo da mesma cultura, com as bactérias já implantadas no solo, o inoculante também proporciona sensíveis aumentos de produtividade. No Brasil, pesquisas realizadas em todo o território nacional indicam aumento médio de 8% na produtividade da soja se tais cuidados forem tomados.
Nas últimas décadas o conhecimento sobre bactérias em gramíneas evoluiu de forma extraordinária, com a seleção de cepas que fazem a conversão do nitrogênio no solo, no interior das raízes ou em outros tecidos vegetais.
Nos últimos 20 anos foram feitas descobertas sobre o potencial das bactérias do gênero Azospirillum, que por associação contribuem para o aporte do nitrogênio nas gramíneas. Seu efeito no desenvolvimento dessas culturas tem sido amplamente pesquisado e desenvolvido.

No Brasil, considerando somente a reposição parcial do fertilizante nitrogenado requerido por culturas como o milho e o trigo, a eficiência de sua utilização pelas plantas e o preço médio tradicional dos fertilizantes no mercado nacional (US$1 por kg de N), estima-se que o uso dos inoculantes contendo as estirpes selecionadas de Azospirillum brasilense pode resultar em uma economia estimada de US$ 2 bilhões por ano.
Cerca de 30% das emissões de dióxido de carbono resultante das atividades humanas vêm da agricultura, incluindo-se nessa conta as emissões indiretas do desmatamento e das mudanças no uso da terra, além da produção de fertilizantes e a refrigeração de alimentos.
Sustentavelmente, a técnica minimiza os impactos do nitrogênio sobre o meio ambiente, resultando em menor poluição da água, por exemplo, facilitando o sequestro de carbono. Estudos indicam que a fixação de 90 milhões de toneladas de nitrogênio equivale ao sequestro de quase 1 bilhão de toneladas por ano, enquanto o processo industrial que transforma o N2 atmosférico em NH3 demanda por volta de seis barris de petróleo por unidade fixada.
Dessa forma, a inoculação de bactérias fixadoras de nitrogênio é uma tecnologia extremamente importante para a cultura, de custo baixo, e que melhora a qualidade do ambiente, reduzindo a emissão dos gases de efeito estufa. O processo de FBN não despende energia, não polui e enriquece o solo com nitrogênio, que será aproveitado na cultura seguinte.
* Roberto Berwanger Batista é diretor técnico da Microquímica e presidente da Associação Nacional dos Produtores e Importadores de Inoculantes - ANPII

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