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Fim da crise agrícola?


Amado de Olveira Filho

Recentemente em Mato Grosso o Presidente da República reconheceu a existência de uma grave crise na agricultura e pecuária brasileira. Não foi por acaso, depois de pernoitar numa fazenda em Mato Grosso e bem se informar da realidade destas atividades e após percorrer o Brasil de ponta a ponta nas eleições, não havia como negar esta crise.

            Aquela manifestação foi considerada positiva pelas entidades de classe, em função de que quando de futuras negociações com o Governo, a segura compreensão a respeito do assunto é condição sine-qua-non para o encaminhamento das questões em nível do Governo Federal, especialmente junto ao Ministério da Fazenda, que historicamente tem oferecido dificuldades para com a agropecuária brasileira.

            É também seguro afirmar que a crise da agricultura verificada nos últimos quatro anos culminou com uma brutal perda de renda rural que para ser recuperada serão necessárias várias boas safras agrícolas como a que se desponta para 2007 e a manutenção de bons preços na pecuária.

            Sobre esta questão, tive a oportunidade de conversar longamente com o Presidente da FAMATO, Homero Pereira e concordamos em alguns pontos. É possível que a safra agrícola que será colhida em 2007 seja o início de um ciclo virtuoso, porém, para que se recuperem totalmente os prejuízos, somente lá pelo ano 2017, quando coincidentemente, o Brasil poderá alcançar um crescimento econômico em torno de 5,0%.

            Para o Presidente da FAMATO e Deputado Federal eleito Homero Pereira, a situação da agricultura brasileira deverá merecer bastante atenção do Poder Executivo e especialmente do Congresso Nacional. Ele considera impossível que o setor rural consiga administrar um passivo de aproximadamente R$ 70 bilhões entre dívidas públicas e privadas com os atuais níveis de produção e produtividade em que nos encontramos. Alguma coisa precisa ser feita.

            De fato é uma situação muito difícil, se aumentarmos a produção, especialmente a de soja, veremos comprometida a rentabilidade via redução de preços, se diminuirmos a produção não obteremos as receitas necessárias para fazer frente ao financiamento das safras e a liquidação deste enorme passivo. Então, contrariando alguns analistas, precisamos entender que a crise não passou, temos um indicativo positivo de que as perspectivas são boas, apenas isto.

            No caso de Mato Grosso, que já produziu aproximadamente na safra 2004/2005 exatamente 17,6 milhões de toneladas de soja, na safra que será colhida colheremos apenas 14,6 milhões de toneladas, portanto, uma redução de 20,6%, ou seja, 3,0 milhões de toneladas, ou o equivalente a carga de 75 mil caminhões com capacidade de 40 toneladas. Então, verificaremos a crise da agricultura afetando duramente o setor de transporte e os demais da cadeia do agronegócio.

            A crise terá fim. Não temos dúvidas quanto a isto, mas seus reflexos são duradouros. Quem não se lembra da crise de 1995? Até hoje os produtores rurais não conseguiram livrar de seus prejuízos. Os riscos das atividades são conhecidos, mesmos os gerados pelas políticas públicas que são delineadas em gabinetes refrigerados e geram conseqüências para todos aqueles que teimam em conviver com os resultados do sol e da chuva, que nem sempre chegam na hora esperada.

            Que venha a boa safra 2006/2007 e que seus resultados sejam de fato o início de uma grande virada no campo.

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