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Faltam investimentos



Argemiro Luís Brum

A economia brasileira deve mesmo ter fechado 2012 com um crescimento de apenas 1%, senão menos. E isso apesar dos esforços oficiais para estimular o consumo. Para piorar o quadro, um cenário de estagflação passou a se desenhar, na medida em que os preços, mesmo com um PIB quase estagnado, continuaram subindo. A inflação oficial (IPCA), de 0,86% em janeiro, elevou o acumulado em 12 meses para 6,15%, reforçando o sinal para o problema. Ao mesmo tempo, a balança comercial, mesmo com um Real fortemente desvalorizado durante a maior parte do ano passado, teve um superávit reduzido em cerca de 30% em relação a 2011. E o mês de janeiro/13 já acusou um déficit de US$ 4,03 bilhões. No acumulado de 12 meses (fev/12-jan/13) as exportações recuaram 5,7% enquanto as importações apenas 1,4%. Como resultado, o saldo comercial, no período, já recua de 40,5%, se estabelecendo em US$ 16,7 bilhões. E o desemprego nacional começa a se acentuar. O que há de comum nesses dados? Que a causa principal de nosso problema é a falta de poupança a qual, por sua vez, inibe os investimentos, os quais são ainda prejudicados pelo inchaço e custo do Estado. Em dados consolidados até meados de 2012, nosso nível de poupança não chegava a 20% do PIB, enquanto o nível de investimentos não alcançava 18% deste mesmo PIB. Ora, para crescermos a taxas acima de 5% ao ano, tão necessárias, precisaríamos que poupança e investimentos atinjam, cada um, pelo menos 25% do PIB. Desta forma, nos falta infraestrutura, a qual provoca aumento da inflação, perda de competitividade de nossos exportadores e redução do crescimento econômico, com seus reflexos na qualidade do emprego e de vida dos cidadãos. E os investimentos não crescem por duas razões básicas: 1) o setor privado está parcialmente freado diante da crise instalada desde 2007/08 no mundo, não encontrando nas medidas oficiais motivos de entusiasmo para ações estruturais; 2) o setor público continua gastando mais do que arrecada, aumentando o déficit público (o mesmo, em janeiro, acaba de romper a barreira dos R$ 2 trilhões, se estabelecendo, de forma bruta, a quase 60% do PIB nominal). O erro oficial, dentre tantos nos últimos anos, foi apostar apenas em medidas conjunturais, tipo o consumo, e não em medidas estruturais, tipo os investimentos. Assim, enquanto os salários aumentaram acima da produtividade do trabalho, a infraestrutura para suportar o processo não recebeu atenção e a economia vem parando. Como não há mais poupança externa para bancar o processo, e não realizamos o dever de casa, as coisas vêm se complicando há cinco anos. Mesmo que acordemos agora, levaremos anos para chegarmos a um estágio adequado já que mudanças estruturais demoram. O desenvolvimentismo sem estrutura, e com objetivos particularmente eleitoreiros, começou a nos cobrar a conta.

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