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Estabelecimento, Formação e Manejo de Pastagens de Setária



Newton de Lucena Costa
Introdução - A setária (Setaria sphacelata) é uma gramínea forrageira perene de hábito de crescimento cespitoso que forma touceiras de até 1,0 m de diâmetro e produz afilhos com altura de até 2,0 m. Apresenta caule tipo colmo, ereto e com rizomas curtos. As folhas são geralmente largas, glabras, com baínha larga e quilhada. A espécie é quase que completamente de polinização cruzada, o que dificulta a pureza varietal. Assim, dentro de uma mesma cultivar podem surgir plantas com características bem distintas, como variação no porte, época de floração e coloração das folhas.
Clima e solo - embora sejam plantas originalmente de regiões altas, apresentam uma faixa de adaptação bastante ampla em termos de altitudes e de condições climáticas. Vegeta bem em altitudes que variam desde o nível do mar até 3.000 m, principalmente em regiões onde a precipitação oscila entre 1.000 e 2.500 mm/ano. Desenvolve-se bem em diferentes tipos de solos, apresentando boa adaptação aos solos arenosos ou argilosos, inclusive naqueles de baixadas, úmidos ou de alagamento temporário, exceto naqueles excessivamente ácidos ou alcalinos.
Características agronômicas - boa adaptação e produção de forragem em solos de média fertilidade natural; apresenta razoável tolerância a solos ácidos e toxidez por manganês; requer solos bem drenados, no entanto tolera o encharcamento, desde que não muito prolongado; apresenta boa tolerância ao déficit hídrico (a cultivar Kazungula é comumente plantada nas áreas com precipitação anual em torno de 750 mm, enquanto que a Nandi e a Narok são recomendadas para regiões com precipitação superior a 1.000 mm); resistente ao ataque das cigarrinhas-das-pastagens; apresenta boa palatabilidade e elevado índice de afilhamento. Por apresentar hábito de crescimento semi-ereto, forma consorciações bastante equilibradas com leguminosas forrageiras como Pueraria phaseoloides, Desmodium ovalifolium, Stylosanthes guianensis, Arachis pintoi, Centrosema macrocarpum e C. acutifolium. Responde satisfatoriamente à aplicação de doses moderadas de calcário dolomítico (2,0 a 3,0 t/ha) e de fósforo (50 a 100 kg de P2O5/ha).
Estabelecimento - A semeadura deve ser realizada no início do período chuvoso (outubro/novembro). O plantio pode ser em sulcos espaçados de 0,6 a 1,0 m entre si, a lanço ou em covas (0,5 x 0,5 m) quando se utiliza mudas. A profundidade de semeadura deve ser de 2,0 a 4,0 cm, já que as sementes são pequenas, o que pode ser obtido pela passagem de um rolo compactador. A densidade de semeadura varia de 10 a 15 kg/ha, dependendo da qualidade das sementes e do método de plantio. Quando em consorciação com leguminosas, o plantio pode ser feito a lanço ou em linhas espaçadas de 1,0 m. As cultivares comerciais mais utilizadas para a formação de pastagens são a Nandi, Narok e Kazungula.
Produção de forragem e valor nutritivo - sua produtividade de forragem, em geral, é bastante elevada, no entanto, pode ser afetada por diversos fatores (solo, espaçamento, densidade de plantio, manejo e condições climáticas). Na Amazônia Ocidental, as produções de matéria seca estão em torno de 8 a 12 e, 2 a 3 t/ha, respectivamente para os períodos chuvoso e seco.
O valor nutritivo é considerado entre moderado e bom, considerando-se consumo, digestibilidade e composição química. Com duas a seis semanas de rebrote apresenta, em média, digestibilidade da matéria seca entre 55 e 60%; teores de proteína bruta entre 8 e 10%; teores de fósforo de 0,16 a 0,19%; potássio de 0,80 a 0,98% e de cálcio entre 0,24 e 0,30%.Todas as linhagens de setária contêm oxalatos que são ácidos orgânicos, conseqüência da presença de radicais de amônia no tecido vegetal. Normalmente as formas de oxalatos encontradas são ácido oxálico, oxalatos de potássio, sódio ou de cálcio. Podem ocorrer mortes de animais com baixo nível nutricional e não adaptados ao consumo dessa gramínea. Isso decorre do não desenvolvimento dos microrganismos do rúmen que degradam esses oxalatos. O nível tóxico para bovinos ocorre acima de 4%. A cultivar Kazungula pode atingir até 7% de oxalatos, mas seu normal situa-se ao redor de 4%, enquanto que a Narok apresenta níveis de 3 a 4%.
Manejo - pastagens bem formadas e manejadas apresentam uma capacidade de suporte de 1,5 a 2,0 UA/ha no período chuvoso e 1,0 UA/ha no período seco, dependendo do sistema de pastejo adotado e da disponibilidade de forragem. Sempre que possível utilizar pastejo rotativo, de modo a otimizar o desempenho animal. Recomenda-se retirar os animais da pastagem quando as plantas forem rebaixadas entre 25 e 30 cm de altura. Em Rondônia, para pastagens de setária cv. Kazungula, a utilização do pastejo rotativo (14 dias de ocupação por 56 dias de descanso) foi mais eficiente que o pastejo contínuo. Recomenda-se a utilização de 1,5 UA/ha no período chuvoso (outubro a maio) e 1,0 UA/ha no período seco (junho a setembro) Os ganhos de peso podem variar de 300 a 500 g/animal/dia e entre 280 e 450 kg/ha/ano. Visando conciliar produtividade e qualidade de forragem, as pastagens podem ser diferidas em março para utilização em junho e julho e, em abril para utilização em agosto e setembro.

Newton de Lucena Costa - Embrapa Roraima
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