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Estabelecimento, Formação e Manejo de Pastagens de Pojuca


Newton de Lucena Costa
O Pojuca (Paspalum atratum cv. Pojuca) foi coletado pelos Pesquisadores J. F. M. Valls, C. E. Simpson e W. L. Werneck, o primeiro e o terceiro da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia e o segundo da Universidade Texas A & M, em 1986, próximo à Terenos - MS, recebendo o número de coleta VSW 9880 e o BRA-009610. O local da coleta, com altitude de 530 m, é sujeito a inundações e possui um lençol freático superficial. O Pojuca é uma gramínea perene, de crescimento ereto, atingindo altura superior a 1,5 m. As folhas são tenras, com a metade superior dobrada para baixo. As lâminas foliares possuem poucos pêlos brancos e longos nos bordos da base da face ventral. A reprodução do capim Pojuca é apomítica e na região central do Brasil, o florescimento ocorre de meados de Fevereiro a meados de Março, com a colheita de sementes de Março à Abril. As sementes são marrons e lisas. Um grama tem em média 438 sementes puras.


Características agronômicas - excelente produção de forragem; grande velocidade de estabelecimento e de rebrota; boa aceitação por bovinos e eqüinos; pouco atacado por pragas e doenças; pequena exigência em fertilidade do solo; grande produção de sementes; média tolerância ao frio e resistência ao fogo. A palavra Pojuca, em tupi-guarani, significa: brejo, área úmida ou alagadiça, local preferencial para o plantio desse capim na região Central do Cerrado (Goiás, Sul e Centro de Tocantins e Minas Gerais). No entanto, seus rendimentos de forragem e sua persistência podem ser reduzidos quando submetido a períodos demasiadamente longos de alagamento. Ele também apresentou excelente desempenho em regiões com precipitação acima de 1.600 mm, como Mato Grosso, Rondônia e Acre. Na região Central do Cerrado, o Pojuca também pode ser plantado em áreas com solos bem drenados, embora ele seque rapidamente no início do período seco. Durante sua avaliação, não foi atacado por pragas ou doenças. Trabalhos específicos, conduzidos em casa-de-vegetação, demonstraram sua boa resistência ao ataque de cigarrinha-das-pastagens. O Pojuca é excelente alternativa ao quicuio-da-Amazônia (Brachiaria humidicola). Em comparação com o quicuio, o Pojuca produz mais forragem com melhor qualidade, permite maiores ganhos de peso, apresenta maior produção de sementes e a colheita ocorre em época mais favorável. Apesar de sua agressividade, o Pojuca pode formar consorciações estáveis com diversas leguminosas, notadamente aquelas de hábito de crescimento estolonífero ou prostrado (P. phaseoloides, A. pintoi, C. acutifolium, D. ovalifolium e C. mucunoides)(Costa et al., 2003).

Estabelecimento - a semeadura deve ser realizada no início do período chuvoso (outubro/ novembro). O plantio pode ser em linhas espaçadas de 0,5 a 1,0 m entre si ou a lanço. A profundidade de plantio deve ser de 2 a 4 cm. A densidade de semeadura é de 2 kg/ha de sementes com valor cultural de 100% (Costa et al., 2002). No plantio com máquinas, recomenda-se a mistura das sementes com superfosfato simples (40 a 50 kg/ha de adubo) para facilitar a regulagem da semeadora e melhorar a distribuição das sementes. Quando em consorciação com leguminosas, o plantio pode ser feito a lanço ou em linhas espaçadas de 1,0 a 1,5 m. O preparo do solo é o mesmo utilizado para a formação de outras pastagens ou seja: aração e gradagem. Entretanto, deve-se evitar que a semeadura seja feita com o solo demasiadamente pulverizado (fofo). O Pojuca também pode ser semeado em associação com milho e com arroz. Em Rondônia, a competição desse capim com as culturas não diminuiu a produtividade de grãos. No mesmo ensaio, no plantio realizado com arroz, a produção de MS do Pojuca (1932 kg/ha), foi superior a de B. humidícola (515 kg/ha) (Townsend et al., 2003a,b). O Pojuca tem baixa exigência em fertilidade de solos. A quantidade de corretivos e adubos deve basear-se na análise de solos. Recomenda-se a aplicação de calcário necessária para elevar a saturação por bases ao mínimo de 30%. Apesar de sua grande tolerância aos solos ácidos, responde satisfatoriamente a aplicação de doses moderadas de calcário dolomítico (1,0 a 2,0 t/ha) e de adubação fosfatada (50 a 80 kg de P2O5/ha)(Costa et al., 1998a). A adubação potássica deve ser realizada quando os teores deste nutriente forem inferiores a 30 ppm, sugerindo-se a aplicação de 40 a 60 kg de K2O/ha. Em geral, o Pojuca apresenta menor requerimento externo de P, quando comparado com os de Melinis minutiflora, B. decumbens, P. maximum cv. Centenário, Digitaria decumbens e Pennisetum purpureum, o que lhe assegura maior eficiência na absorção de P e, consequentemente, na produção de forragem. Para as condições edáficas de Rondônia, o nível crítico interno do Pojuca foi estimado em 1,53 g/kg de P, o qual foi obtido com a aplicação de 52 kg/ha de P2O5/ha. Para solos com baixos teores de potássio, a dose de máxima eficiência técnica foi estimada em 105 kg/ha de K2O, sendo o nível crítico interno, associado à 90% da produção máxima de forragem, estimado em 17,2 g/kg (Costa et al., 1996, 1998a,b; Costa & Paulino, 1996). 

Produtividade e composição química da forragem - em Rondônia, os rendimentos de MS estão em torno de 10 a 16 t/ha/ano. Em Porto Velho, em parcelas sob cortes mecânicos, o Pojuca produziu 60% mais que B. humidicola e 84% mais que B. dictioneura. Durante o período seco produz cerca de 20 a 30% de seu rendimento anual de forragem. Em Porto Velho, pastagens de Pojuca, submetidas a cargas animais de 2,0 e 3,0 UA/ha, respectivamente para os períodos chuvoso e seco, apresentaram rendimentos de MS de 3,6 e 2,0 t/ha e, 2,7 e 1,4 t/ha (Costa et al., 1999). Apresenta alta percentagem de folhas, cerca de 85% durante o ano. Em Rondônia, foram obtidos teores de 8,8 e 7,6% de PB; 0,19 e 0,14% de fósforo e, 0,41 e 0,44% de cálcio, respectivamente para plantas de Pojuca com 21 e 28 dias de rebrota, os quais foram superiores aos registrados com A. gayanus cv. Planaltina e B. humidicola (Costa et al., 1998b). Fernandes et al. (2003), avaliando a composição bromatológica do Pojuca, obtiveram teores de 68,11 e 71,69% de fibra em detergente neutro (FDN); 38,79 e 41,13% de fibra em detergente ácido (FDA); 26,63 e 28,47% de celulose; 5,07 e 6,58% de lignina e, 4,08 e 6,31% de sílica, respectivamente para plantas com três e seis semanas de rebrota. Ademais, os coeficientes de digestibilidade da MS, FDN e da PB foram significativamente reduzidos com o aumento da idade das plantas. A digestibilidade da MS é superior a 60% e trabalhos com animais em gaiolas, realizados em Planaltina, DF, indicaram que não existe limitação ao consumo da gramínea até 35 dias de rebrota. No entanto, o Pojuca apresenta baixa palatabilidade e, consequentemente, menor consumo de MS, notadamente com o avanço da idade de suas plantas, comparativamente ás espécies dos gêneros 
Brachiaria, Panicum, Cynodon ePennisetum. Fernandes et al. (2003), utilizando bovinos anelorados, constataram um decréscimo de 18% no consumo de MS, ao fornecerem forragem com seis semanas de rebrota (4,52 kg/dia), comparativamente àquela fornecida com três semanas de rebrota (5,47 kg/dia). Contudo, a ingestão média de MS, para todas as idades de rebrota, foi inferior àquela sugerida como padrão para bovinos (140 g/kg0,75) por Crampton et al. (1960). 

A velocidade de rebrota do Pojuca é alta e no período de chuvas, a taxa de expansão foliar pode atingir até 0,6 cm/dia. Com três semanas de rebrota, após cortes ou pastejo realizados a cada 30 ou 40 dias, são acumuladas aproximadamente 2,4 t/ha de MS (Costa et al., 1996, 2000). Em Rondônia, estabelecido sob seringais com 12 anos de idade, visando a formação de pastagens em áreas plantadas com espécies arbóreas, a produção do Pojuca foi de 1,7 t/ha de MS de forragem no período de chuva (média de 4 cortes) e de 1,5 t/ha no período de seca. Para o período chuvoso, essa produção foi semelhante à de B. humidícolae inferior à de B. brizantha cv. Marandu. No período seco, no entanto, o rendimento de forragem do Pojuca foi superior ao de B. humidícola e semelhante ao de B. brizantha cv. Marandu (Costa et al., 2001).

Manejo e utilização - o primeiro pastejo deve ser realizado 90 a 120 dias após o plantio. O Pojuca apresenta uma proteção razoável de seus pontos de crescimento, o que permite a utilização de pressões de pastejo maiores, comparativamente às espécies de hábito cespitoso. Pastagens bem formadas e manejadas apresentam uma capacidade de suporte de 1,5 a 2,5 UA/ha, durante o período chuvoso, e de 1,0 a 1,5 UA/ha no período seco. Os ganhos de peso/an/dia variam de 300 a 500 g no período chuvoso e de 150 a 200 g na época de estiagem. Os ganhos de peso/ha/ano estão em torno de 300 a 400 kg. O manejo mais adequado para a gramínea seria o pastejo rotativo com períodos curtos de descanso (menores ou iguais a 21 dias) e uso de cargas animal adequadas para manter a pastagem com cerca de 15 a 20 cm de altura. O pastejo deve ser iniciado quando as plantas atingirem entre 0,4 e 0,6 m de altura. Em Rondônia, Costa et al. (1999), avaliando pastagens de Pojuca, submetidas a pastejo rotativo (7 dias de ocupação por 21 dias de descanso), obtiveram ganhos de peso 0,398 e 0,242 kg/an/dia e 146,4 e 18,8 kg/ha, respectivamente para os períodos chuvoso e seco (Costa, 1996; 2003). Em pastagens de Pojuca consorciadas com A pintoi, estabelecidas sob solos de várzeas, Barcellos et al. (1997), para um período de avaliação de quatro anos, obtiveram um ganho médio de peso de 0,587 kg/an/dia e 630 kg/ha/ano. Visando conciliar produtividade e qualidade de forragem, as pastagens podem ser diferidas ou vedadas em março para utilização em junho e julho e, em abril para utilização em agosto e setembro. Neste sistema de manejo são obtidas produções de MS entre 2 e 4 t/ha e teores de PB entre 6 e 8% (Costa et al., 1996, 1997).

Referências Bibliográficas
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