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Estabelecimento, Formação e Manejo de Capineiras na Amazônia


Newton de Lucena Costa
O capim-elefante (Pennisetum purpureum Schum.), devido ao fácil cultivo, elevada produção de matéria seca, bom valor nutritivo, resistência a pragas e doenças, além da boa palatabilidade, tem sido a forrageira mais utilizada para a formação de capineiras na Amazônia Ocidental.


A capineira deve ser localizada em terreno plano ou pouco inclinado, bem drenado e próximo ao local de distribuição do capim aos animais. A área deve ser destocada, arada e gradeada para facilitar o desenvolvimento da planta e as atividades de manutenção e utilização. Em geral, um hectare de capineira, bem manejada, pode fornecer forragem para alimentar 10 a 12 vacas durante o ano. Nos solos ácidos a calagem deve ser realizada pelo menos 60 dias antes do plantio, aplicando 1,5 a 3,0 t/ha de calcário dolomítico (PRNT = 100%). No plantio recomenda-se a aplicação de 80 kg de P2O5/ha. A adubação orgânica poderá ser feita utilizando-se 10 a 30 t/ha de esterco bovino, no sulco de plantio, o que equivale a cerca de 50 a 70 carroças de esterco/ha. Após cada corte deve-se aplicar 5 t/ha de esterco e, anualmente, 50 kg de P2O5/ha. Caso a análise química do solo apresente valores baixos de potássio (< 45 ppm), sugere-se aplicar 60 kg de K2O/ha, sendo metade no plantio e metade após o segundo corte.

O plantio deve ser realizado no início do período chuvoso. As mudas devem ser retiradas de plantas com 3 a 12 meses de idade. Deve-se aparar as plantas e retirar as folhas para que ocorra uma melhor brotação. A quantidade de mudas necessárias para o plantio varia de acordo com o espaçamento. No sistema de duas estacas/cova, no espaçamento de 1,0 m entre sulcos e 0,8 m entre covas, necessita-se cerca de 25.000 estacas de 2 a 3 nós/ha. As mudas devem ser colocadas horizontalmente em sulcos com 10 a 15 cm de profundidade. Em média, um hectare fornece mudas para o plantio de 10 ha de capineira. As cultivares recomendadas são Cameroon, Mineiro e Pioneiro.

A freqüência entre cortes afeta marcadamente a produção de forragem, valor nutritivo, potencial de rebrota e persistência (vida útil da capineira). O primeiro corte após o plantio deve ser realizado quando as plantas estiverem bem entouceiradas, o que ocorre cerca de 90 dias após o plantio. Os cortes devem ser realizados a intervalos de 45 a 60 dias, ou quando as plantas atingirem de 1,5 a 1,8 m de altura (Gonçalves e Costa, 1986a,b). A altura de corte em relação ao solo depende do nível de fertilidade e umidade do solo. Quando as condições para as brotações basilares forem satisfatórias (solo bem adubado ou de alta fertilidade natural), o corte pode ser feito rente ao solo; caso contrário, deve ser efetuado entre 20 a 30 cm acima do solo (Gonçalves e Costa, 1986c). Os melhores resultados são obtidos com cortes feitos com terçado, foice ou enxada. Cortes mecanizados podem prejudicar a longevidade da capineira. Nas condições edafoclimáticas da Amazônia Ocidental, os rendimentos de forragem do capim-elefante variam entre 6 a 10 t/ha/corte de matéria seca.

Para facilitar o manejo a capineira deve ser dividida em talhões. Cada talhão deve ser totalmente utilizado numa semana e deve descansar por um período entre 45 e 60 dias até o próximo corte. Quanto menor o período de descanso maior será o valor nutritivo e menor a produção de forragem. Se um talhão não for completamente utilizado em uma semana, o seu resto deve ser colhido e o material fornecido a outros animais ou distribuídos na área como cobertura morta, visando não comprometer o bom manejo da capineira. Por exemplo: para um rebanho leiteiro de 25 vacas seria necessário 2,5 ha de capineira, a qual poderia ser dividida em oito talhões principais mais dois de reserva para situações críticas. Deste modo, utilizando-se um talhão a cada sete dias, o período de descanso entre cortes, num mesmo talhão, seria de 49 dias. Neste caso, os talhões poderiam ter uma área de 2.500 m2 (50 x 50 m). Apesar da capineira fornecer altas produções de forragem durante o período seco, seu maior rendimento ocorre durante o período chuvoso, quando normalmente as pastagens apresentam alta disponibilidade de forragem. No entanto, se na época chuvosa a capineira não for manejada, a gramínea ficará passada e com baixo valor nutritivo (muita fibra e pouca proteína). Logo, quando for utilizado durante o período de estiagem não proporcionará efeitos positivos na produtividade animal. A utilização da capineira deve ser suspensa no final do período chuvoso (março-abril), visando o acúmulo de forragem de boa qualidade para utilização durante o período seco. Em Rondônia, Costa (1989), para capineiras de capim-elefante cv. Cameroon diferidas em abril e utilizadas em julho e agosto, obtiveram rendimentos de MS de 5,71 e 6,11 t/ha, teores de PB de 8,32 e 7,84% e coeficientes de digestibilidade in vitro da MS de 58,24 e 53,76%, respectivamente.


Capim-elefante sob pastejo

O manejo do capim-elefante através de cortes nem sempre é acessível a todos os produtores, surgindo a utilização sob pastejo como uma alternativa bastante viável, tanto em cultivo puro como em consorciação com leguminosas forrageiras. Devido à alta produção de nutrientes, o capim-elefante proporciona elevadas produções de leite ou carne por animal e por área, desde que sejam adotadas prátics de manejo adequadas. No pastejo, é possível manter quatro a cinco vacas por hectare, número de animais superior aos que as pastagens formadas com outras gramíneas suportam.

A área da pastagem é definida em função do número de animais e da carga animal (UA/ha – 1 UA = 450 kg de peso vivo) a ser utilizada. A pastagem deve ser dividida em piquetes. A Embrapa Gado de Leite recomenda dividir em 11 piquetes de forma que os animais pastejam três dias em cada piquete, com descanso de 30 dias. As divisões internas devem ser com cerca elétrica, que consiste de um só fio de arame liso na altura de 1 m, com suportes distanciados de 10 a 15 m. Os esticadores são colocados a 50 m ou mais um do outro. A cerca de contorno deve ser a comum com arame farpado. A fonte de energia pode ser elétrica, bateria ou energia solar. Quando as plantas atingirem 160 a 180 cm de altura, deve-se fazer um pastejo suave para uniformização da pastagem, seguida de uma roçagem realizada a 20 cm de altura. Os animais devem entrar no pasto quando o capim estiver com altura entre 1,50-1,70 m. Nessa altura obtém-se maior equilíbrio entre produção e qualidade da forragem disponível. Devido as altas taxas de crescimento do capim-elefante, recomenda-se a utilização de carga animal entre 4 e 5 UA/ha. Em Rondônia, para pastagens de capim-elefante cultivar Mineiro consorciado com Pueraria phaseoloides, os maiores rendimentos de matéria seca e proteína bruta, bem como altura de plantas satisfatórias para o pastejo, foram obtidas com a utilização de 2 a 3 UA/ha com 42 dias de descanso no período chuvoso e, 1 a 2 UA/ha, com 28 a 42 dias de descanso, respectivamente, durante o período de estiagem.

Os animais devem ser retirados da pastagem quando as plantas estiverem com 0,80 a 1,00 m de altura, levando-se em conta o desfolhamento da pastagem. Deve deixar um resíduo de 15 a 20% de folha, para permitir uma rebrota mais rápida, mas sempre com permanência dos animais em torno de três dias em cada piquete. Não há necessidade de roçar o capim após a saída dos animais dos piquetes. As poucas folhas que permanecem nos caules favorecem a uma recuperação mais rápida da pastagem. Caso o resíduo de forragem após o pastejo seja elevado após os três dias de utilização, os animais podem permanecer mais tempo ou utilizar outros animais, como vacas secas ou novilhas, para ajudar a consumir a forragem ainda disponível. Na Embrapa Gado de Leite, utilizando-se capim-elefante cv. Pioneiro sob pastejo rotativo foram obtidas produções de 10 e 12 litros de leite/vaca/dia, com lotação de 5 vacas por hectare e ganhos de peso entre 800 e 1.000g/animal/dia para gado de corte. 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COSTA, N. de L. Efeito da época de diferimento sobre a produção de forragem e composição química do capim-elefante cv. Cameroon. Porto Velho, EMBRAPA-UEPAE Porto Velho, 4p. 1989. (Comunicado Técnico, 83).

GONÇALVES, C.A.; COSTA, N. de L. Altura e frequência de corte de capim-elefante (Pennisetum purpureum Schum. cv. Cameroon em Rondônia. Porto Velho, EMBRAPA-UEPAE Porto Velho, 8p. 1986a. (EMBRAPA-UEPAE Porto Velho. Comunicado Técnico, 40).

GONÇALVES, C.A.; COSTA, N. de L. Frequência de corte de capim-elefante cv. Cameroon em Rondônia. Porto Velho, EMBRAPA-UEPAE Porto Velho, 7p. 1986b. (EMBRAPA-UEPAE Porto Velho. Comunicado Técnico, 43).

GONÇALVES, C.A.; COSTA, N. de L. Altura de corte de capim-elefante cv. Cameroon. Porto Velho, EMBRAPA-UEPAE Porto Velho, 7p. 1986c. (EMBRAPA-UEPAE Porto Velho. Comunicado Técnico, 42).

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