Introdução
O Brasil é um país que possui lugar de destaque no mercado de agropecuária, onde os profissionais da área buscam sempre aprimorar seus conhecimentos e técnicas dentro da produção animal visando produzir cada vez mais produtos de qualidade.
Dentro do setor avícola, os avanços vêm ocorrendo ao longo dos anos nas mais diversas áreas, seja genética, manejo, sanidade ou nutrição. Na área da nutrição especificamente, a preocupação é sempre por melhorar os resultados zootécnicos, mantendo ou reduzindo os custos de produção.
As primeiras informações sobre a utilização de enzimas em rações avícolas foram obtidas a partir da descoberta de que grãos umedecidos, associados à suplementação enzimática, tinham maior aproveitamento nutricional pelas aves. A partir de então, o interesse ao uso de enzimas em rações para aves só vêm aumentado devido ao custo cada vez maior das matérias primas tradicionais e à busca por outros ingredientes alternativos como a cevada, aveia, arroz, trigo, dentre outros.
Na última década, a utilização de enzimas em dietas avícolas no Brasil, ganhou amplo espaço devido a vários motivos, entre os quais podemos destacar:
- A eficácia técnica-econômica do uso de “fitases” quebrou paradigmas freqüentemente encontrados na implantação de uma nova ferramenta tecnológica, neste caso, o uso das enzimas e complexos enzimáticos.
- A busca incessante por redução no custo por unidade de ganho na indústria avícola que está intrinsecamente ligada à redução no custo com alimentação.
- Variabilidade nos custos dos principais insumos/matérias-primas das dietas, e em alguns casos variação na composição nutricional.
- Disponibilidade regional de ingredientes alternativos específicos que apresentam perfil nutricional (proteína/carboidrato/lipídeos) diferenciada em relação á dieta padrão nacional (milho-farelo de soja-farinha de carne e ossos).
- Adoção da ferramenta tecnológica por parte dos técnicos da indústria avícola, acreditando e fomentando informações, creditando e validando os fatores e motivos descritos acima.
Utilizadas como aditivos para poedeiras comerciais, as enzimas, possibilitam o aumento da digestibilidade dos nutrientes, reduzindo a necessidade de um aporte de ingredientes de alto custo de inclusão na formulação da dieta. Dessa forma, o uso de enzimas na ração reduz o custo de produção, através da redução do custo de alimentação, sem prejudicar o desempenho das aves. Além dessa redução no custo de formulação, a inclusão de enzimas possibilita manter maior uniformidade do lote, o que também pode refletir na melhoria dos níveis de produção por possibilitar que o volume de ração e nutrientes fornecidos às aves esteja mais próximo da sua exigência nutricional.
Na formulação de rações para aves a utilização de ingredientes de origem vegetal supera os de origem animal. No entanto, a maior parte do fósforo proveniente dos alimentos de origem vegetal encontra-se combinado com o inositol formando a molécula do ácido fítico que tem um grande potencial quelatizador, o que diminui a solubilidade e a digestibilidade dos nutrientes. As aves têm baixa capacidade de utilizar o fósforo fítico, devido à produção insuficiente de fitase endógena, que é a fosfatase responsável pela hidrólise do ácido fítico. Como o fósforo é um mineral essencial por desempenhar importantes funções em vários processos metabólicos no organismo, ao formular dietas para aves torna-se necessário adicionar uma fonte de fósforo inorgânico que, depois da energia e da proteína, é o nutriente que mais onera o custo da ração de aves.As enzimas exógenas são substâncias protéicas que têm a capacidade de auxiliar na degradação de componentes específicos presentes nos alimentos e são obtidas de forma natural, a partir da fermentação. Os microrganismos que geralmente estão envolvidos na produção de enzimas são: bactérias (Bacillus subtilis, Bacillus lentus, Bacillus amyloliquifaciens stearothermophils e Bacillus), fungos (Triochoderma longibrachiatum, Asperigillus oryzae e Asperigillus niger) e levedura (Saccharomyces cerevisiae). São produzidas em todos os organismos vivos, desde animais e plantas mais desenvolvidos às formas mais simples de vida, pois as enzimas são essenciais para o processo metabólico. A maioria das enzimas correntemente utilizadas na indústria de alimentos e bebidas são derivadas a partir de Aspergillus, porém, as hemicelulases e celulases são derivadas de Trichoderma.
Recentemente, os genes que codificam enzimas diferentes, incluindo fitases, ß-glucanases e xilanases estão sendo clonados e expressos em diferentes sistemas de microorganismos e plantas.
Como benefícios relacionados ao uso de enzimas na dieta das aves pode - se observar: redução da viscosidade da digesta; melhora da digestão e absorção de nutrientes, especialmente da gordura e proteína; melhora o valor da energia metabolizável da dieta; melhora o consumo de ração e ganho de peso; redução do impacto ambiental; diminui o tamanho do trato gastrointestinal; altera a população de microorganismos no trato gastrointestinal; reduz a ingestão de água; reduz o teor de água das fezes; reduz o teor de amônia das fezes; reduz a produção de dejetos, o que inclui a redução de N e P.
Pode-se obter uma melhora significativa na digestibilidade dos alimentos através do uso de enzimas nas dietas, permitindo alterações nas formulações das rações de forma a minimizar o custo, maximizando o uso dos ingredientes energéticos e protéicos das rações, possibilitando o uso de ingredientes alternativos regionais de menor custo, em substituição ao milho e ao farelo de soja.
O fósforo é um mineral de extrema importância no metabolismo animal e está disponível nas matérias-primas utilizadas na fabricação de rações na forma de fitato, o que torna indisponível o seu aproveitamento por parte das galinhas poedeiras, já que estas não possuem a enzima que o degrada em uma quantidade suficiente. A fitase é a enzima que degrada o fitato, melhorando a digestibilidade dos alimentos, atuando assim na redução dos fatores antinutricionais, tais como os polissacarídeos não amiláceos, reduzindo a excreção de nitrogênio e fósforo, elementos estes considerados grandes poluidores do solos e das águas. A pobre biodisponibilidade do fósforo fitico presente nos cereais, sementes e em outros produtos é uma das maiores contribuições quando se refere à poluição através do fósforo. A utilização da enzima fitase na dieta de poedeiras possibilita uma menor variação na qualidade nutricional das dietas, ajudando em uma digestão mais rápida e completa, redução dos níveis de excreção de nutrientes pela menor poluição ambiental e ainda possibilita uma menor incidência de fezes úmidas. Assim, a fitase também evita a formação de complexos entre proteína – fitato, melhorando a disponibilidade de aminoácidos e, com a hidrólise do fitato através da enzima, elementos como o cálcio, magnésio, zinco, ferro e moléculas orgânicas, antes indisponíveis às aves, são liberados e em forma de serem amplamente aproveitados pelas aves em seu metabolismo natural.
Em meio a todos os benefícios citados anteriormente, é possível entender porque as enzimas estão sendo amplamente estudadas. Dentre eles, a ação sobre os fatores antinutricionais mais evidentes (presença de fitato e de polissacarídeos não amiláceos (PSNA)) nas dietas que tem como base ingredientes vegetais, que incluem muitas vezes a utilização de produtos alternativos ao milho e a soja comumente utilizados, são de extrema importância para o bom desempenho das aves a baixo custo de produção.
Considerações finais
O uso de enzimas como aditivo na alimentação expandiu-se rapidamente. Na última década, os estudos conduzidos para estudar os efeitos da utilização de enzimas na alimentação sobre o desempenho de frangos de corte e galinhas poedeiras foram extensos. Hoje é possível afirmar que o uso das enzimas traz benefícios à produção avícola que vão desde uma significativa redução no custo das dietas, melhora do desempenho animal e até a contribuição na melhora do ambiente.
Com a elevação dos preços das matérias primas tradicionais, como o milho e o farelo de soja, surge a necessidade da utilização de novas alternativas que, associadas à inclusão de enzimas, tornam-se viáveis e por conseqüência permitem gerar dietas ainda mais econômicas.