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É preciso restabelecer a credibilidade da aviação agrícola, urgentemente!


Jeferson Luís Rezende

Antes de iniciar este texto, para não haver dúvidas em relação a minha isenção sobre o “tema”, é preciso esclarecer que além de piloto agrícola, sou também bacharel em agronegócios, e consultor em tecnologia de aplicação de defensivos.

Sempre fui um apaixonado pela atividade aeroagrícola, e desde jovem, na medida do possível, estive próximo dos Ipanemas, olhando, observando enfim as peripécias que esses aviões e os seus pilotos executavam pelos campos afora.

Mais tarde, quando tive oportunidade, ingressei no CAVAG (Curso de Piloto Agrícola), e obtive o tão sonhado “brevê” de Piloto Agrícola.

O fato é que por motivos diversos, acabei não me dedicando exclusivamente a Aviação Agrícola, envolvendo-me também com outras atividades ligadas ao setor de agronegócios. E, talvez, ou com certeza, estou convicto de que este foi um caminho interessante e muito positivo, que acabei por trilhar.

Desde então, tenho me dividido entre voar, prestar consultorias técnicas-administrativas, dar aulas num Curso Universitário, realizar Palestras sobre Tecnologia Aérea e Terrestre, e inclusive, vender produtos ligados ao segmento de aplicação de defensivos.

Feita a devida apresentação pessoal, entremos agora no assunto em si, acima epigrafado: a necessidade de a aviação recuperar a sua credibilidade junto aos produtores rurais especialmente.

Embora a AVIAÇÃO AGRÍCOLA seja uma ferramenta eficiente, de qualidade, que há muitos anos vem colaborando com a redução de perdas e o incremento da produtividade agropecuária, ela ainda, infelizmente, é vista com muita restrição e dúvida pelo meio rural. Isso é um fato, público e notório. Tanto que, embora tenha havido um aumento substancial da área plantada de soja, milho e algodão no país, não ocorreu um incremento do uso da tecnologia aeroagrícola na mesma proporção.

E isso, tem sim algumas explicações, que podem e precisam ser entendidas e observadas por todos que labutam no meio agrícola e aeroagrícola.

Hoje, por exemplo, estive reunido com alguns agricultores e agrônomos, de uma grande Cooperativa Agropecuária do Paraná, que repetiram o que eu já tinha ouvido antes; em outros pontos do estado, de outros produtores e técnicos: o problema da aviação é que ela não respeita os limites meteorológicos, os pilotos querem aplicar praticamente o dia inteiro (para vencer as áreas contratadas), independentemente das condições do vento e da umidade relativa! Como se este problema não existisse nos tratamentos terrestres, mas, isso é uma outra história. Um erro não justifica o outro.

Conversei longamente com um Agrônomo bastante técnico, que gosta da aviação, e ele me dizia: recomendei para um dos meus cooperados, que experimentasse aplicar pelo menos uma parte do fungicida no seu milho com avião, mas ele se mostrou bastante contrariado com a idéia, justificando a sua argumentação em cima dos resultados apresentados pelo setor de pesquisas da Cooperativa, que mostrou ter havido um grande número de “falhas” nas aplicações aéreas de fungicidas na Soja, na última safra.

E disse mais: que os problemas ocorridos eram fruto da falta de integração da AVIAÇÃO com o Departamento Técnico da Cooperativa, e que uma Empresa Aeroagrícola, por ser prestadora de serviços, deveria estar efetivamente praticando o que há de mais moderno em termos de tecnologia de aplicação, e em permanente contato/sintonia com os técnicos do campo. Algo que eu também concordo.
Um exemplo: depois de alguns problemas (pontuais, mas, importantes), que ocorreram na região central do Paraná, troquei alguns e-mails com o Mestre Eduardo Araújo, da AGROTEC, com o objetivo de contribuir com a solução do mesmo. E ele, como sempre, de maneira pronta, ressaltou que a grande questão estava na necessidade de se trabalhar “tamanho de gotas”, de ajustar adequadamente o equipamento para as condições técnicas de trabalho da região; no que eu também concordo plenamente.

Mas, aí eu pergunto a todos vocês que estão lendo este Artigo: meus colegas Pilotos, e as suas Empresas, estão realmente praticando isso? Estão efetivamente ajustando tamanho de gotas de acordo com as peculiaridades das aplicações? Estão trabalhando em sintonia com os Agrônomos, e acima de tudo, respeitando as condições climáticas?

Acredito que boa parte, e provavelmente, a grande maioria dos aviadores e das empresas aeroagrícolas, estão trabalhando dentro do recomendado, e fazendo uso de tecnologia de ponta. Mas, e aquela parcela menor, aqueles operadores que ainda insistem em trabalhar fora dos parâmetros, e/ou que não procuram uma reciclagem técnica permanente: quanto de estrago eles estão fazendo na imagem da AVIAÇÃO?

Talvez seja imensurável quantificar isso, ou responder com clareza esta pergunta. Mas, certamente, esta pequena parcela está prejudicando de maneira importante toda uma atividade produtiva, que é o setor aeroagrícola.

É importante ressaltar que os problemas de credibilidade e de aceitação, descritos acima, não querem dizer necessariamente, que o operador foi irresponsável ou leviano, quando executou o serviço. Erros pontuais podem ocorrer em qualquer atividade. Mas, devem servir de parâmetro para todos que atuam no setor, para uma reflexão mais profunda a respeito de “como estamos trabalhando”, e o que exatamente, o “campo espera de nós”.

Com o advento das doenças na cultura da Soja, e mais recentemente, no Milho, a aplicação aérea deverá ganhar importância ainda maior dentro da cadeia produtiva. Mas, para que ela consiga o seu espaço em definitivo, como uma aliada de primeira hora e não apenas como um bombeirão, terá que rever de maneira urgente, conceitos e procedimentos técnicos e administrativos.

Daí a necessidade de serem reforçadas ações, tanto por parte do SINDAG (Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola); como também, pela ANAC – Agência Nacional de Aviação; pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA; e demais Instituições de Ensino e Pesquisas; no sentido de difundir amplamente técnicas e tecnologias disponíveis e necessárias para a execução de uma aplicação aérea eficaz.

É imperativo criarmos como via de regra, a implantação do conceito de QUALIDADE TOTAL, da EFICÁCIA, no seio das Empresas Aeroagrícolas e das Escolas de Aviação.

A AVIAÇÃO AGRÍCOLA deste século evoluiu de maneira substancial, exige de todos que atuam no mercado, entrosamento e troca de informações contínuas com os demais segmentos da cadeia produtiva, para a realização plena das suas missões.

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