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É preciso desamazonizar a BR 163!


Amado de Olveira Filho

            A BR 163 inicia-se no município de Tenente Portela no Rio Grande do Sul, passa pelo Estado de Santa Catarina e Paraná na região sul, corta o Estado de Mato Grosso do Sul, sobrepõe a BR 364 entre Rondonópolis/Cuiabá/Posto Gil em Mato Grosso, passa por Santarém no Pará e termina numa localidade chamada Tirios na fronteira do Brasil com o Suriname. Assim, a BR 163 é uma rodovia que corta todo o território brasileiro, porém, curiosamente, em todo o Brasil e mais fortemente no Estado de Mato Grosso, é conhecida como Cuiabá/Santarém. Amazonizaram a BR 163, a tal ponto, que até àqueles que defendem a sua conclusão, também a denomina Cuiabá/Santarém.

            Para se ter uma idéia do tamanho da polêmica sobre o assunto, já em 1929, no Governo mato-grossense de Mário Corrêa da Costa é que houve a construção de uma rodovia ligando Cuiabá a Campo Grande, hoje trecho da BR 163 que sobrepõe a BR 364, na época, o Governador tentando se justificar do isolamento da região verbalizou a seguinte frase: "...voltei-me para a longínqua e isolada Região do nosso opulento Noroeste quase desligado da comunhão mato-grossense merecedora da nossa melhor atenção e solicitude..."

            Estava certo Mário Corrêa da Costa, as paragens mato-grossenses, significavam muito pouco para a Nação. Já no Governo de Getúlio Vargas, outra forte tentativa de ligar a região central a norte constou de estudos e iniciativas de colonização tentando chegar a Santarém a partir de Nova Xavantina na região do Araguaia. Tudo isto prova que não é de agora e nem tão pouco em função apenas da commodity soja, que o Brasil busca uma saída para o norte e a possibilidade efetiva de alcançarmos outras nações com menor custo de transporte.

            Em 1975, o Congresso Nacional através da lei nº. 6.252 sob a Presidência de José de Magalhães Pinto, denomina "Senador Filinto Müller" a BR-163 que liga São Miguel D' Oeste município do Estado de Santa Catarina, à fronteira do Suriname. Trazemos outros dois fatos importantes, o primeiro o fato de a família Muller ter se aportado em Mato Grosso em 1843 e, portanto Filinto Muller ser mato-grossense e o segundo, mesmo que a homenagem seja do trecho de São Miguel D' Oeste a divisa do Suriname, portanto, mais uma vez temos claro que é uma rodovia que não pode ser denominada tão somente de Cuiabá/Santarém.

            Neste contexto, podemos então afirmar que a BR 163 contribuiu para a ocupação e desenvolvimento da região sul e fortemente da região centro-oeste, faltando apenas uma pequeníssima parcela, considerando toda a sua extensão, para que a mesma conclua todo o processo de desenvolvimento para a qual foi concebida.

            É certo que devemos buscar todas as logísticas para aperfeiçoar o transporte de nossa produção, até porque, segundo a Associação Brasileira de Logística (ASLOG-1997), as chamadas "distâncias econômicas universais", o transporte rodoviário seria recomendável para distâncias de até 500 km; o modal ferroviário seria mais indicado para distâncias entre 500 a 1.200 km; e o hidroviário, para distâncias acima de 1.200 km. Portanto, sob a ótica econômica, as promessas de campanhas de todos os candidatos a Presidente da República, mais uma vez é a de que "se eleito for, promoverei a intermodalidade de transporte ligando o Centro-Oeste ao Norte do Brasil".

            Precisamos da conclusão da BR 163, para isto, precisamos rejeitar com veemência posições radicais de lideranças ambientais e identificar em todos os movimentos favoráveis pessoas que não estão tratando da questão apenas como um mote de vida, porém, devemos somar àquelas com o discernimento e bom senso capazes de aglutinar numa mesma direção pessoas e autoridades comprometidas de fato com o desenvolvimento de Mato Grosso e, sobretudo desamazonizar a Rodovia Filinto Muller, permitindo-nos gozar de todos os benefícios gerados pela BR 163, da mesma forma, onde já foi concluída.

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