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Dívidas rurais, o problema continua!


Amado de Olveira Filho

Conversa entre dois produtores rurais: "Vamos de novo, quem sabe os homens vêem o que estamos passando e decidem nos ajudar". Esta conversa se deu quando da preparação da viagem a Brasília para a manifestação de ontem. Discordei veementemente dos dois e provei a eles que estão reivindicando ações do governo federal que foi quem criou todo este problema com os planos Cruzado, Bresser, Verão, Collor e Real.

Este comportamento é comum no meio rural, estamos falando de uma classe social extremamente heterogênea, seus membros são proprietários de fazendas de todo o tamanho, porém, a maioria absoluta com o mesmo problema, estão endividados, normalmente com outra similaridade, quanto maior a fazenda, maior o tamanho da dívida, sem exceção. Paradoxalmente, esta gente é responsável por 25% do PIB brasileiro e por 27 milhões de empregos e US$ 50 bilhões de superávit na balança comercial.

Outro fato que certamente será curioso para aqueles que não acompanham a economia agrícola brasileira é a frase repetida há mais de uma década por lideranças e parlamentares ruralistas: "A agricultura vai bem, porém, o agricultor, um dos mais importantes agentes do processo, vai mal". Esta é a realidade, a atividade que gera bilhões de dólares para o superávit em nossa balança comercial, da mesma forma gera bilhões de reais de dívidas aos seus principais agentes, os produtores rurais.

É importante que a sociedade conheça em detalhes as razões do endividamento rural brasileiro, é extremamente importante, que jovens acadêmicos discutam este fenômeno das conseqüências dos planos econômicos para a agricultura e pecuária brasileira. Afinal, quando um setor acumula dívidas superiores a R$ 110 bilhões, alguma coisa precisa acontecer.

Os planos tornaram a situação do endividamento crônica, os planos Cruzado, Bresser e Verão eliminaram a correção monetária e incentivaram os produtores rurais a contratarem empréstimos junto a instituições financeiras. O fracasso do Plano Cruzado começou com o recrudescimento do processo inflacionário. No início de 1987 chegou o Plano Bresser reintroduzindo a correção monetária plena nos financiamentos à agricultura, teoricamente em busca do controle da inflação.

O resultado prático do Plano Bresser para os produtores, com a volta da correção monetária sobre suas dívidas, de um momento para o outro, foi que não puderam liquidá-las. Ao contrário do pretendido pelo governo, a inflação elevou-se, e a conseqüência foi que a dívida contraída pelo setor atingiu o patamar de 11 bilhões de dólares naquele ano.

Em 1989 veio o Plano Verão, que para completar os percalços impostos ao produtor congelou os preços na hora da comercialização e onerou em janeiro daquele ano em 14,83% a produção, em face da aplicação da correção monetária integral até o dia 15 de janeiro.

O Plano Collor, cheio de estardalhaço, chegou em março de 1990, suas conseqüências foram ainda mais perversas, já que os contratos de operações de crédito rural foram onerados com índice de correção monetária de 84,32%, enquanto os preços agrícolas tiveram reajustes de tão somente 33%. Estabeleceu-se o caos no meio rural, esta situação permanece até os dias atuais.

O último plano econômico, o Plano Real, reduziu a inflação a níveis suportáveis, porém tornou o setor agropecuário sua âncora Verde, onde os preços agrícolas para produtos de consumo interno são manipulados por importações e outros mecanismos de controle de preços e ainda, o Estado brasileiro não conseguiu desde então investir em infra-estrutura necessária para o incremento da produção, assim não se verifica renda capaz de enfrentar tamanho passivo. Portanto, não há o que discutir. Com a palavra o governo federal!

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