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Dinheiro estrangeiro nos salva



Argemiro Luís Brum
Um dos indicativos de que a situação econômica brasileira está bem mais difícil, na esteira da crise mundial que persiste, encontramos no importante déficit da balança de transações correntes nacional. O mesmo atingiu a US$ 4,4 bilhões apenas em junho, acumulando um total de US$ 25,3 bilhões no primeiro semestre de 2012. Nesse ritmo, o mesmo superará largamente os US$ 50 bilhões em todo o ano. Esse déficit significa que, mesmo diante de uma crise mundial que dura cinco anos e que se agrava, atingindo inclusive os fundamentos da economia brasileira, nosso país continua gastando mais do que deveria, sem gerar nenhuma poupança, tão necessária ao investimento produtivo.


A situação só não é pior porque os investimentos externos diretos (capital externo produtivo) vêm ainda entrando de forma significativa no Brasil, talvez por falta de onde ir nesse momento difícil da economia mundial. Assim, no primeiro semestre de 2012 o Brasil recebeu US$ 29,7 bilhões em capital externo, fato que cobriu o rombo da conta de transações correntes. A meta brasileira, para esse ano, é de US$ 50 bilhões. Ora, será preciso mais se quisermos cobrir o rombo final na balança corrente do país. Ou então, o que parece difícil, pelo nosso histórico mais recente, deveríamos urgentemente frearmos os gastos. Pelo sim ou pelo não, o fato é que a entrada deste dinheiro estrangeiro está nos salvando, mais uma vez.

Dinheiro estrangeiro nos salva (II)

Porém, o volume de investimentos externos diretos que entrará no Brasil, em 2012, tende a ser menor do que no ano anterior. Em 2011, tais investimentos em nosso país somaram US$ 66,7 bilhões, após US$ 48,5 bilhões em 2010. Pelos dados do ano passado, ficávamos em quinto lugar no mundo na recepção destes recursos, atrás apenas dos EUA, China, Bélgica e Hong Kong. Mesmo assim, o Brasil representou apenas 4,4% de todo o fluxo mundial de recursos em 2011.

Todavia, a performance positiva, deixou para trás, por enquanto, os parcos 1,3% de participação que tínhamos ainda em 2006. Para efeitos comparativos, o conjunto dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) recebeu um total de US$ 280,9 bilhões em investimentos externos diretos em 2011, com alta de 21,1% sobre o ano anterior. Esse grupo de países respondeu por 18,4% de todo o fluxo de investimentos do mundo, sendo que o Brasil, no total recebido pelo grupo, participou com 23,7%. É da falta desse tipo de recurso que se recente países como a Argentina, Bolívia, Grécia, Venezuela e agora a Espanha, diante da crise econômica em que se envolveram a partir de políticas que privilegiaram mais gastos do que poupança, muito em razão de ações populistas, que desestruturaram suas economias. Esse é o receio que os brasileiros devem ter, caso o atual governo não consiga sair das medidas paliativas para ações de correção estrutural em nossa economia. Pior será ainda se cair em tentações populistas do tipo das que afloraram no final do mandato do ex-presidente Lula.


A relação entre inadimplência e educação

Estimulados pelo governo, a partir de 2009/10, os cidadãos brasileiros foram às compras. A estratégia oficial era enfrentar a crise econômica via aumento do consumo interno. Aproveitando-se da existência de uma alta e histórica demanda reprimida, o governo liberou o crédito e reduziu impostos e juros. A estratégia deu resultado no imediato, levando a economia nacional a crescer 7,5% em 2010. Todavia, a partir do ano seguinte ela se esgota e, inclusive, se torna negativa.

No ano passado o crescimento econômico cai para 2,7% e nesse ano se desenha recuar para 1,9%. Isso porque, com pouco conhecimento financeiro e educação econômica, grande parte dos brasileiros acabou gastando mais do que podia, gerando um endividamento que rapidamente se transforma em inadimplência. Mesmo assim, o governo subestimou o problema e continuou insistindo para que o consumo ocorresse. Hoje, meados de 2012, a economia continua travada e piorando. A receita consumista não gera mais resultados, mesmo porque ninguém troca os bens que comprou a toda hora. Mas a conta ficou no bolso do consumidor, por inabilidade governamental, que não soube transmitir responsabilidade ao gasto familiar. Assim, fechamos o primeiro semestre com uma inadimplência em crescimento de 19,1% sobre igual período do ano passado. Pior, 14% das famílias brasileiras já devem cinco vezes mais do que a renda que recebem, enquanto que 30,5% possuem contas em atraso. O caos econômico popular se instala e inviabiliza o consumo e, com ele, o próprio mercado interno em grande parte.

A relação entre inadimplência e educação (II)

Já não somos mais um país de classe média sustentável, se é que fomos um dia. Simplesmente porque há uma relação diretamente proporcional entre a falta de educação, no sentido de formação, da população e a inadimplência. Tanto é verdade que mais uma falácia nacional caiu por terra: não somos um povo alfabetizado. Pelo contrário, segundo o Indicador do Analfabetismo Funcional, somos um país formado por 74% de analfabetos funcionais (não compreendem o que leem e encontram enormes dificuldades em executar as tarefas que dependem de uma formação elementar). Ou seja, apenas 26% do povo brasileiro é plenamente alfabetizado.


Esse índice é o mesmo de 2001. Ou seja, passamos 10 anos de um governo que tentou vender a imagem de defensor do desenvolvimento, sem praticamente nada realizar de concreto em prol desse desenvolvimento. Foi nesse contexto que, desde 2010, o governo passou a conclamar a população a consumir a qualquer custo. O mínimo que se pode dizer é que, embora a ideia fosse correta, a forma de fazê-lo o foi de um amadorismo e irresponsabilidade inigualável. Também pudera, muitos dos que nos governam ou governaram, inclusive nas altas esferas da União, são oriundos dessa parcela da sociedade que compõe o grande grupo de analfabetos funcionais. Em tal contexto, não há modelo econômico que resista, por melhor que ele seja.

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