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Desenvolvimento sustentável: petróleo x biocombustíveis


Fábio de Salles Meirelles

Recentemente, as mídias nacional e internacional deram grande destaque ao anúncio, feito pela Petrobras, da descoberta de uma imensa reserva de petróleo no litoral brasileiro. Se confirmadas as expectativas, em poucos anos, o Brasil estará entre os dez maiores produtores de petróleo do mundo.

A notícia, sem dúvida, merece ser comemorada. Essa nova reserva de petróleo seguramente representará um considerável reforço à economia nacional. Porém, a receita fácil originária da exportação do petróleo pode se tornar uma armadilha para o verdadeiro desenvolvimento e devemos saber evitá-la.

O Brasil é um País que pelo esforço de seus empreendedores desenvolveu uma agricultura considerada das mais competitivas do mundo. Hoje, caminhamos firmemente no sentido de nos tornarmos uma referência na produção de energia renovável com base nos biocombustíveis, segmento dinâmico no qual o Brasil dispõe de tecnologia de ponta e de todas as condições para assumir a liderança mundial. São conquistas importantes, das quais não podemos abrir mão. Causa-nos certa apreensão a possibilidade de que o Brasil, a partir da abundância de petróleo, deixe de caminhar no sentido do verdadeiro desenvolvimento sustentável representado, principalmente, pelo desenvolvimento dos biocombustíveis e da produção de grãos.

Além do álcool, um combustível já consolidado, a agricultura energética está sendo impulsionada também pelo biodiesel, que representa um novo mercado para os óleos vegetais, pois pode ser produzido a partir de uma grande variedade de espécies, em diferentes regiões do Brasil. Essa característica impulsionará o desenvolvimento sócio-econômico em todo o território brasileiro, gerando emprego, renda e integração regional.

É importante mencionar a capacidade de geração de emprego e renda dos biocombustíveis, pois eles representam novas atividades que se somarão à matriz produtiva brasileira. A cana-de-açúcar é um exemplo. Na área rural, essa cultura responde pela manutenção de aproximadamente 1,5 milhão de empregos, sem contar os postos de trabalho criados na indústria de insumos, processamento, transporte, distribuição e comércio. Comparativamente, a produção de etanol de cana gera um número de empregos por unidade de energia produzida cerca de 100 vezes maior que a indústria do petróleo.

Na visão dos produtores rurais, os biocombustíveis fazem parte de um negócio que vai além do suprimento interno de combustível, pois ultrapassa as fronteiras do Brasil, podendo servir como plataforma de comercialização de tecnologia, geração de divisas e, porque não, consolidação estratégica e inserção geo-política do Brasil. Nesse contexto, é preciso mencionar a oportunidade criada pelo Protocolo de Kyoto que determina a redução de emissão de gases causadores do efeito estufa. Um dos mecanismos é estimular os países que reduzirem suas emissões, por meio da comercialização das cotas de carbono a outras nações que não se enquadraram ao Protocolo.

Nossa posição de defensores da livre iniciativa, do empreendedorismo e do desenvolvimento sustentável, nos coloca na obrigação de emitir esse alerta. O petróleo, agora descoberto, deve contribuir verdadeiramente para o crescimento do País, mas sem colocar em segundo plano o desenvolvimento dos biocombustíveis, que hoje representam uma contribuição para a produção de grãos e a fonte do verdadeiro desenvolvimento sustentável do Brasil.

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