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Desafios ao manejo de doenças em soja no Brasil


FMC
Na safra 2011, a produção brasileira de soja superou 70 milhões de toneladas, com uma média aproximada de 50 sacos por hectare. Contudo, muitos produtores vêm obtendo, sistematicamente, rendimentos bem acima da média. O melhoramento genético da soja tem nos proporcionado cultivares cada vez mais produtivos. O desafio de colhermos 100 sacos/ha está próximo de ser alcançado, porém com um indivíduo bem mais suscetível a doenças. A sustentabilidade da cultura dependerá muito do manejo utilizado, o qual deve considerar vários fatores, entre eles as características dos cultivares, das doenças e dos fungicidas.

 
Mudanças nos cultivares de soja

Nos últimos anos, grandes mudanças ocorreram nos cultivares de soja. Os materiais que predominam no campo hoje possuem ciclo mais curto, têm área foliar menor e são bem mais produtivos que os anteriores.

Contudo, sua suscetibilidade para algumas doenças também é maior, especialmente aquelas causadas por fungos necrotróficos. A produção de grãos se tornou mais intensiva por unidade de tempo e de área foliar. Por isso, a margem de tolerância aos fatores de danos, como as pragas e doenças, é mínima. O foco do manejo hoje deve ser direcionado à prevenção de doenças e à manutenção da área foliar da planta, para que ela possa expressar seu potencial.
 
Mudanças nas doenças e seus agentes

As principais doenças da soja no Brasil são a ferrugem asiática, o mofo branco, a antracnose, a mancha alvo, o oídio e o complexo de doenças de final de ciclo. Apesar de todos os esforços com relação ao seu manejo, poucas diminuíram de importância na última década. Ao contrário, suas epidemias são frequentes todas as vezes em que a combinação de ambiente e manejo lhes é favorável.

As doenças mencionadas anteriormente são causadas por fungos, os quais possuem mecanismos de variabilidade genética que lhes permitem se modificar, sendo a consequência prática desse processo a quebra da resistência de cultivares e a perda da sensibilidade a fungicidas. O aparecimento do oídio em meados dos anos 90 e da ferrugem asiática em 2011 representou novos e grandes desafios ao manejo de doenças do Brasil. O manejo anteriormente praticado se limitava ao controle de doenças de final de ciclo, geralmente em única aplicação no enchimento de grãos da cultura. Os ganhos eram pequenos e o uso do controle químico, questionável.

O advento das novas doenças desencadeou mais estudos e pesquisas, que culminaram em produtos mais eficazes, tecnologias de aplicação mais eficientes e critérios mais efetivos para a aplicação dos fungicidas.

Além do oídio e da ferrugem asiática, um grupo grande de doenças, causadas por fungos necrotróficos (se alimentam, reproduzem e sobrevivem em tecido morto), teve sua importância aumentada nos últimos anos. Entre elas estão a antracnose, o mofo branco, a mancha alvo e outras doenças de final de ciclo. Estas doenças já há muito existem no Brasil, mas a introdução de cultivares mais suscetíveis a elas e a monoculture de soja em semeadura direta foram os fatores que mais diretamente favoreceram o seu aumento. O controle destas doenças pela resistência genética e pelo fungicida é mais difícil, portanto seu manejo representa dificuldades adicionais e desafios grandes pela frente.


Necessidade de Manejo em Soja  

Se dividirmos a planta em duas partes, teremos duas realidades diferentes. Na metade superior da planta, a dinâmica das doenças já é mais bem conhecida e a deposição dos fungicidas durante a aplicação é melhor. A metade inferior reserve ainda uma série de desafios, tais como a presence de patógenos, especialmente os necrotróficos, sem a ocorrência de sintomas visíveis (doença oculta), as mudanças que ocorreram nos cultivares novos, como a maior presença de vagens nesta parte da planta, e a dificuldade de atingi-la como fungicida após o fechamento do espaço entre as linhas do cultivo.  Especialistas em tecnologia de aplicação mostram que menos de 5% do fungicida aplicado atinge o terço inferior da planta após o fechamento das ruas. O conhecimento e manejo desses desafios podem significar a possibilidade de ganhos adicionais. O manejo de doenças em soja pode ser iniciado em três momentos: na semente, na fase vegetativa (estádios V4 a V6) ou na reprodutiva (estádio R1 em diante). Esta última fica limitada pelo problema de deposição mencionado acima. Por este motive, esse momento vem sendo substituído pela fase de pré-fechamento da cultura, geralmente nos estádios V9 e V10 (plantas com nove a dez folhas na haste principal).

Considerações Finais

As mudanças que observamos nos cultivares de soja nos últimos anos sinalizam a tendência de planta para o futuro: ciclo mais curto, menos área foliar, mais produtiva, mas com maior suscetibilidade a doenças. A exceção tem sido o desenvolvimento recente de cultivares resistentes à ferrugem, para a qual também dispomos de fungicidas altamente eficazes.

Os cenários presente e future são preocupantes quanto às doenças de final de ciclo, antracnose, mancha alvo e mofo branco. Manejar estas doenças é bem mais complicado que controlar a ferrugem asiática.


* Por Carlos Alberto Forcelini - Possui graduação em Agronomia pela Universidade de Passo Fundo (1983), mestrado em Fitopatologia pela Universidade de São Paulo (1990) e doutorado em Fitopatologia pela University of Florida (1997). É professor titular da Universidade de Passo Fundo. Tem experiência na área de Agronomia, com ênfase em Epidemiologia, atuando principalmente nos seguintes temas: controle, epidemiologia, tecnologia de aplicação e doenças em cereais de inverno e soja.

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