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De novo, nortão de Mato Grosso em apuros!


Amado de Olveira Filho

  Se dependesse do Ministro Roberto Mangabeira Unger, aquele que cuida dos assuntos brasileiros de longo prazo, o nortão de Mato Grosso não estava, em apuros. Ocorre que para o Ministro, em seu trabalho denominado Projeto Amazônia – Esboço de uma proposta, a questão amazônica passa por “grandes linhas de estratégias específicas para as diferentes partes da Amazônia.”
      Mangabeira Unger, trata o assunto sem paixões, portanto é possível ler seu trabalho e entender que com bom senso e responsabilidade é possível resolvermos esta complexa questão. Vejam o que pensa o Ministro em alguns parágrafos de seu trabalho Projeto Amazônia – Esboço de uma proposta.

     Afirma o Ministro: “O ponto de partida é enfrentar problema central. Há hoje desnível perigoso entre o fervor do ambientalismo, que toma a Amazônia como tema predileto, e o relativo primitivismo das idéias econômicas disponíveis a respeito da ocupação da Amazônia. No espaço deixado por esse descompasso, proliferam no país duas idéias inadequadas a respeito do futuro da Amazônia.

      De acordo com a primeira idéia, a Amazônia deve virar parque para o benefício e o deleite da humanidade. As únicas atividades produtivas a tolerar nela seriam as iniciativas extrativas rudimentares. Dessa regra estaria eximido apenas tudo o que puder ser produzir em cidades rigidamente separadas da selva circundante.

      De acordo com a segunda idéia, a Amazônia deve ser dividida entre grandes reservas florestais, fechadas a quase toda a atividade econômica, e áreas, também grandes, em que a floresta cede lugar a atividades produtivas. Atividades que implicam desmatamento, como a pecuária extensiva e o plantio de soja. Não há como ou por que resistir às forças do mercado.

      Se o Brasil for obrigado a escolher, na Amazônia, como em qualquer outra de suas grandes regiões, entre desenvolvimento e preservação da natureza, escolherá desenvolvimento. É, porém, escolha inaceitável e desnecessária. Temos condições de construir na Amazônia o que nos países ricos de hoje tanto se fala e quase nunca se pratica: um modelo de desenvolvimento que ao mesmo tempo utilize e preserva a natureza. Para isso, porém, é preciso imaginar e ousar.

     O eixo da solução necessária é um projeto de zoneamento econômico e ecológico que possibilite a formulação de estratégias econômicas distintas para as diferentes partes da Amazônia. (Desconsideremos, para essa finalidade, as diferenças conceituais entre "zona"s e outras divisões geográficas.)

      Há muito que se reconhece a importância de tal zoneamento. Em grande parte da Amazônia, ainda não se traduziu o princípio em realidade. É que zoneamento econômico e ecológico não representa exercício de cartografia. Significa tradução espacial de um pensamento econômico. É esse pensamento que tem faltado, na forma e no grau requeridas à Amazônia e ao Brasil.

      Zoneamento econômico e ecológico é simplesmente uma maneira de decidir o que pode e, onde deve ser produzido. Não se confunde com a pretensão de planejar atividades produtivas determinadas e de designá-las como adequadas ou inadequadas para certas regiões. Estabelece os limites do que pode e não pode ocorrer em cada área zoneada. Daí ser a contrapartida ao zoneamento econômico e ecológico um conjunto de estratégias econômicas e, de idéias institucionais que as acompanhem para cada um dos territórios classificados pelo zoneamento.

      A partir do eixo representado pelo zoneamento econômico e ecológico, é possível começar a formular um projeto econômico para a Amazônia em duas grandes vertentes: para a Amazônia já desmatada e as grandes cidades (onde se concentra ainda mais do que em outras regiões do país, a maior parte da população) e para a Amazônia onde a mata permanece em pé”.

      Viram? Precisamos conversar com Mangabeira Unger, quem sabe as coisas não se resolvem, mesmo que suas atribuições sejam de longo prazo!

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