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Cai a ficha



Argemiro Luís Brum
A sociedade brasileira, e o governo junto com ela, começam, finalmente, a perceber que a capacidade de consumo da população brasileira chegou ao limite. Os recentes “pacotes” de estímulo ao consumo, na ânsia de se alcançar um PIB acima de 3% em 2012 (o mercado, hoje, indica um crescimento de apenas 2,8%), poucos resultados têm oferecido em termos práticos.


Mesmo com a redução pontual dos juros e com o aumento de algumas linhas de crédito, além de reduções de alguns impostos. Por quê? Porque, dentre outras coisas, a população brasileira está com um elevado nível de endividamento, pelo qual tem crescido igualmente a inadimplência. Em maio passado esta última cresceu 4,32% em relação ao mesmo mês do ano anterior, se consolidando como a 15ª elevação em 16 meses.

Mesmo que no acumulado do ano a mesma registre um recuo de 0,53%, a situação preocupa e a população aos poucos vai aprendendo a se controlar, gastando menos e ficando em torno do realmente necessário. Além disso, em regiões onde as safras agrícolas foram ruins o problema é mais intenso.

Paralelamente, é uma ilusão imaginar que a redução pontual dos juros e a maior disponibilidade de crédito aumentam o poder de compra do consumidor. Isso porque os preços em geral vêm aumentando muito (o IGP-M de maio chegou a 1,02% e, no acumulado do ano, já bate em 4,26%). A cesta básica em Porto Alegre, por exemplo, subiu 1,62% em maio/12, contra 0,40% em maio/11. E Porto Alegre foi a segunda capital do país onde a cesta básica menos subiu.


Cai a ficha (II)

Além disso, o governo criou uma ilusão em relação a chamada classe média brasileira. Segundo sua classificação, a mesma, que representaria hoje 54% da população nacional, se situa na faixa de renda entre R$ 291,00 e R$ 1.019,00 mensais. Ora, todo mundo sabe que, considerando todas as despesas de sobrevivência, e com os preços de primeiro mundo que temos, tais valores estão longe de permitir uma vida razoável a qualquer cidadão, particularmente àqueles que habitam os grandes centros, que são a maioria. Tanto é verdade que o próprio governo, para efeitos de “Bolsa Família” já considera pobre a pessoa que tem renda mensal de R$ 206,00.

Além disso, estudo conjunto da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa e do IBGE indica que a real classe média brasileira possui renda entre R$ 2.488,00 e R$ 6.220,00, não chegando a 30% da população brasileira no momento. O mesmo estudo coloca na classe E todos os brasileiros que possuem renda mensal de até R$ 1.244,00, ou seja, a grande maioria que estaria na classe média oficial.

Desta forma, se explica claramente porque boa parte da população nacional não encontra meios para pagar o excesso de contas que assumiu no embalo do estímulo oficial. Sem falar que o desemprego vem crescendo no país na esteira da crise geral. Assim, o incentivo ao consumo, como alertávamos, não é mais suficiente para tirar a economia do marasmo. É preciso investir em infraestrutura, enxugar o custo do Estado, baixar significativamente os impostos, e investir fortemente em inovação tecnológica.

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