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Boi pirata


Amado de Olveira Filho
Boa parte de minha geração é aquela que por muito tempo acreditou que palavra de ministro de Estado é coisa para ser levada a sério. A última segunda-feira foi prodigiosa em oferecer ao mundo palavras de ministro que foram apenas lançadas ao vento. Assim, minha geração constata, de novo, que ministros também falam coisas que não devemos acreditar. Isto é ruim! A cada dia noto pessoas com mais dificuldade em cantar o Hino Nacional Brasileiro!

Ao anunciar os novos números do desmatamento o ministro Carlos Minc ameaçou seqüestrar rebanhos bovinos em propriedades com ilegalidades ambientais e fundiárias. De pronto a notícia pode ser caracterizada como uma das mais estapafúrdias dos últimos tempos. Não existe legislação que permita isto. Ou existe? Este país é pródigo em criar leis! Não existe? Se a idéia for aprovada pelo presidente, existe o instrumento jurídico da Medida Provisória.
Porém, surge outra indagação, que gado será seqüestrado pelo governo federal? Está faltando boi gordo para o abate, razão pela qual o preço da arroba se elevou mesmo na entressafra, assim, como abater o boi pirata? Mas, o estrago está feito. Um ministro de Estado não pode ameaçar. Os mercados darão uma resposta. E os efeitos da bravata em benefício ao meio ambiente? Nenhum, porém, sua excelência o ministro do Meio Ambiente escorraça dos órgãos ambientais aqueles produtores que possuem algum passivo.
Outra realidade, o governo federal não tem controle sobre produtores que estão com suas obrigações ambientais em ordem. Então quem são os produtores do boi pirata? Em relação a legislação ambiental brasileira o boi pirata pode ser produzido numa fazenda que não possui reserva legal. Imagine uma situação de um produtor que utilizando da legislação da época derrubou e formou pastagens em 50% de sua propriedade numa região de floresta. Averbou como mandava a legislação, porém, mudaram a legislação, está este produtor irregular?
Se este produtor estiver irregular, todo o rebanho bovino brasileiro também o está. Então os bois produzidos nas regiões Sul, Sudeste, Nordeste seriam piratas sob a lógica do ministro Minc, já que não se vê muita coisa da mata atlântica e de áreas de reserva legal naquelas regiões e nem mesmo em estados da região Centro-Oeste. Ficou difícil a situação do ministro, pois boa parte de um rebanho bovino de mais de 207 milhões de cabeças, na visão do ministro, pode ser pirata, pela balbúrdia que tornou a legislação ambiental brasileira.

Não vejo outra solução para o animado ministro a não ser pedir para à mãe do PAC, um PAC para o boi pirata. Já que não tendo boi gordo para abater, o neopecuarista terá que organizar a engorda de milhões de cabeças de gado bovino de todo o Brasil, dar-lhes, além de alimentos a necessária sustentabilidade ambiental, negociar a compra de insumos que sobe de preço todos os dias e, depois entregar nos frigoríficos para abate.
Quando isto ocorrer certamente os frigoríficos já estarão falidos por não confiarem no neopecuarista, já demitiram seus empregados e, por conseguinte, estará estabelecido o caos numa atividade reconhecidamente competente em todo o mundo. Este é um cenário maluco que ninguém normal poderia imaginar, porém, se o Brasil permitir ameaças como as que estamos testemunhando, veremos brevemente a anarquia generalizada em todas as regiões produtivas.
As razões de tudo isto são um pânico absurdo que se estabeleceu na República. Este pânico precisa ser desmistificado e no caso da pecuária, os números são do próprio governo federal. Considerando que os estados da amazônia legal representam 61% do território nacional e que esta imensa região possui um rebanho bovino de 74 milhões de cabeças de gado e que o Brasil possui um rebanho na ordem de 207 milhões de cabeças, então 65% do gado bovino estão nas outras regiões brasileiras, que detêm apenas 39% do território brasileiro.
Dos 74 milhões de cabeças produzidos na chamada amazônia legal, 26 milhões estão no estado de Mato Grosso, assim, precisamos de seriedade no anúncio de ações para a Amazônia.

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