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Boi pirata, a luta continua, companheiro!


Amado de Olveira Filho
Se tiver juízo, o ministro Carlos do Meio Ambiente deixará de pronunciar a frase "boi pirata". Antes de sua façanha, a de apreender os bois no Estado do Pará, alertamos aqui nesta coluna o ministro do Meio Ambiente, mesmo sem a pretensão de que nosso artigo chegasse aos gabinetes em Brasília, a respeito das dificuldades do governo federal manter gado bovino preso.

O motivo do fracasso do terceiro leilão, segundo o Ibama, foi a necessidade de se manter o valor do lance inicial do leilão por determinação do corregedor geral da Justiça Federal da 1ª Região, Olindo Herculano de Menezes. Ele entrou com agravo de instrumento contra a proposta do instituto de reduzir em 60% o valor inicial após reavaliação de custo operacional para a retirada do gado da área. Segundo o corregedor, o gado estaria abaixo do preço de mercado.
Em nota, o Ibama informou que vai recorrer da decisão e justificou que a redução do valor dos "bois piratas", de R$ 3,1 milhões para cerca de R$ 1,4 milhão, "considerou a queda do preço do boi na região de São Félix do Xingu, os custos para manutenção e retirada do rebanho da unidade de conservação, ajustando o valor à realidade do mercado".
Quando alertamos o governo federal aqui nesta coluna, a respeito das dificuldades de o governo gerenciar uma propriedade, falamos das dificuldades da Conab entrar nesta atividade. Ora, essa empresa sempre recebeu produtos armazenáveis e o faz com muita competência, mas, animais, definitivamente não é o seu negócio. Isto pode, inclusive, acabar muito mal. A sociedade brasileira sabe da luta dos pecuaristas brasileiros para manter um rebanho de mais de 200 milhões de cabeças com boa sanidade animal. Portanto, medidas espetaculosas nesta área, sabidamente, não funcionam.
Assim, de churrasquinho do programa Fome Zero os bois piratas passaram a ser um grande passivo jurídico para o governo federal, algo inimaginável, quando se esperam das autoridades o bom senso e o equilíbrio na solução dos problemas. Claro que não se pode criar gado em unidade de conservação, ou outro tipo de reserva, porém, existem outras formas legais de agir numa situação desta.
Fiz contato com a Agência de Defesa Sanitária do Pará (Adepará) e a informação é de que a Fazenda Lourilândia, implantada antes da criação da Unidade de Conservação, tem todo um histórico de vacinação até o mês de maio quando da última campanha. Mas existe uma preocupação técnica com o que está acontecendo na região. Sendo este um caso esdrúxulo, os técnicos do governo do Pará não sabem como terminará.

Por outro lado, o deputado Giovanni Queiroz (PDT-PA) afirmou que o Ibama não vem tratando de forma correta as mais de três mil cabeças de gado. Segundo ele, já se tem notícia da morte de vários animais. "Tem uma única pessoa para cuidar de todo o rebanho e, não estão dando assistência, não tem comida suficiente e falta água". De fato, noticiaram a apreensão de 3.500 cabeças, no entanto, já estão leiloando apenas 3.046 animais. Se isto for confirmado, quem pagará pelo prejuízo? Afinal o Brasil está precisando de comida!
Acredito que esta história está longe do fim. Trata-se de uma experiência pedagógica. Todos os envolvidos estão aprendendo muito com isto, mesmo que para tanto o proprietário da Fazenda Lourilândia esteja pagando a conta. Aliás, as atitudes do ministro Carlos estão valorizando ainda mais a demonstração de bom senso do ministro Mangabeira Unger quando de sua visita a Mato Grosso.
Acredita Mangabeira que para criticar os produtores as instituições precisam funcionar. É mais ou menos igual ao provérbio chinês que diz, "se você quer consertar o mundo, dê umas voltas ao redor de sua casa". Porém, O ministro Carlos deve estar recebendo apoio de todo o governo, afinal para eles, "a luta continua, companheiros".

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