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Barreiras no agronegócio: pouca integração das cadeias produtivas e baixa agregação de valor



Dante Scolari

No Brasil ainda predomina uma visão tradicional da agricultura entendida como um setor fornecedor de matérias primas para o setor industrial e não como um setor integrante de um segmento mais amplo e parceiro importante no processo de transformação e agregação de valor. Além disso, o risco de produção fica quase sempre com o produtor, que nem sempre pode contar com um seguro de produção e renda mínima.

Existem algumas cadeias que possuem certa integração, como carnes (aves e suínos) e fumo, onde o segmento industrial assume certas responsabilidades contratuais, garantindo a compra dos produtos e o fornecimento de insumos. Mas nem sempre existe uma garantia de renda líquida justa e remuneradora para os produtores integrados, uma vez que os riscos de preços podem ser repassados ao elo primário de produção, de forma a garantir a margem de remuneração dos ativos industriais. Existem casos onde o segmento industrial assume parcialmente uma parcela da produção da matéria prima (frigoríficos produzindo bois para abate e a indústria de celulose e papel produzindo a própria madeira). São atividades de baixo risco onde a integração vertical proporciona uma oferta estável e contínua de matéria prima e o resultado final significa maior renda líquida para as indústrias.

De um modo geral pode-se afirmar que cadeias produtivas integradas podem ser mais eficazes e mais eficientes, aproveitando melhor os recursos físicos, humanos e financeiros em várias etapas de produção e processamento. A integração além de reduzir custos de produção, pode auxiliar na padronização, classificação e rastreabilidade de muitos produtos, facilitando a certificação de processos produtivos e a criação de mercado para produtos diferenciados com preços diferenciados.

Para isso ocorrer é necessário o estabelecimento de marcos regulatórios para disciplinar a conduta dos agentes econômicos, prevenir abusos, corrigir falhas existentes como ausência de concorrência, existência de cartéis, pratica de juros exorbitantes, preços abusivos e as elevadas concentrações de poder econômico que ocorrem no agronegócio. Atualmente, poucas empresas dominam uma fatia extremamente grande do mercado de insumos (defensivos e fertilizantes) e dos produtos de exportação (soja e carnes).

Embora seja responsável parcela importante na formação do PIB, o valor das exportações do agronegócio está altamente concentrada em produtos de baixo valor agregado como café, soja em grão, torta de soja, óleo de soja, madeira, açúcar e carnes. O sucesso na elevação dos índices de produtividade via inovações tecnológicas teve como conseqüência marcante uma redução gradual e contínua nos preços mundiais dos alimentos e fibras vegetais nos últimos 40 anos. Como conseqüências, a cada ano são necessários maiores volumes de produtos físicos para obtenção da mesma renda. No Brasil, trabalhos da Embrapa demonstraram que no período 1970/1995, os preços dos produtores alimentares básicos, aí incluídos soja e carne, tiveram em média uma redução anual nos preços pagos pelos consumidores de 5,25%. Neste caso, para preservar e/ou aumentar a renda líquida dos produtores, a contrapartida seria aumentos da produtividade sem aumentos expressivos nos custos de produção.

Para todos os produtos produzidos em larga escala e comercializados globalmente (soja, milho, trigo, carnes, café, madeira, açúcar, cacau, etc.) é difícil agregar valor na origem, pois os países importadores preferem receber matérias primas e processa-las internamente, gerando renda, empregos e agregando valor internamente no país. Uma tonelada de trigo exportada pode ser comercializada por menos de 200 dólares enquanto que uma tonelada de trigo na forma de massas prontas ou biscoitos pode alcançar mais de 1.500 dólares. Da mesma forma, é mais interessante para o país não exportar soja em grão e exportar farelo e óleo de soja, agregando valor no processamento industrial dentro do país.

Uma maneira de agregar valor é criar marcas comercias fortes, que podem ser associadas à "selos verdes" e/ou "selos sociais", em mercados específicos. Alguns produtos no comércio internacional já ganharam nome e espaço: o café da Colômbia, o azeite de oliva da Espanha, o presunto de Parma, as massas da Itália, o chocolate da Suíça, o frango do Brasil. Neste segmento, a agricultura familiar tecnificada, com rastreabilidade, certificação e marcas pode desempenhar importante papel e conquistar fatias significativas do mercado nacional e internacional.

Para expandir no comércio internacional de produtos agrícolas o país precisa criar/fortalecer uma cultura empresarial com visão estratégica de cadeias produtivas integradas globalmente (suprimento, produção, processamento, distribuição e consumo), alterar a visão do setor agrícola como um setor de fornecimento de produtos primários e corrigir as falhas de mercados atualmente existentes. Dessa forma, é possível expandir o volume de receita pela exportação de produtos agropecuários com valor agregado.

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