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Baixa produtividade sufoca nossa economia


Arnaldo Calil Pereira Jardim
A grande trava que impede o Brasil de abrir as portas para práticas econômicas, políticas e sociais modernas chama-se produtividade. Traduzido em miúdos, o rendimento ou o resultado da relação entre a quantidade ou valor produzido e a quantidade ou o valor do que se aplicou para produzi-los. É simples assim. E é no setor público – que abarca quase metade da economia brasileira – que o rendimento precisa aumentar muito e depressa.

Assim é, por exemplo, na educação, na saúde e na infraestrutura, onde os recursos sempre anunciados pelo governo em quantidades cada vez mais generosas não se traduzem por incrementos visíveis na qualidade da educação, da saúde, das estradas, dos portos e dos aeroportos. Ou no caso mais fortuito, divulgado nesta semana, de que a prefeitura paulistana – líder nacional em recursos e problemas –não sabe qual é o destino de mais da metade do que o contribuinte paga de IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano).
O ainda aquecido mercado de trabalho é fonte de boas notícias para o governo e os brasileiros acabam achando que o resto do mundo parou e que estamos avançando, mesmo com dificuldades.O mundo na verdade está bem à nossa frente e em várias partes do Planeta as coisas acontecem bem mais rapidamente. Por trás dessa situação, entretanto existe uma realidade perversa que é pouco revelada aos cidadãos,a de que este mercado de trabalho tem sido sustentado pela nossa hereditária baixa produtividade.
O Brasil está se desindustrialização sem ter chegado a consolidar a base produtiva que se destacava no PIB no fim dos 1950. E nessa rota vai ceifando empregos de valor e ambientes propícios ao desenvolvimento científico e tecnológico. Como observa o professor Carlos Lessa, ex-presidente do BNDES, “é assustador afirmar que o Brasil é emergente quando, estruturalmente, estamos submergindo”.
O País continua gerando empregos porque ocupa muita gente produzindo pouco para fazer a economia crescer pouco. Segundo um estudo de Regis Bonelli e Julia Fontes, da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro, de 2000 a 2012, os setores que mais contrataram novos trabalhadores estão entre os menos produtivos; foram responsáveis por cerca de 70% das contratações, mas contribuíram com menos de 40% do PIB. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a evolução da produtividade brasileira média nas duas últimas décadas mostrou uma trajetória estável de crescimento, mas a um ritmo lento, de cerca de 1% ao ano. Na indústria de transformação, o resultado ficou abaixo disso; em alguns segmentos, houve queda de produtividade. Depois da crise financeira mundial iniciada em 2008, a produtividade brasileira, que crescia pouco, pode ter se estagnado.
A falta de produtividade pode sufocar nossa economia
Nesta semana também, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgou o relatório Estudos Econômicos com amplo panorama sobre a situação do Brasil em diferentes áreas, desde a matriz energética até os problemas no sistema de aposentadoria. O reduz a previsão de crescimento do PIB brasileiro de 2,9% para 2,5% em 2013, e de 3,5% para 2,2% no ano que vem por causa de gargalos na infraestrutura e alto nível de impostos que estão “crescentemente impedindo” uma maior expansão da economia.

Embora destaque vários pontos positivos, como as iniciativas de transferência de renda,o estudo da OCDE aponta como um dos entraves ao aumento da produtividade no Brasil o alto custo da mão de obra e baixos níveis de competência:“os custos reais do trabalho no setor industrial vêm registrando aumentos regulares nos últimos anos, ultrapassando a produtividade do trabalho numa proporção considerável”. Mudanças são necessárias para aumentar a competitividade da economia.
Além da perda de protagonismo e resultados no comércio exterior, do cada vez mais restrito mercado local de trabalho, o País precisa de diretrizes firmes, de médio e longo prazos, para aumentar a produtividade da economia. Isso inclui, por exemplo, nos grandes aglomerados urbanos, soluções radicais e urgentes – que pouco frequentam os debates sobre produtividade –para privilegiar os transportes coletivos que hoje penalizam os trabalhadores e reduzem drasticamente o rendimento do trabalho e a qualidade de vida. Na logística, pressa de desentupir os canais da gerência pública de modo aparar de prejudicar os bons índices de produtividade alcançados com esforço e inovação ao longo dos anos por nossos agronegócios de ponta.
Por fim, no tema crucial para a verdadeira inserção do Brasil no mundo moderno, o governo precisa indicar com firmeza à sociedade um modelo para aumentar os níveis de inovação que privilegiam sistemas de facilidades e apoio a diversos setores, de modo a torná-los mais competitivos, inovadores e produtivos, a exemplo de Austrália, Canadá, Finlândia, Estados Unidos, Alemanha e Japão líderes nessa área que faz avançar a humanidade.
Assim,fazer a “Lei do Bem”(*) funcionar para valer; consolidar a legislação sobre patentes, definitivamente integra as universidades ao setor produtivo; agilizar os Fundos Setoriais de apoio à inovação, priorizar a educação voltada ao trabalho com reforços das áreas técnica e de tecnologia são medidas indispensáveis apesar de já tardias!!
(*) A Lei 11.196/05, conhecida como “Lei do bem”, concede incentivos fiscais às em presas e instituições que realizarem pesquisa e desenvolvimento de inovação tecnológica.
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