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Até quando?


Amado de Olveira Filho

 Recentemente fui indagado de até quando o Brasil e os brasileiros suportarão o que está acontecendo com a Nação, tanto quanto a questão da renda das unidades familiares, passando por questões políticas, carga tributária, corrupção, etc. Não me causou surpresa à pergunta, afinal estava num debate em uma das nossas Universidades aqui em Cuiabá. A surpresa foi a de que se nos permitíssemos certamente a discussão entraria noite adentro.

Este episódio me levou a refletir sobre a real situação do Brasil, remetendo minha avaliação a questão das classes sociais, nossa mobilidade social em alguns períodos e ainda na tentativa de projetar cenários que de fato possam significar mudanças de comportamento. Assim, arrisco nesta empreitada compreender este complexo jogo de interesses que está remetendo, inexoravelmente, uma classe social contra outra.

Por classes sociais podemos entender as formas assumidas pela divisão social do trabalho e pela propriedade dos meios de produção, estabelecendo o nível de intervenção e domínio na atividade produtiva. Em maio de 1999 a Revista Veja publicou matéria com a composição das classes sociais no Brasil no período de 1973 a 1996. Chama a atenção que à época, a classe média subdividida em alta, média e baixa, representava 47,6% da população e os pobres e muito pobres 47,4% da população.

A carga tributária praticada no Brasil é a melhor referência para a compreensão do cenário desfavorável a determinadas classes sociais. A ferocidade arrecadatória sobre aqueles que pagam impostos no Brasil é impressionante. O Brasil conquistou a copa do mundo de futebol em 1958 com uma carga tributária que correspondia a 15,8% do PIB, já por ocasião do tricampeonato em 1970 a carga tributária era 25,0% do PIB e se fosse  hexacampeão em 2006 seria com uma carga tributária superior a 40,0% do PIB.

Sobre quem recai mais pesadamente esta absurda carga tributária? Sobre muitos é certo, porém, quando se analisa o consumo das classes sociais e o modelo tributário brasileiro, é a classe média a mais penalizada. Entre 1998 e 2001 na segunda metade do Plano Real, os brasileiros que tinha os melhores empregos e salários mais altos tiveram as maiores perdas de rendimento. De lá para cá este cenário piorou significativamente.

                Estamos tomando conhecimento dos planos de governos de candidatos que prometem se eleitos Presidente da República, fazer incontinentemente uma reforma tributária, reduzir os preços dos combustíveis (somos auto-suficientes) e reduzir os impostos sobre a telefonia e energia elétrica. Não acreditem nisto!

Podemos antever cenários de mudança no Brasil, desde que venham através de uma ampla mobilização da classe média brasileira. Isto é fácil de entender, afinal, estão rotulando os dois principais candidatos a Presidência da República como um dos ricos e outro dos pobres e, quem será o candidato da classe média?  É importante que a classe média se imponha como classe média, afinal, ela é apenas classe média.

Nem tudo está perdido, recentemente vimos um movimento de produtores rurais que se iniciou em Ipiranga do Norte no Estado de Mato Grosso, avançar nos principais Estados produtores de grãos. Este movimento se caracterizou também por ser um movimento de classe média, com objetivos claros, sem fazer jogo de governos, mas denunciando à Nação a situação  insuportável em que se encontram. Provavelmente os produtores rurais esperaram a adesão de outros segmentos da sociedade, ela até veio, mas de forma discreta e ainda em função de que seus negócios estavam seriamente comprometidos por falta de matéria-prima. É um bom início.

É na classe média brasileira que vamos encontrar a excelência da mão-de-obra e conhecimento, o que nos remete a ver um farto estoque de capital intelectual, portanto, imprescindível ao desenvolvimento da sociedade. É na classe média que vamos encontrar um povo descrente e que não consegue reproduzir no cenário político o seu status quo. A pergunta a ser respondida é até quando ela terá a tolerância demonstrada desde o tricampeonato mundial de Futebol.

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