Alternativas tecnológicas para a pecuária da Amazônia Ocidental. V. Recuperação e e renovação de pastagens
1. RECUPERAÇÃO DE PASTAGENS DEGRADADAS DE CAPIM-JARAGUÁ - As pastagens de capim-jaraguá (Hyparrhenia rufa) têm apresentado com o decorrer dos anos um declínio gradual de produtividade, devido a utilização de práticas de manejo inadequadas (altas taxas de lotação e pastejo contínuo ou com períodos mínimos de descanso). A recuperação de pastagens degradadas de capim-jaraguá pode ser feita com a introdução de Brachiaria humidicola e de um coquetel de leguminosas (P. phaseoloides + C. pubescens + S. guianensis cv. Cook). Após a limpeza das invasoras, deve-se semear as leguminosas nas densidades de 2,0; 2,0 e 1,0 kg de sementes/ha, respectivamente para P. phaseoloides, C. pubescens e S. guianensis cv. Cook, enquanto que o plantio de B. humidicola pode ser feito através de mudas nas áreas onde H. rufa desapareceu. Este procedimento permitirá elevar a capacidade de suporte de 0,5 para 1,0 e 2,0 UA/ha/ano e a produtividade animal de 100 para 433 e 447 kg de carne/ha/ano, respectivamente com a utilização de pastejo contínuo e rotativo (10 dias de ocupação e 30 dias de descanso), além de reduzir a idade de abate de 48 para 32 meses e, em até 80% os custos com o controle de plantas invasoras.
2. MÉTODOS DE RENOVAÇÃO DE PASTAGENS DEGRADADAS - As pastagens de B. decumbens encontram-se, na sua grande maioria, degradadas devido a grande susceptibilidade dessa gramínea às cigarrinhas-das-pastagens (Deois incompleta e D. flavopicta). Dentre os métodos de renovação avaliados, a introdução de B. humidicola + adubação fosfatada (50 kg de P2O5/ha) foi o mais eficiente. Após a limpeza das invasoras, recomenda-se a aplicação da fertilização fosfatada, sob a forma de superfosfato triplo e, em seguida o plantio de B. humidicola através de mudas ou sementes. Na pastagem renovada, a capacidade de suporte pode ser elevada de 0,7 para 1,5 UA/ha, durante a estação chuvosa (outubro a maio) e de 0,5 para 1,0 UA/ha no período de estiagem (junho a setembro), sem que haja prejuízos na persistência da pastagem, além de proporcionar aumentos significativos nos ganhos de peso (480 kg/ha/ano e 150 kg/ha/ano). As pastagens de B. humidicola, mesmo sem a utilização de qualquer insumo, apresentam uma excelente capacidade de suporte, mantendo-se uniforme durante todo o ano. Já, as pastagens de S. sphacelata cv. Kazungula suportaram menores taxas de lotação e, consequentemente, menores rendimentos de carne por animal e por área que as de B. humidicola.
3. PARÂMETROS FÍSICO-QUÍMICOS DO SOLO SOB PASTAGENS DEGRADADAS - Na Amazônia Legal, cerca de dez milhões de hectares de florestas foram transformados em pastagens cultivadas. Estima-se que quase 50% desta área apresenta pastagens em diferentes estádios de degradação. O declínio da produtividade, com o decorrer do tempo, deve-se à própria fisiologia da planta e as alterações químicas e físicas do solo devido, principalmente, a utilização de elevadas pressões de pastejo. A disponibilidade de MS de B. brizantha cv. Marandu, tanto da parte aérea quanto das raízes, foi inversamente proporcional ao tempo de utilização da pastagem, ocorrendo o inverso quanto à produção de MS das plantas invasoras. As pastagens com 4 e 8 anos de utilização propiciaram rendimentos de forragem e de raízes equivalentes a 68 e 62% e, 10 e 46%, comparativamente aos fornecidos pela pastagem com um ano de utilização. Com relação às características químicas do solo, observou-se uma tendência de redução de todos os parâmetros avaliados (teores de cálcio, magnésio, fósforo, potássio e matéria orgânica), em função do tempo de utilização das pastagens, ocorrendo o inverso com o pH e os teores de alumínio trocável. Os teores de nitrogênio e fósforo da gramínea não foram afetados pelo tempo de utilização das pastagens; os de potássio e magnésio foram incrementados, ocorrendo o inverso quanto aos teores de cálcio. A densidade aparente foi incrementada com a profundidade do solo e com o tempo de utilização da pastagem. Na camada de 0-20 cm os aumentos na densidade foram superiores aos verificados na camada de 20-25 cm. Este fato indica que os efeitos do pisoteio dos animais são mais prejudiciais nas camadas superiores do solo, o que resulta na diminuição da porosidade e alterações desfavoráveis na relação solo-água-ar, a qual afeta negativamente o desenvolvimento das raízes e, consequentemente, da produtividade de forragem.
4. MÉTODOS DE INTRODUÇÃO DE LEGUMINOSAS EM PASTAGENS DEGRADADAS - A baixa disponibilidade de nitrogênio, notadamente, nos ecossitemas em que há predominância de gramíneas, tem sido apontada como a principal causa de degradação das pastagens. Considerando-se os altos custos dos fertilizantes nitrogenados, a introdução de leguminosas em pastagens degradadas de gramíneas, vem sendo recomendada como a alternativa mais prática, eficiente e econômica, para o fornecimento de nitrogênio ao sistema solo-planta-animal, além de aumentar a capacidade de suporte, melhorar o valor nutritivo da forragem e ampliar a estação de pastejo. Em Porto Velho foram avaliados diferentes métodos de introdução de P. phaseoloides em pastagens degradadas de B. brizantha cv. Marandu. Os métodos de introdução (roçagem, aração, gradagem, aração + gradagem e plantio com matraca nos espaços vazios da pastagem) representaram as parcelas principais e a fertilização fosfatada (0 e 22 kg de P/ha) as subparcelas. O estabelecimento da leguminosa foi diretamente proporcional a intensidade de preparo do solo. Durante o período chuvoso, independentemente da fertilização fosfatada, os maiores rendimentos de MS da gramínea foram obtidos com a gradagem e a utilização da matraca. Para a leguminosa e plantas invasoras, as maiores produções de MS foram registradas com a utilização da aração + gradagem. Durante o período seco, o maior rendimento de MS da gramínea foi obtido no tratamento testemunha (1060 kg/ha), o qual foi semelante aqueles verificados com a gradagem (914 kg/ha) e com a matraca (907 kg/ha). Para a leguminosa, as maiores produções foram obtidas com a aração (283 kg/ha), aração + gradagem (255 kg/ha) e gradagem (220 kg/ha). Os maiores rendimentos de MS das plantas invasoras foram registrados no tratamento testemunha (279 kg/ha). No entanto, comparando-se esta produção com a obtida no período chuvoso, constata-se uma redução de 41%. Os resultados obtidos evidenciam a viabilidade técnica da introdução de leguminosas como uma alternativa para a recuperação de pastagens degradadas.
5. MÉTODOS FÍSICOS E QUÍMICOS NA RECUPERAÇÃO DE PASTAGENS DEGRADADAS - Em Rondônia, cerca de quatro milhões de hectares de florestas estão, atualmente, ocupados com pastagens cultivadas. Desta área, quase 40% já apresenta pastagens em diferentes estágios de degradação. O processo de degradação se manifesta pelo declínio gradual de produtividade das plantas forrageiras, devido a vários fatores, notadamente a baixa fertilidade do solo e ao manejo deficiente das pastagens (altas cargas animal e sistema de pastejo contínuo), o que culmina com a dominância da área por plantas invasoras. Em pastagens degradadas de B. brizantha cv. Marandu avaliou-se os efeitos de métodos físicos e químicos em sua recuperação. Os métodos físicos (roçagem, aração, gradagem, aração + gradagem) representaram as parcelas principais e a fertilização fosfatada (0 e 22 kg de P/ha) as subparcelas. Durante o período chuvoso, os maiores rendimentos de MS da gramínea foram verificados com a gradagem (2016 kg/ha), aração (1676 kg/ha) e aração + gradagem (1346 kg/ha). As produções de MS das plantas invasoras foram diretamente proporcionais a intensidade de preparo do solo, sendo os maiores valores registrados com a aração + gradagem (1203 kg/ha) e aração (1018 kg/ha). No período seco, com exceção do tratamento testemunha que apresentou o menor rendimento de MS, para os demais métodos de recuperação não se observaram diferenças significativas. Os maiores rendimentos de MS das plantas invasoras foram obtidos no tratamento testemunha, com a aração e com aração + gradagem. Neste período, a disponibilidade de plantas invasoras na pastagem, comparativamente ao período chuvoso, foi reduzida em 67 e 71%, respectivamente, com e sem aplicação de fósforo. A fertilização fosfatada incrementou a disponibilidade de forragem, sendo os acréscimos de 59,3 e 32,4%, respectivamente para os períodos chuvoso e seco. Os resultados obtidos demonstraram que a aração, gradagem e aração + gradagem, associadas à aplicação de 22 kg de P/ha, foram os métodos mais eficientes para a recuperação de pastagens degradadas.
6. RECUPERAÇÃO DE PASTAGENS ATRAVÉS DA ADUBAÇÃO - A baixa fertilidade natural do solo (notadamente o nitrogênio e o fósforo), o manejo inadequado das pastagens, uso indiscriminado do fogo e a compactação do solo são fatores que contribuem decisivamente para o processo de degradação das pastagens. A adubação com nitrogênio e fósforo mostrou-se tecnicamente viável para a recuperação de pastagens degradadas de B. brizantha cv. Marandu. Os rendimentos de MS, teores de PB e fósforo da gramínea foram significativamente incrementados com a aplicação de níveis crescentes dos fertilizantes, ocorrendo o inverso em relação às plantas invasoras. A aplicação conjunta de 50 kg de N/ha e de 100 kg de P2O5/ha foi suficiente para assegurar a recuperação da pastagem, proporcionando resultados semelhantes aos obtidos com os níveis máximos dos nutrientes. A adubação fosfatada, independentemente das fontes e doses, mostrou-se uma prática agronômica tecnicamente viável para a recuperação de pastagens de B. brizantha cv. Marandu e A. gayanus cv. Planaltina. Os rendimentos de MS da gramínea foram significativamente incrementados com a aplicação de níveis crescentes de fósforo, ocorrendo o inverso em relação às plantas invasoras. Os teores de PB, cálcio e fósforo, independentemente da fonte e dose, não foram afetados pela adubação fosfatada. A aplicação de 100 kg de P2O5/ha, sob a forma de superfosfato triplo ou simples, resultou nos maiores rendimentos de forragem, enquanto que para o fosfato parcialmente acidulado não foi detectado efeito significativo de doses. Para pastagens de P. maximum, o uso tanto do superfosfato triplo como do superfosfato simples aplicados na dosagem de 50 kg de P2O5/ha, isoladamente ou combinados entre si, e/ou com hiperfosfato, mostraram-se bastante eficazes no aumento da produtividade de forragem, ficando a escolha das fontes na dependência de seus custos.
7. RECUPERAÇÃO DE PASTAGENS VIA CULTURAS ANUAIS - Quando a pastagem original atinge estágios de degradação em que torna-se impossível, técnica e economicamente, a sua recuperação, a renovação tem sido a prática mais comum, notadamente aquela que envolve a mecanização, práticas culturais e insumos que caracterizam um uso mais intensivo do solo. A associação de culturas alimentares com forrageiras na renovação e pastagens degradadas tem sido recomendada como uma alternativa para minimizar os custos de implantação das pastagens. Na Amazônia, extensas áreas têm sido renovadas através deste processo, utilizando como culturas associadas o milho ou arroz de sequeiro. Deste modo, a Embrapa Rondônia realizou pesquisas visando identificar as culturas e os métodos de implantação mais adequados para a renovação de pastagens no estado. As gramíneas (B. brizantha cv. Marandu, P. atratum BRA-9610 e B. humidicola) em cultivo estreme apresentaram maiores rendimentos de forragem do que quando consorciadas com arroz de sequeiro ou milho, independentemente dos métodos de plantio. Com o plantio das gramíneas nas entrelinhas da cultura, o arroz de sequeiro apresentou maiores produções de grãos que o milho, ocorrendo o inverso quando as gramíneas foram estabelecidas nas linhas da cultura. A participação das plantas invasoras foi maior nos consórcios que tiveram B. humidicola como gramínea acompanhante.
8. MÉTODOS DE PLANTIO E DENSIDADES DE SEMEADURA NO ESTABELECIMENTO DE LEGUMINOSAS EM PASTAGENS DEGRADADAS - Na região Amazônica, as pastagens cultivadas têm como principal componente florístico as gramíneas forrageiras. No entanto, visando a obtenção de níveis satisfatórios de produção de forragem, torna-se necessário a utilização de alguma fonte de nitrogênio, química ou biológica, já que a baixa disponibilidade deste nutriente tem sido apontada como uma das principais causas da degradação de pastagens. A introdução de D. ovalifolium e P. phaseoloides em pastagens de B. brizantha cv. Marandu pode ser realizada através do plantio à lanço ou em sulcos, mantendo-se uma densidade de semeadura entre 2,0 e 3,0 kg/ha (VC igual a 64%), sendo que D. ovalifolium apresenta estabelecimento inicial mais efetivo.
Newton de Lucena Costa (Embrapa Amapá), Claudio R. Townsend (Embrapa Rondônia), João Avelar Magalhães (Embrapa Meio Norte), Ricardo G. de Araújo Pereira (Embrapa Rondônia)