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A ùltima Bolacha


Rutinaldo Miranda Batista Júnior

 
  Nem precisa se desculpar. É supernormal mesmo. Todo mundo pensa que é a última bolacha do pacote. Mas tem um problema. Nem tudo o que a gente acredita é verdade. E esse tal pacote é um pouco grande. Na verdade, tem outras 7 bilhões e 200 milhões de bolachas, quer dizer, de pessoas além de você. Pode até parecer pouco. O que obviamente não é! Entretanto, se ainda você não deu o braço a torcer. Porque é um(a) cabeça-dura incurável. E está com aquela pequena dúvida cutucando o juízo. Vamos recorrer ao zero. Colando alguns desses números redondos, acaba ficando assim. 7.200.000.000 de seres humanos iguais a você, nesse superlotado planeta.

 
  Muito zero e muita gente, não é mesmo? E você aí, se achando. Mas pensando bem, talvez não seja realmente assim. Você já ouviu inúmeras vezes que era um ser especial. O tipo de comentário que certamente veio de sua mãe. Algo que dá até para perdoar. Afinal, uma mãe nessas horas sempre perde a cabeça. E também a completa noção. A gente bem sabe como funciona. Mãe é mãe. Isso não dá pra negar. Por isso, ela sempre vê no pequeno berço o seu príncipe ou princesa encantados. Apesar, de muitas vezes, ser um sapinho cururu ou uma rãzinha encapetados.
 
  Mas quero fazer um esclarecimento. Nunca passou pela minha cabeça te deixar depressivo(a).  Apesar de ser muito difícil não ficar. Até eu mesmo ficaria. Uma notícia dessas não é fácil de engolir. Pra alguns seria uma catástrofe. O verdadeiro fim do mundo. Imagine só. Você começou lendo essas linhas tão despreocupadamente. Imaginando ser nada menos que o centro do universo. Aquele último palitinho premiado. Agora, vejam só. A cabulosa tristeza. Está se achando uma bactéria. O cocô do piolho do cavalo do bandido.

 
   O que resta é ter calma. Nem tudo está perdido. Pode ter alguma vantagem em não ser mais uma pessoa tão especial. O problema é que ainda não descobri. Mas pelo menos você pode levantar a cabeça. É que a vida é assim mesmo. Agora toca a bola pra frente. Faz como aquela música. “Sacode a poeira e dá a volta por cima”. Eu só te peço uma coisa. Toma cuidado para não falar isso pra mais ninguém. Vai que os outros sete bilhões escutem. E resolvam fazer igualzinho. Aí vai ser um sufoco. Teremos a maior tempestade de areia de todos os tempos.
 
Um abraço,
Rutinaldo

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