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A China e a retomada da economia



Argemiro Luís Brum
Por que a China preocupa tanto o mundo econômico na atualidade? Porque esse país, desde que ingressou para valer na chamada economia de mercado, em meados dos anos de 1980, não para de crescer e interferir no cenário internacional. Hoje, com aproximadamente 1,3 bilhão de pessoas, e um Produto Interno Bruto (PIB) que alcançou US$ 7 trilhões em 2011, colocando-a como a segunda maior economia do mundo, a China tem sido, seguida de longe pela Índia e o Brasil, o país emergente que deu certa sustentação à combalida economia mundial atingida pela grande crise de 2007/08. Foi o consumo interno chinês, representado por importações elevadas, que movimentou o mercado mundial, elevando inclusive os preços das commodities mundiais a níveis extraordinários. Seu crescimento econômico, entre 2000 e 2010, foi de 163,3% em contagem anualizada, a partir de cada primeiro trimestre finalizado.


A China ocupa hoje o segundo lugar mundial em importações com US$ 1,4 trilhão de compras externas em 2010, representando na oportunidade 9,1% do total mundial. A título de comparação, no mesmo ano, o Brasil ficou em 25º lugar mundial, com apenas US$ 191 bilhões de importações, ou seja, 7,3 vezes a menos do que o volume alcançado pela China. Nas exportações, o quadro é ainda mais chocante. Em 2010 a China ficou em primeiro lugar mundial com US$ 1,6 trilhão de vendas externas, enquanto o Brasil registrou o 22º lugar mundial com US$ 202 bilhões de exportações, ou seja, 7,9 vezes a menos do que o resultado chinês. Em 2011, o saldo comercial chinês foi de US$ 155,1 bilhões, enquanto o brasileiro chegou a US$ 29,8 bilhões. Dito de outra forma, além de ter um imenso mercado interno, onde cerca de 700 milhões de pessoas hoje (mais de três vezes a população brasileira) consegue consumir ao ritmo de país desenvolvido, a China mantém uma agressiva participação no comércio internacional.

A China e a retomada da economia (II)

Não é por acaso, portanto, que, diante do marasmo na recuperação das economias desenvolvidas (EUA, União Europeia e Japão), no horizonte de 2013, o mundo se inquieta diante da desaceleração do crescimento chinês. Em 2004, o PIB da China registrou crescimento de 10,4% sobre o ano anterior. Em 2007 o mesmo alcançou o auge ao bater em 13% de aumento. Mesmo durante a crise mundial, seu crescimento se manteve digno de uma locomotiva internacional: 9,6% em 2008; 9,2% em 2009; 10,3% em 2010; e 9,2% em 2011.


Todavia, preocupado com a pressão inflacionária, também motivada pelos absurdos preços internacionais das commodities, o governo chinês colocou o pé no freio em 2012. Com isso, a tendência da economia chinesa é de crescer “apenas” 7,5% nesse ano. Isso significa dizer que haverá menos compras externas, devido ao menor consumo interno e, portanto, menos exportações mundiais, inclusive as brasileiras. Pois ninguém fica imune a uma freada de tal gigante que ainda busca consolidar seu novo estágio econômico no cenário internacional.

A China e a retomada da economia (III)

Para o Brasil, o impacto é direto. A China representou 17,3% de todas nossas exportações em 2011, ficando em primeiro lugar com US$ 44,3 bilhões, longe à frente dos EUA, o segundo colocado. O crescimento de nossas vendas externas para os chineses, no ano passado, em relação ao ano de 2010, foi de 43,9%. Além disso, o comportamento da China atinge mais diretamente ainda a saúde econômica de sua região (Ásia), para a qual o Brasil exportou 30% de todas as suas vendas externas. Ou seja, se a China consolidar realmente um crescimento menor neste ano, o que parece inevitável, e permanecer nessa tendência para 2013, o mundo e o Brasil ainda caminharão muito devagar e nosso PIB mais uma vez deixará a desejar.


Nesse contexto, mais do que nunca o mercado interno brasileiro permanecerá sendo fundamental (não podemos esquecer que, para o tamanho do Brasil, nosso PIB precisaria crescer, no mínimo, 6% ao ano de forma sustentável). Como fazê-lo consumir mais, diante da falta de infraestrutura que suporte tal aumente de demanda, e diante do crescente endividamento e inadimplência?

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