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A Aliança do Pacífico



Argemiro Luís Brum
Enquanto o Mercosul marca passo e afunda em contradições ideológicas e ações populistas, as quais multiplicam as ações protecionistas de mercado, derrubando a possibilidade de a integração regional avançar, parte da América Latina decidiu constituir a Aliança do Pacífico (a mesma nasceu há um ano e se consolida agora). A Aliança congrega países importantes, que já possuem um histórico de livre-comércio (pelo menos muito maior do que o Mercosul e seus países membros), que são: Chile, Colômbia, Peru, México e, mais recentemente, a Costa Rica. Como resultado prático, o Mercosul, que tinha como objetivo congregar todos os países latino-americanos em um grande bloco político-econômico, perde espaço. Junto com ele outras formas de organização, tipo a Unasul, igualmente terão mais dificuldades para se consolidar. Nessa dimensão, o Brasil, que sempre trabalhou para ser o líder regional, usando o Mercosul como trampolim, também perde força. O governo brasileiro tenta relativizar a importância da nova zona comercial, porém, é certo que sente o impacto da medida. O Pacífico é hoje a principal região comercial do mundo, e não fomos capazes de nela operar com destaque até o momento. Perdemos tempo, deixando o Mercosul ser contaminado por questões ideológicas, praticando mais a política do que o comércio, e praticamente eliminamos aquilo que deveria ser um contraponto positivo, no sentido comercial e econômico, ao Nafta, a União Europeia e a outras integrações regionais. Obviamente, o Brasil poderá ingressar na Aliança para o Pacífico. Todavia, resta saber se a mesma o quer em seu bojo. Isso porque, a julgar pelas declarações de seus membros, a lógica de funcionamento da Aliança é o pragmatismo, ou seja, abrir mercado, se aproximar do grande mercado norte-americano, onde o México já está, enquanto o Brasil e seus pares continuam, retrogradamente, falando em imperialismo estadunidense (o mesmo existe mas não pode ser empecilho para negócios, situação que a China entendeu rapidamente) e rejeitando o liberalismo econômico. Além disso, por ser uma economia ainda muito fechada, o Brasil terá que, tecnicamente, reduzir muito mais suas tarifas alfandegárias e seu protecionismo se quiser se adequar ao que, em princípio, pretende ser a Aliança do Pacífico.

A Aliança do Pacífico (II)
Tanto é verdade que o objetivo, do que poderá ser futuramente o grande bloco econômico latino-americano, é “ser dinâmico, sem se prender a preconceitos ideológicos – numa clara crítica ao desvio político do Mercosul -, transformando-se no motor da região, ao eliminar 90% das tarifas externas entre seus integrantes a fim de criar uma real zona de livre-comércio”. A questão é verificar se na prática isso será possível. O Mercosul, em seu nascedouro igualmente se constituiu em zona de livre-comércio, criou um processo de união aduaneira (a Tarifa Externa Comum é um dos mecanismos) e ambicionava ser um Mercado Comum, tendo na União Europeia seu espelho. Todavia, o atraso ideológico, alimentado por demagogias e populismos de toda ordem, nos trouxeram hoje para algo que, na prática, nem zona de livre-comércio somos. Pelo sim ou pelo não, o fato é que se poderia trabalhar no sentido de, futuramente, unir as duas regiões, já que as mesmas economicamente se equivalem no atual estágio de seus países membros. Enquanto o Mercosul possui cerca de 279 milhões de habitantes e um PIB ao redor de US$ 3,3 trilhões, a Aliança do Pacífico, se efetivamente se consolidar, representa um pouco mais de 210 milhões de pessoas, com um PIB um pouco superior a US$ 2 trilhões. O problema é que hoje, o Brasil tem menos liderança mundial, e o Mercosul dá mostras de não desejar realmente avançar na linha a abertura econômica e pouco se preocupa com seu futuro. Ou seja, no pós-crise mundial atual, talvez fiquemos marginalizados até mesmo dentro da América Latina se continuarmos com esta atitude reducionista em relação ao mundo.

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