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23 anos depois



Argemiro Luís Brum
23 ANOS DEPOIS

“... o mais chocante ainda é que, enquanto os preços ao consumidor brasileiro são equivalentes aos pagos pelos consumidores de países ricos, nossos salários se igualam aos dos países miseráveis do Planeta. (...) Isto porque não existe um projeto econômico de longo prazo para o Brasil. (...) Pacotes econômicos são medidas passageiras, de choque, que precisam ser corrigidos e aperfeiçoados em curto espaço de tempo. (...) É preciso trabalhar, e muito, para que as coisas melhorem de fato.

Se o fizermos bem, talvez no espaço de uma geração possamos melhorar a situação deste país.” Essas frases, que poderiam muito bem ter sido extraídas de qualquer texto econômico da atualidade, foram por nós escritas em dezembro de 1989 (cf. Cotrijornal, p. 2, dezembro/1989).

Portanto, após quase 23 anos, muita coisa mudou para melhor na economia do país, porém, outro tanto permanece igual, senão pior. Significa dizer que avançamos apenas parcialmente na construção de um país melhor. O grande avanço foi, sem dúvida, o controle da inflação, graças ao Plano Real lançado em 1994 e, cujas bases, são mantidas até hoje. Em 1989 vivíamos uma hiperinflação que alcançava 1.800% ao ano e aumentando.

Todavia, a estabilização da economia brasileira não foi suficiente para resolver um dos mais graves problemas que continuamos a ter: embora o poder aquisitivo das pessoas parcialmente melhorou, graças a preços mais estáveis, o custo de vida aumentou consideravelmente. Hoje, temos preços internos mais elevados do que a maioria dos países ricos.


23 ANOS DEPOIS (II)

Todavia, o salário mínimo, em média, apesar de ter melhorado proporcionalmente, ainda está três vezes abaixo do existente junto a esses mesmos países ricos. Até mesmo a alimentação, reputada barata em nosso país, hoje chega a ser mais cara do que em muitos países desenvolvidos. Ao mesmo tempo, o último projeto econômico de longo prazo no Brasil foi o Plano Real. Desde então estamos administrando a economia com “pacotes” de curto prazo, especialmente nesses últimos anos. Imaginar que programas sociais, tipo “Bolsa Família”, e aumento de crédito, com juros menores “na base do grito”, irão dar sustentabilidade à economia é ingenuidade.

Isso porque não fomos capazes, ainda, nesses últimos 23 anos, de atacarmos o outro grande problema que fragiliza nossa economia: o custo e a eficiência do Estado. As grandes reformas estruturais, tão faladas e nunca executadas, pedem passagem, pois estamos esgotando a capacidade da estabilização duramente conquistada. O estouro das contas públicas na Grécia, Espanha e outros países, nesses últimos dois anos, é um claro alerta de que o problema é grave e exige urgência em sua solução.

Infelizmente continuamos, como em 1989, envoltos em escândalos políticos de toda ordem, alta corrupção, e especialmente um aumento significativo na tributação estatal, para manter um sistema falido e incompetente, onde os serviços públicos continuam caóticos em sua maioria. Agora, se trabalharmos bem daqui em diante, será preciso duas gerações para avançarmos a um estágio superior em busca do desenvolvimento.

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