O mundo dos negócios não é mais o mesmo. Já se vão décadas em que o fio do bigode é só enfeite sendo substituído pelos contratos, as certificações e a rastreabilidade, dentre outros instrumentos que de um lado garantem benefícios aos consumidores, reduzindo a desinformação ao longo da cadeia, e de outro, incentiva a cooperação entre os agentes, fortalecendo a inserção no mercado.
A necessidade de certificação é até compreensível. Ela não veio porque as empresas deixaram de cumprir com o prometido, pelo contrário, estão prometendo e cumprindo cada vez mais. O que acontece é que o processo de produção de qualquer bem, até que ele chegue ao consumidor, foi se desdobrando em um número cada vez maior de atividades.
Essa complexidade do processo de produção, associado ao crescente nível de exigência dos consumidores em verem atendidas as suas expectativas demandaram mais que padronizações, agora insuficientes para atender às necessidades do número cada vez maior de agentes. Entra em cena a certificação como modo de garantir os padrões estabelecidos.
Se de um lado a certificação promete garantir ao consumidor o atendimento às suas expectativas de qualidade, de outro, pode ser utilizado como moeda de troca ou barreira comercial não tarifária pelos países, que protegem os seus mercados e suas empresas.
Por isso, ao mesmo tempo em que a certificação informa o consumidor dos atributos de um determinado produto ou processo, podendo aumentar a eficiência do mercado, também exclui e seleciona empresas e produtos, dado que nem todos conseguem atender os requisitos de procedimentos e padrões.
Dito de outro modo, nem todos conseguem obter as certificações que seus mercados atuais ou potenciais exigem. Outros são lentos em se adaptarem a essas mudanças que ocorrem de forma cada vez mais rápida, requerendo eficiência também nos ajustes. Por isso, lentamente são excluídos do mercado. Aliás, a maioria nem percebe isso. Quando acordam, já era.
Os programas de qualidade têm se proliferado ao longo das últimas duas décadas em todas as áreas. Por último e não menos rápida e contundente alcançou o setor rural. Compreensivelmente, as principais certificações que tem impactado o setor são a gestão ambiental, a responsabilidade social e a segurança do alimento.
É sabido que qualquer certificação está ancorado em programas de melhoria e de monitoramento. Dessa forma, pode-se afirmar que em qualquer processo dessa natureza a empresa que busca e obtém a certificação também melhora o seu processo de gestão.
Isso posto, pode-se afirmar que além das potenciais vantagens mercadológicas, quando sabiamente aproveitado, o grande avanço está no modelo de gestão a ser adotado: mais sério, planejado, conferindo maior controle e monitoramento, normalmente também mais participativo, gerando mais envolvimento e compromisso. Enfim, a empresa fica melhor gerenciada.
O caso da pecuária, na relutante instalação do programa de rastreabilidade é uma mostra do posicionamento equivocado do setor. De outro, tanto a agricultura como a pecuária, não tem sabido lidar e encarar eficientemente a questão ambiental e sua certificação.
Percebe-se que dentre as raras e honrosas exceções, poucos têm se preocupado efetivamente com essa questão. A maioria tem sido reativa às exigências dos mercados ou de determinadas empresas parceiras. Implantam quase que coagidos.
Precisa-se reconhecer que o foco da questão ambiental está na gestão e não somente na certificação propriamente dita. Devemos lembrar que nesse caso, o alvo é o programa de gestão, ele é que será certificado. Portanto, se a gestão for eficiente, a certificação será obtida com mais facilidade. Se os produtores se dessem por conta disso, matariam dois coelhos numa mesma cajadada.
Isso explica porque a segunda certificação é sempre mais simples de ser obtida do que a primeira. A barreira cultural, principalmente a dos donos, foi vencida na oportunidade anterior.
Grande Natal e ótima semana.
