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Capitalismo, crise, golpe de 1964...


Amado de Olveira Filho
O Jornal A Gazeta publicou dois artigos que me chamaram a atenção por razões óbvias, mas importantes. Um deles de autoria do conhecido jornalista Silio Boccanera, que atua em Londres. O outro de autoria do não menos conhecido Carlos Chagas, que é jornalista em Brasília. Ambos escrevem em A Gazeta às segundas-feiras.
Silio Boccanera inicia seu artigo analisando a possibilidade da derrubada do sistema capitalista, em função da severa crise econômica internacional que expôs as consequências do consumismo praticado, principalmente, pelas grandes economias comprometendo severamente o futuro das demais economias, principalmente as periféricas.
Silio levou o assunto ao economista do Centro Europeu de Reforma Simon Tilford, que concluiu, o capitalismo está numa posição mais precária do que em qualquer momento, como na década de 30, quando da grande depressão. Enfatizou da necessidade de uma ação conjunta global para fazer frente à ameaça de um provável aumento da contração do mercado. Isto será um grande risco para a economia de mercado e para manutenção do sistema político, pois podem surgir pressões sociais, medidas populistas, protecionismo, etc.
Carlos Chagas, com seu artigo intitulado "2009 mais perto de 1964" compara a atual situação brasileira com os preliminares da revolução em que os militares tomaram o poder e classifica assim o governo Lula: "Aí está um governo populista e, mesmo, um pouquinho popular, mas desprezado pela classe média". Quem discorda disso?
Para Chagas o cenário é o mesmo da pré-revolução de 1964. Para ele a sociedade organizada que se veem às voltas com a elevada carga tributária está desiludida com a perda do poder aquisitivo e passa a situação de indignada, pois são sempre os mesmos a se locupletarem com as benesses que o governo oferece. Mas segundo o autor, existe também a simpatia pela pessoa do presidente, que o iguala a Jango, porém, ambos padecem pela falta de credibilidade.
Denuncia o autor que hoje como em 1964 existe um clima que revela que alguma coisa está para acontecer. Está certo ele, o governo federal não conseguirá sustentar sua imagem mesmo gastando mais de R$ 1 bilhão por ano com propaganda oficial, já que são muitas as insatisfações fomentadas por segmentos ligados ao próprio Governo.
A possibilidade da ruptura do sistema de produção capitalista mundial denunciada por Silio Bcocanera e pelo economista Simon Tilford comparando o Brasil de hoje com o de 1964, aparentemente são temas que estejam denunciando situações diferentes, porém, tratam de situações semelhantes, o poder de classes. Ou seja, se o mundo vê a possibilidade de se estabelecer um sistema socialista ou comunista, no Brasil, está difícil de manter um sistema capitalista.
De um lado os segmentos empresariais insatisfeitos com a elevada taxa de juros, não enxergam no Congresso Nacional o necessário pulso firme para fazer frente à volúpia arrecadatória do Poder Executivo, aliás, temos um Congresso Nacional fragilizado por seguidas denúncias de corrupção e não consegue desfazer das miudezas internas de lutas por interesses pessoais.
Quem poderia liderar uma reação, se degringolarem ainda mais as chamadas instituições democráticas? Segundo Chagas, ninguém! Hoje o Exército está desiludido, humilhado, sucateado. Os movimentos sindicais? Estes eu posso afirmar, não! Os laborais estão envolvidos com o poder estabelecido e os patronais envolvidos com coisas menores sempre disputando interesses de grupos que também não pretendem permitir a renovação e se possível galgar mais poder no seio de sua classe.
Concluo por afirmar, nada vai acontecer com a ordem econômica mundial. No Brasil o sistema de produção capitalista vai se adaptar onde os ricos ficarão um pouco menos ricos e a conhecida corrupção no setor público financiando o status quo do poder.
Isto somente mudará se todos aqueles que afirmam que política é para os políticos reagirem fazendo política, mesmo que em qualquer partido. Você não mudará uma situação imposta se não conviver com ela!

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