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Cada presidente um plano, cada plano...


Amado de Olveira Filho

Semana passada discutimos nesta coluna as conseqüências dos planos econômicos para o endividamento rural brasileiro. A partir desta semana discutiremos cada um deles. Nosso objetivo é que após a discussão do último plano, o Real, tenhamos discutido o suficiente para que todos que nos acompanhar nesta viagem de 22 anos ao passado, possam se manifestar a respeito da responsabilidade da União Federal na questão das dívidas atribuídas aos produtores rurais.

No primeiro ano do governo do presidente José Sarney, a inflação alcançou um patamar insuportável, ultrapassou a casa dos 225,00%. Algo precisava ser feito, não deu outra, o então ministro, já falecido, Dilson Funaro, fez uma reforma monetária cortando três zeros da nossa moeda, o cruzeiro, e a substituiu pela nova moeda, o cruzado.

Basicamente o Plano Cruzado se sustentava no congelamento de preços e salários por um ano com o estabelecimento de um "gatilho salarial" que devia disparar quando a inflação alcançasse 20%. O plano acabou com a correção monetária e estabeleceu o IPC (Índice de Preços ao Consumidor) para corrigir a poupança e as aplicações financeiras superiores a um ano.

O resultado do plano em Cuiabá pôde ser visto na avenida do CPA. Quem não se lembra do Garrafão lotado e das longas filas que se faziam diante do Terraçus para comer uma simples pizza? Foi assim em todo o Brasil, com a queda da inflação e com o aumento do poder aquisitivo da população foi dada a largada para o consumo desenfreado. Os preços dispararam e surgiram os "Fiscais do Sarney", até prisão estes fiscais fizeram.

Claro que isto não poderia dar certo, as mercadorias desapareceram dos supermercados, o ágio era praticado em todos os setores e a inflação faz a sua reestréia e volta a subir. Mas mesmo assim, o partido do governo à época ainda conseguiu se valer do cruzado e foi o grande vitorioso das eleições de 1986 nos principais Estados do país.

Passadas as eleições, chega o Plano Cruzado II e libera os preços inclusive dos aluguéis, altera a metodologia de cálculo da inflação, cai o saldo da balança comercial com redução das exportações e aumento das importações e no ano de 1987, isto reduziu drasticamente as reservas cambiais e o governo se viu na obrigação de decretar a moratória suspendendo o pagamento dos serviços da dívida externa.

De nada adiantou. Os preços dispararam, as bebidas aumentaram 100%, combustíveis mais de 60% e o aumento dos preços dos automóveis em até 80%. Desapareceram os fiscais do Sarney e a população perdeu a confiança no governo. Cai o ministro Dilson Funaro e assume o Ministério da Fazenda o ministro Luiz Carlos Bresser Pereira.

No início do Plano Cruzado a sinalização para agricultura foi extremamente otimista, pregavam uma estabilidade econômica, redução dos custos de produção com os resultados do desaparecimento da correção monetária que incidia sobre os financiamentos e ainda com o congelamento dos preços de máquinas e insumos agrícolas.

Por outro lado, o congelamento de preços seria em patamares que remunerasse todos os fatores de produção. Neste quesito, de cara os preços do leite, carne bovina e ovos frustraram os produtores rurais, culminando em curto prazo com fenômenos extremamente esquisitos, como o preço do boi magro ser maior que do boi gordo. Um absurdo!

Como nos demais setores a demanda por alimentos foi semelhante a outros setores, porém, além dos problemas triviais não preparam o setor para isto e o resultado foi a necessidade de aumento das importações. Ademais, a redução de custos não aconteceu, mesmo assim o governo obrigava a manutenção da oferta, algo impossível. Houve incentivo então para a safra seguinte, porém, nos anos subseqüentes o que se viu foi a redução do volume do crédito rural.

Para a agropecuária brasileira o Plano Cruzado significou vender produtos abaixo dos custos de produção e com possibilidades de custos crescentes. Alguma semelhança com os dias de hoje?

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