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Bases econômicas inconsistentes



Argemiro Luís Brum
O ano de 2012 termina com um dilema para o governo. O mesmo associa três componentes econômicos importantes: a balança comercial, o câmbio e os juros. Quanto à balança comercial, faltando 15 dias para encerrar oficialmente o ano, nosso saldo acumulado em 2012 está em US$ 17,99 bilhões. Muito aquém do registrado no mesmo período do ano anterior, quando o mesmo chegou a US$ 25,58 bilhões. Em outras palavras, o saldo comercial caiu praticamente 30% nesse ano. Por enquanto, nossas exportações totais estão em US$ 233,09 bilhões e as importações em US$ 215,09 bilhões. O recuo das exportações, em relação ao mesmo período de 2011, é de 2,9%, enquanto as importações cresceram 0,33%. E isso que, a partir de março passado, o Real se desvalorizou mais de 20%. Ou seja, a freada da economia mundial e a nossa falta de competitividade produtiva estão no cerne deste resultado ruim. Nesse sentido, vale destacar que na questão cambial, o Real já se desvalorizou o suficiente e mesmo acima do que seria a paridade de poder de compra, hoje entre R$ 1,95 e R$ 2,00 por dólar. Sem falar no fato de que tal desvalorização vem encarecendo os produtos importados e puxando rapidamente a inflação para cima, já que importamos de tudo, inclusive feijão, combustíveis, palito de dente etc... Assim, o governo terá que lutar para manter o câmbio nos níveis da paridade para evitar sustos inflacionários adicionais. Para tanto usará, dentre outras armas, as reservas cambiais, hoje num total confortável de US$ 378,9 bilhões. Tudo porque, como bem detectou o governo, os ganhos que os exportadores possam estar tendo com a desvalorização do Real está sendo perdido com o aumento da inflação. Não será surpresa, portanto, se o juro básico (Selic) venha novamente a subir no transcorrer de 2013, contrariando as perspectivas atuais. Pelo sim ou pelo não, o fato é que os juros ao consumidor já voltaram a subir neste final de ano, confirmando a tendência que alertávamos ainda em maio. Ou seja, não se baixa juros no grito, como vem tentando o governo desde então. Em novembro, a taxa média para pessoa física, que continuou altíssima (92,52% em perspectiva anual) cresceu 2,4 pontos percentuais em relação a outubro. Para as empresas, o juro para capital de giro, que ficou em 21,13% em perspectiva anual no mês passado, subiu exato um ponto percentual. É muita coisa para um só mês! Ao mesmo tempo, para a pessoa física, o juro anual do cheque especial e do cartão de crédito continua monumental, com respectivamente 149,59% e 192,94%. Infelizmente, dois instrumentos onde o consumidor brasileiro está mais endividado e, portanto, se inviabilizando dia após dia. Em síntese, as nossas bases para o crescimento econômico são inconsistentes.

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