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Aspectos Sociais e Ambientais da Amazônia



Newton de Lucena Costa

A metade da população mundial, cerca de 3 bilhões de habitantes, vive nos países em desenvolvimento localizados na faixa tropical. A tendência de crescimento, no milênio que se inicia, deverá promover maior pressão sobre o ambiente urbano, bem como a conversão de novas áreas para atendimento às necessidades de produção de alimentos, fibras e energia. Nesse contexto, a Amazônia com uma área de 5 milhões de km2, mais da metade do território brasileiro, com 20 milhões de habitantes, desperta a atenção por suas riquezas potenciais e desempenha um papel estratégico na percepção dos poderes que orientam os investimentos em economia globalizada. Embora a região pareça uniforme, apresenta uma série de ecossistemas bem distintos, como florestas de transição, florestas com vegetação densa, microclimas de altitude e cerrados. Para o aproveitamento sustentável desses recursos naturais dois grandes desafios devem ser levados em consideração: a biodiversidade da região e a recuperação de áreas já alteradas ou degradadas, incorporando-as ao processo de desenvolvimento. O uso sustentável das áreas para a agricultura devem ser baseados no contexto da legislação ambiental e florestal, que nas áreas de floresta é de 20% da área e nos cerrados de 65%.
No caso de áreas degradadas ou alteradas existem cerca de 60 milhões de hectares. Calcula-se que existam cerca de 600 mil famílias de pequenos produtores na região que derrubam e queimam cerca de dois hectares por ano e que os cultivam apenas por dois anos. Isto significa um desmatamento inercial de 1.200.000 ha/ano. Um hectare de floresta desmatada produz 100 t de C02. Assim, há a necessidade de serem incrementados o uso dessas áreas com tecnologias simples que permitam aos pequenos agricultores permanecerem na área por mais tempo.
A produção agropecuária na Amazônia já é uma realidade. Atualmente, existe um rebanho com mais de 35 milhões de bovinos e uma produção significativa de dendê, pimenta-do-reino, cupuaçu, açaí, guaraná, castanha-do-Brasil, madeiras nativas, frutas exóticas e grãos. Se por um lado essa agricultura obteve vários avanços, por outro ainda é significativo o baixo uso de tecnologia e a agricultura de subsistência de derruba e queima. Se dos 60 milhões de hectares de áreas antropizadas, fosse intensificada a agricultura em 40% destas, poderiam ser produzidas mais de 60 milhões de toneladas de grãos, sem a necessidade de novos desmatamentos.
Trabalhos realizados pela Embrapa constatam que o uso de recursos do bioma através de agronegócios sustentáveis com a marca Amazônia constitui fator de competitividade na oferta dos produtos amazônicos nos mercados globais. Na linha ambiental foi lançado recentemente o Programa de Desenvolvimento Sócio-Econômico Ambiental da Produção Familiar Rural da Amazônia (PROAMBIENTE), o qual incentiva o uso sustentável dos recursos naturais, priorizando o emprego de sistemas de produção que incorporem tecnologias mitigadoras de impactos ambientais, o preparo da terra sem uso do fogo, a utilização de áreas alteradas/degradadas através da implantação de sistemas alternativos de uso da terra, o uso de sistemas agropastoris, sistemas agroflorestais, agroextrativismo e o extrativismo florestal madeireiro e não madeireiro, práticas indígenas e tradicionais e a verticalização da produção familiar rural. Para a Embrapa, com o PROAMBIENTE, o espaço rural amazônica adquire um novo papel perante a sociedade, pois seus atores sociais deixam de ser fornecedores de produtos primários, sendo valorizado o caráter multifuncional da produção econômica associada à inclusão social e conservação do meio ambiente. 

Newton de Lucena Costa - Chefe Geral da Embrapa Amapá

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