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As vantagens das alianças estratégicas


Eleri Hamer

Alguns produtores brasileiros têm dado mostras de que possuem uma excelente capacidade de estabelecer alianças e de pelo menos nesse quesito instituir uma gestão profissional em suas atividades.

Todos sabem que a profissionalização ainda necessita de forje na maioria das propriedades rurais brasileiras. Contudo, os médios e grandes produtores de soja, especialmente no Mato Grosso, tem conseguido criar arranjos estratégicos muito interessantes nos diferentes níveis, o que permite a sua manutenção na atividade, ainda que com sérios equívocos nas demais áreas da gestão empresarial.

Mesmo para aqueles mais avessos aos processos de cooperação essas ações colaborativas de alguns tem trazido benefícios para todos os produtores, o que em última análise tem sido um grande mérito para o setor.

Vários são os exemplos que mudaram o cenário do processo produtivo no centro-oeste, com influências no Brasil e Mundo, como os casos da AMPA (Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão), Aprosmat, Fundação Mato Grosso, Unisoja e Aprosoja, além de exercícios regionais como o Grupo Guará, com fusões e até joint ventures como o caso do Grupo Garça Branca. Este último constituído especificamente para melhorar o market share de determinado grupo de produtores de sementes de soja.

Infelizmente, em outras áreas de produção do agronegócio, com raras exceções, são poucos os grandes feitos colaborativos à favor do produtor que tenham influenciado o processo concorrencial nacional, que dirá internacional. Fatos dessa natureza devem servir de alerta para essas cadeias, especialmente para os produtores, fato que poderá ser o divisor de águas entre os competitivos e aqueles que terão sérias dificuldades na atividade.

 O último exemplo dessa pujança foi a criação da International Soybean Growers Alliance (ISGA), ou Aliança Internacional de Produtores de Soja, criada em 23/08/2007, em Cuiabá, durante a Bienal da Agricultura.

Primeiro aspecto relevante a se considerar em torno das alianças é o fato de que elas ‘são eternas enquanto duram’, como dizia nosso poeta Vinícius, ou enquanto for interessante para os agentes das alianças.

Desse modo, harmonizar interesses deve ser o primeiro passo para qualquer processo de aliança estratégica. A ISGA, que vem sendo gestada desde 2005, conseguiu fazer esse feito ao reunir em torno dos interesses comerciais no mercado indiano, os produtores de soja brasileiros, argentinos e americanos.

Esta cooperação é particularmente importante a medida que aproximadamente 80% da produção mundial de soja é oriunda deste grupo, o que coloca de antemão um enorme poder de negociação nas mãos dos produtores frente aos demais agentes da cadeia, como as tradings e agroindústrias internacionalizadas.

As ações dessa aliança devem se concentrar principalmente em torno da socialização de informações e conhecimentos tecnológicos e paulatinamente contribuir na articulação de interesses e ações por melhores condições de mercado.

De um modo geral, as alianças, podem acontecer em diferentes níveis. Na prática existe um certo consenso de que há necessidade de satisfazer pelo menos três aspectos para que uma aliança estratégica se consolide:

(i) que duas ou mais empresas ao se unirem para cumprir um conjunto de metas combinadas permaneçam independentes depois da formação da aliança;

(ii) as empresas ou organizações parceiras devem compartilhar dos benefícios da aliança e ao mesmo tempo controlar o desempenho das tarefas especificadas;

(iii) as empresas parceiras devem contribuir continuamente em uma ou mais áreas estratégicas cruciais para atender os objetivos da própria aliança.

Embora as alianças estratégicas sempre tenham apresentado muito mais aspectos positivos do que negativos, existe um risco velado na sua configuração: de que o aliado de hoje pode novamente se tornar seu concorrente direto amanhã e reforçado pelo conhecimento de sua tecnologia, de seus mercados e de sua maneira de operar.

Por isso, novamente é fundamental que a gestão seja conduzida com profissionalismo.

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