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Analisando as fake News do bem


Sandro Schmitz dos Santos

Nas últimas semanas temos visto uma disputa sobre a criação, ou não, de lei que, supostamente, visa controlar as denominadas fake News. Contudo, a grande questão a ser colocada é: a quem é dirigida a referida regulamentação? Essa pergunta é pertinente para sabermos como irá ser definida fake News ou iremos ter as fake News do bem? Partindo dessa premissa decidi escrever esse 2022 artigo analisando algumas das fake legitimadas por certo grupo político.

Entre 11 e 14 de maio desse ano ocorreu em São Paulo a Feira Nacional da Reforma Agrária que é organizada pelo MST. Como esperado a feira foi visitada por diversos políticos e artistas que apoiam esse movimento, e, como esperado vimos muitos discursos louvando o movimento. Todavia, em dado momento um artista televisivo concedeu uma entrevista em que disse: “Invasores são aqueles que invadem as terras dos povos originários. São aqueles que vão detonar a nossa natureza, que matam nossos indígenas. O que o MST faz é ocupar terra improdutiva”. Não contente com esse ataque o referido ator ainda disse: “o MST é o maior produtor rural do país”.

Além da repetição de uma série de falácias em relação ao agronegócio, pois quem invade e desmata são criminosos ambientais, visto que o verdadeiro agronegócio, muito pelo contrário, segue regras rígidas em relação a propriedade e preservação do meio ambiente. Contudo, a alegar que o MST é o maior produtor rural do país, pois a produção total de arroz do movimento não atende a um dia de consumo do produto em nosso país.

Em 2022 a produção total de arroz pelo MST foi de 16 mil toneladas/ano, mas o consumo de arroz no Brasil é de 33 mil toneladas/dia. O agronegócio “malvado”, de acordo com esses setores, é responsável pela produção que atende a população brasileira e o consumo anual de arroz em nosso país corresponde a 46% de todo arroz produzido pelo nosso agronegócio anualmente,

No dia 11 de maio o Presidente Lula em um discurso falou: “E tem a famosa feira da agricultura lá em Ribeirão Preto, que alguns fascistas, alguns negacionistas não quiseram que ele fosse à feira. Desconvidaram o meu ministro”. A feira a qual o Presidente em exercício se refere é a Agrishow, uma das mais importantes feiras do agronegócio do mundo, que, diferente do dito, não desconvidou o Ministro, mas pediu que o mesmo fosse em outro dia a feira, pois o Presidente Bolsonaro iria a abertura e a organização desejava evitar qualquer constrangimento.

A realidade, portanto, é que a feira preferiu preservar ambas as partes, evitar constrangimentos, e, principalmente evitar um desnecessário confronto político. Mas, foi ainda mais longe, pois acusou setores do agro de ser fascistas e negacionistas. Novamente, o Presidente Lula deixa evidente que um produtor rural de fato sequer tem tempo para defender ideologias políticas em específico, pois diferente do que muitos pensam a produção do agro não surge nas prateleiras do supermercado.

Não há dúvida que o agronegócio apoia quem lhe apoia, pois lealdade é uma característica do produtor rural. Além disso, o agronegócio não é negacionista, antes pelo contrário, pois verifica os fatos científicos e os adequa à suas necessidades, pois negar a realidade lhe custa caro, sempre.

Da mesma maneira, o agro se preocupa com o meio ambiente, tendo em vista que caso sua propriedade sofra danos ambientais irá afetar diretamente sua produtividade. Agora, se a vaidade de seu ministro o impediu de visitar a feira em outro dia, isso não é culpa da Agrishow. Apesar disso, a narrativa é útil e se justifica para o político, pois mais que a verdade é necessário alimentar sua militância com fatos, verdadeiros ou não.

Em viagem a China o Presidente da APEX órgão responsável pela promoção de exportações no Brasil disse o seguinte: “Quero dar números bem objetivos. Falei que 84 milhões de hectares foram desmatados. Para que essas áreas estão sendo usadas? 67 milhões de hectares para a pecuária; 6 milhões para agricultura de grãos. E 15 milhões (são) de floresta secundária”. É interessante o fato de o governo nunca se preocupar em estudar sobre os assuntos que irão falar, mas sigamos.

Após a Ministra do Meio Ambiente inflar o número de pessoas com fome no país quando afirmou em 16 de janeiro que 120 milhões passam fome, sendo que, de acordo com a ONU seriam 15 milhões e a Rede Penssan seriam 33 milhões. Óbvio que esse número deve ser enfrentado, mas não irá ser mentindo sobre os números que algo irá ser feito. No caso do Presidente da APEX ao afirmar que “84 milhões de hectares foram desmatados” simplesmente esqueceu de verificar a área plantada no país que é de 73,7 milhões de hectares no ano de 2022 de acordo com a CONAB, instituição governamental.

Curioso também que a sequência de sua fala simplesmente desconsidera dados da EMBRAPA sobre o agronegócio brasileiro. De acordo com essa instituição 66.3% da área do Brasil é protegida e preservada pelo agronegócio, e, 30.2% é a aérea efetivamente utilizada pelo agronegócio em seu mister, e, considerando todos os setores do agro, seja a plantação ou a pecuária. Devemos observar que ambos os dados são de instituições governamentais.

Em razão do que foi dito é urgente saber se o governo pretende ter algum controle em relação às suas fake News ou a lei só irá ser aplicável a seus opositores? Adicionalmente, é preciso saber se o governo pretende fazer alguma espécie de nota apontando seus “erros” em suas falas. Caso não pretenda fazer, irá ficar evidente que temos duas categorias de fake News, a saber: as fake genéricas, e, as fake do bem, chancelada pelo governo. Infelizmente, o agronegócio irá permanecer sendo o alvo preferencial de alguns setores.

 

 

 

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