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Algumas lições da crise do petróleo brasileiro



Argemiro Luís Brum
Por falta de visão e por incapacidade política de ajustar a economia nacional a partir de reformas estruturais, o governo acabou usando as empresas estatais para medidas de curto prazo, buscando assim segurar um mínimo de crescimento econômico nestes dois últimos anos. A herança maldita recebida do governo Lula, não só em escândalos de corrupção e uso da máquina pública em benefícios pessoais, mas igualmente na área econômica, coloca o atual governo de joelhos neste final de 2012. Assim, o tsunami da crise econômico-financeira mundial, iniciado em 2007/08, está a cada dia nos corroendo mais, sem perspectivas de grandes melhoras, salvo se o cenário internacional conseguir reverter o quadro existente. E, assim mesmo, os respingos favoráveis sobre o Brasil não deverão ser muitos, pois não realizamos o dever de casa. Nesse contexto, por exemplo, o governo brasileiro, infelizmente, conseguiu causar o estrago que se temia na área petrolífera. Após anunciarmos em fanfarra a descoberta de jazidas de petróleo (o Pré-Sal) que nos dariam não só, e finalmente, a autossuficiência, mas também nos colocariam como quinto exportador mundial, a Nação descobre o óbvio: o país, e muito menos o Estado brasileiro, não tem recursos para retirar esse petróleo do fundo do mar. Será preciso parceria com o setor privado multinacional, pois a Petrobrás, sozinha, não tem fôlego suficiente. Ora, por baixo, o custo da exploração do Pré-Sal ultrapassa, hoje, a US$ 700 bilhões (três vezes nossa dívida externa). Para completar o cenário, nos últimos três anos o governo passou a usar a Petrobrás, assim como outras estatais, para subsidiar a economia, buscando aumentar o seu crescimento, combalido pela crise externa e interna, sem pressionar muito a inflação. Desta forma, a Petrobrás deixou de se capitalizar, colocando em risco seus futuros investimentos, assim como passou a acusar prejuízos significativos. O típico gerenciamento incompetente, muito comum no serviço público.
Algumas lições da crise do petróleo brasileiro (II)
Resultado: os preços dos combustíveis nacionais ficaram estáveis, por um bom tempo, para a alegria dos consumidores menos esclarecidos, enquanto acelerávamos o consumo de veículos de todas as naturezas. O consumo cresceu mais do que a combalida Petrobrás podia produzir, nas circunstâncias que a deixaram, nos levando a importar não só petróleo em maior quantidade, mas também gasolina, diesel e até etanol. A defasagem entre os altos preços internacionais do petróleo e derivados importados e os preços finais praticados no país, acabaram por completar o quadro de derrocada de nossa estatal petrolífera. Desta forma, terminamos o ano com a pressão da presidência da Petrobrás para um aumento de pelo menos 15% nos combustíveis no país, a partir do primeiro trimestre do próximo ano, com as distribuidoras já aumentando antecipadamente tais preços em muitos locais do país (já encontramos reajustes de no mínimo 5% na prática), fato que no final elevará o reajuste para níveis ainda muito superiores ao solicitado, penalizando muito mais os consumidores finais do que se tivéssemos aumentado os preços no momento devido. Paralelamente, a Petrobrás se desvalorizou aos olhos da economia mundial e, agora, a agência de risco Moody´s rebaixa a classificação de nossa estatal, no que diz respeito a sua dívida em moeda nacional e internacional, de estável para negativa. E a justificativa para tal movimento não poderia ser mais esclarecedora do descalabro do gerenciamento público a que estamos submetidos: “...a Petrobrás enfrenta crescentes níveis de dívida, o que aumenta a pressão sobre os custos, os riscos de execução dos projetos, e compromete as metas de produção. Importações crescentes e políticas de preços do governo complicam ainda mais esses desafios...”. O governo conseguiu, com tudo isso, um crescimento pífio do PIB, uma inflação sob controle, porém, em alta, com potencial para disparar em 2013 a partir dos ajustes necessários no setor de combustíveis, e quase “quebrou” a Petrobrás. Por muito menos, no setor privado os responsáveis seriam todos demitidos de suas funções. Aqui, no setor público, não só as pessoas são mantidas, mas as pesquisas de opinião (?) reelegem tais gestores, pois a maioria da população, por absoluta falta de formação (não é por nada que nossa educação em geral e pública em particular tem sido um caos), consegue olhar apenas para o curtíssimo prazo, comprometendo seu futuro sem se dar conta.

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