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Administração rural – informatizar ou afiar o machado?


Eleri Hamer

Uma das verdades mais cristalinas do agronegócio está no reconhecimento que a administração rural conquistou ao longo dos últimos 10 anos. Esse prestígio se deve principalmente às crises cíclicas que tem se instaurado ora sobre uma área ora sobre outra, ou como agora, sobre várias atividades ao mesmo tempo.

Melhoramos na administração da produção, as inovações são implantadas cada vez mais rápidas e melhoramos também na importância dada às ferramentas de gestão. Já não se ri mais quando algum produtor se preocupa em registrar as horas/máquinas, assume a depreciação como custo ou controla as operações de comercialização, como se fazia na década de 80. O Jeca-tatu deu lugar ao produtor rural e em alguns casos ao empresário rural, seja ele patronal ou familiar, da agricultura ou da pecuária.

Infelizmente porém, ainda estamos longe do que realmente deveria ser o uso efetivo.  Embora muitos produtores crêem no contrário, na maioria dos casos reconhece-se a importância, mas não a necessidade. Percebe-se que fica bonito e é útil na empresa alheia, mas dá muito trabalho na nossa. A maior parte dos empresários está empenhada em lenhar, mas não encontram tempo para afiar o machado.

O processo de evolução vem ocorrendo concomitantemente nos diferentes setores, porém com o advento da informática muitos produtores pensaram que seria fácil fazer essa adaptação do setor urbano-industrial para os empreendimentos rurais e o pulo de gestão seria enorme.

Enfrentaram dois grandes problemas: (i) a falta de softwares preparados e capazes de dar respostas, tanto apropriadas quanto rápidas, aos anseios da administração rural; (ii) o despreparo dos funcionários e principalmente deles mesmos para a implantação dos sistemas de gestão.

Muito mais do que ceder espaço para a informática, é necessário adaptar o modo de gestão, principalmente no que diz respeito a importância dos colaboradores (antes chamados de empregados), a relevância da coleta de dados e o registro das operações.

O modelo de gestão mais participativo, com relacionamentos mais francos e descentralizados são necessários para que os dados inseridos nos sistemas reflitam verdadeiramente a situação no processo de produção e possam ser processados eficientemente e as tomadas de decisão baseadas nelas sejam eficazes e efetivas. Por isso, muitos produtores pensando que a informática faria tudo, se decepcionaram e abandonaram o processo.

A informática é uma ferramenta, mas o fundamental consiste na capacidade de aprendizagem de uso da equipe que reunirá os dados, controlará o processamento e por fim do produtor que utilizará as informações para a tomada de decisão diária. O essencial está na capacitação, por isso não tem início, meio e fim. É constante e contínua. Não pára.

Algumas pesquisas de diversas software-houses (empresas de informática que produzem especificamente programas e auxiliam as empresas na implantação) nos dão conta de que em média menos de 10% dos softwares comercializados para a área rural se mantém efetivamente em uso. A ampla maioria abandona o seu uso sem conseguir extrair dele o retorno potencial.

Vale ressaltar que essa procura pelo uso da informática se deu na minoria dos produtores, o que pode explicar de certo modo o baixo interesse das software-houses no setor rural. Percebe-se que no agronegócio a dedicação dessas empresas é de no máximo (com raras e honrosas exceções) adaptar os programas oriundos do setor agroindustrial para as propriedades rurais. Bons programas com módulos totalmente integrados essencialmente planejados para as propriedades rurais ainda são uma raridade.

Na prática do agronegócio, quem investe na informatização e qualificação do processo de gestão são os elos agroindustriais, comerciais e de distribuição. Infelizmente o produtor rural se preocupa mais com a produção e pouco efetivamente com a gestão.

Por isso, aqueles que se interessam em avançar nessa área encontram poucos softwares e também reduzido número de bibliografias especializadas em administração rural.

Obrigado pela leitura e até semana que vem.

Eleri Hamer é Mestre em Agronegócios, Professor de Graduação e Pós-Graduação, desenvolve Palestras, Educação Executiva e Consultorias em Gestão Empresarial e Agronegócio. Home-page: www.elerihamer.com.br E-mail: [email protected]

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