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A vaca é a culpada?


Amado de Olveira Filho

A pecuária tem importância fundamental na economia brasileira desde os primórdios de nossa colonização. Vários ciclos econômicos passaram, mas a atividade pecuária sempre esteve presente, oferecendo alimento farto para a crescente população. Para o Estado de Mato Grosso não há como olvidar, a maioria da população sabe disso. Mesmo antes de chegar a energia elétrica e as rodovias, as charqueadas cumpriam o seu papel. Os batelões zingavam os rios, formando nas barrancas um intenso comércio.
Os números, normalmente não publicados, dão conta da importância da pecuária mato-grossense e brasileira. No decorrer do ano de 2008 foram exportados aproximadamente US$ 700 milhões pelo setor, mesmo considerando que 80% da carne mato-grossense é dirigida ao mercdo interno. Já em nível nacional, para o ano de 2009 o Conselho Nacional Permanente da Pecuária de Corte estima exportações de tão somente 2 milhões de toneladas, enquanto que o consumo interno deverá ultrapassar a casa das 7,2 milhões de toneladas.
Em tempos de Copenhague, no decorrer da COP-15, nossa velha e necessária pecuária está vivendo dias de grande desconforto. Está sendo debitado à pecuária brasileira o percentual de 50% das emissões de gases de efeito estufa. Acadêmicos, ambientalistas e outros “entendidos” no assunto defendem este número com paixões e pregam uma inevitável catástrofe por conta da ruminação de nossas vacas e bois.
Levam o problema ainda mais longe, oferecem receitas de mitigação das emissões pela pecuária. Pregam que, com a integração lavoura pecuária, recuperação de pastagens, etc, os problemas serão minimizados. Enquanto isso despenca as exportações brasileiras dessa importante commodity. Não sei com precisão o que significa “desserviço prestado ao Estado de Mato Grosso”, porém, neste caso, não há como negar, demonizar a pecuária parece ser um caso bem característico dessa façanha, para o Estado e o País.
Estes mesmos “entendidos” esquecem que o setor pecuário realizou um esforço hercúleo e conseguiu reduzir a idade de abate nesta década, de cinco para três anos. Quantos milhões de toneladas de gás metano deixaram de ser emitidas? Claro, assim como a melhoria na qualidade da carne ofertada, esta informação parece não ser importante aos críticos. Nesta guerra desigual de informações vimos nosso boi, que já foi verde por conta da vaca louca, se transformar no boi pirata por obra do Ministro do Meio Ambiente e agora, guardião, por decisão do Ministro da Agricultura e Pecuária.
Mas, nem tudo está perdido. Esta semana a imprensa divulgou uma posição firme do Prof. Paulo Artaxo do Departamento de Física da USP e também membro do IPCC. Segundo ele, a atividade da pecuária emite não mais que 17% e a diferença para se chegar aos 50% referem-se aos desmatamentos na Amazônia que, erroneamente são computados totalmente para a pecuária. Portanto, estão errados todos os entendidos no assunto. Mas, esta é uma questão que não pode ser deixada de lado. Precisamos saber exatamente o quanto emitimos na criação de gado bovino para que possamos mitigar tais emissões.
E a conta de tudo isto? Tenho segurança em afirmar que se frustrarão aqueles que foram a Dinamarca com o objetivo de garantir recursos financeiros. Não há dinheiro disponível no mundo para a conta que apresentam. Certamente que os cenários internacionais indicam às Nações muita cautela na definição de valores para um fundo onde “um bilhão de dólares não faz cosquinha”. Assim a definição das disponibilidades financeiras para “salvar o planeta” ficará para 2010.
Enquanto isto não ocorre, uma boa medida seria a redução drástica do rebanho brasileiro, até mesmo, em função do principio da precaução. Precisamos fazer conta dos custos para recuperação de pastagens que são extremamente elevados, mas se reduzem com a diminuição do rebanho.
Por outro lado é muito bom que os críticos da pecuária, busquem novas ofertas de proteínas, afinal, enquanto você lia este artigo nasceram 819 crianças no mundo. Portanto, a culpa não é da vaca!

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